domingo, 31 de julho de 2011

Jesus é o Messias?

Era este crucificado (= maldito de Deus!, conforme Dt 21,23) o messias? À questão do Batista vem a resposta sobre a prática de Jesus e uma citação do servo sofredor de Isaías 42,1-4 (cf. Mt 12,18-21). É certamente estranha a frase de Mt 11,6: feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim ! O movimento batista esperava um messias severo que invocaria a cólera divina sobre toda a maldade existente no mundo. A imagem do machado junto à árvore (Mt 3,10) é uma demonstração de sua impaciência. Jesus não é assim. Há diferença entre o possuído do demônio e o comilão (Mt 11,18-19) Não adianta querer arrancar o mal. O risco de ir junto o bem é muito grande (Temos certeza de saber identificar à primeira vista o que é do lado do bem ou do lado do mal?).A parábola do joio e do trigo, própria de Mateus, aponta para isto. Jesus é bem diferente desta severidade batista (cf. Mt 11,18-19). Sua convivência com as pessoas, as mais excluídas, (amigo de publicanos e pecadores Mt 11,19), demonstra mais misericórdia e amor do que juízo severo. Não é em vão que multidões o acompanham por dias seguidos. Ele os compreende e acolhe a todos. Aliás, Ele mesmo é um excluído.
Para os fariseus o messias viria com poder, como um rei. É mesmo? NÃO!! Sobre o Messias, Jesus tem uma opinião que ele quer propor, pois toma a iniciativa na questão: Mt 22,41-46. Jesus faz um arrazoado para mostrar que o messias não é descendente de Davi. Mas então vem o argumento da genealogia Mt 1,1-19: Percebe-se aí que Jesus não é, propriamente falando, descendente carnal de Davi. Também nos perguntamos sobre a presença de mulheres na genealogia. Tamar e Raab são prostitutas. Hitita é adúltera. Rute é estrangeira como todas elas. E MARIA? Está fora da lei (cf. Mt 1,18). A genealogia aponta para o mundo dos excluídos. Mt 21,1-11 é a descrição da entrada em Jerusalém. Quando já estavam dentro os moradores de Jerusalém perguntam o motivo de tal alvoroço. Não tinham tido notícias da entrada senão quando já estava dentro, este “profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia”. Esta precisão “Nazaré da Galiléia” não soa como elogio. Nazaré desprezada e Galiléia, distrito dos gentios, não recomendam ninguém em Jerusalém. Há algo estranho em Mt 21,7: (senta-se sobre os dois?). Há também algo estranho que o povo o reconheça Filho de Davi nesta passagem.  (o que fazer com os textos proféticos: Is 9,5-6; 11,1s; Jr 23,5; 30,9; 33,15-17; Ez 34,23-24; 37,24; Os 3,5; Am 5,11?). Ele é compreendido como o servo sofredor. Este é o verdadeiro messias.
É bom que a gente também se pergunte se Jesus de Nazaré não é escândalo para a gente! (Mt 11,6 Evidentemente se a gente se colocou toda a vida na perspectiva de poder, a atitude de Jesus de Nazaré soa tão estranha! A busca de sucesso pode nos enganar em nosso trabalho pastoral. As três tentações básicas da vida atingiram o próprio Jesus que estava no deserto (lugar da habitação de Deus e de seu oponente: satanás) para um discernimento. O pior é que às vezes nós mesmos somos oponentes de Deus, de Jesus Cristo. Se soubéssemos com clareza talvez não fossemos oponentes de Jesus. Se até Pedro foi chamado de satanás...Só depois de vencer as tentações houve uma clareza de objetivos em sua vida. Vai para a periferia do país, a Galiléia das nações, ser amigo dos publicanos e pecadores. Aceita convite de todo mundo. (Vai para a casa de fariseus? Mateus omite o que aparece em Marcos e Lucas sobre amizade com fariseus.) Mas é comilão e beberrão! (Mt 11,19). Um messias servidor que luta por vida digna para todos. Que sente enorme compaixão por seu povo. Mas não é reconhecido por aqueles que mais “deveriam” entender de Deus: Os moradores da cidade santa. Estes estão “por fora”. Chegam a perguntar o motivo de todo alvoroço que estava acontecendo com o profeta de Nazaré. Nós, padres, somos especialistas de Deus? Entendemos muito de Jesus Cristo? Somos de seus íntimos? Gastamos tempo em papos bons com Ele? Procuramos Jesus onde Ele poderia estar? Normalmente quando precisamos encontrar Jesus vamos até o sacrário. Está bem! Quantas vezes buscamos o irmão mais pobre e humilde para conversar com Jesus?
Será que Judas não sentiu um certo desespero com Jesus que não tomava nunca decisão de tomar conta, duma vez por todas, de todas aquelas falcatruas e injustiças que faziam o povo sofrer tanto assim? Na verdade o que conseguiu foi vender o mestre como escravo (trinta moedas de prata). Jesus é o Messias mas no modelo de Deus que nunca forçou ninguém aderir mas sempre respeitou a liberdade.  Os seguidores deste messias sejam como ele: servidores (Mt 20,26-28).
Pe. José Bonifácio Schmidt

sábado, 30 de julho de 2011

Jesus, centro divisor

Por curiosidade (ou por apelo do Espírito?) procurei colocar canhestramente as frases que concluem as perícopes da parte central do Evangelho de Mateus. Este não fica debruçado sobre os problemas e se lamentando. Aponta logo soluções que em sua fé no Senhor Ressuscitado, presente na comunidade, encontra. Todas elas, nem que seja indiretamente, apontam para Jesus.  Ele é o centro divisor.
Vejamos :
1.Mt 11,6: Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim;
2.Mt.11,15: Quem tem ouvidos, ouça!.
3.Mt 11,19: Mas a sabedoria de Deus foi legitimada com as suas obras.
4.Mt 11,24: no dia do juízo Sodoma será tratada menos severamente que tu.
5.Mt 11,26: Sim, Pai, assim é que tu o quiseste na tua benevolência.
6.Mt 11,27: ... e aquele a quem o Filho quiser revelar.
7.Mt 11,30: Porque a minha carga é suave e o meu fardo é leve.
8.Mt 12,8: Portanto, o Filho do homem é senhor do sábado.
9.Mt 12,14: Os fariseus saíram e fizeram um plano para matar Jesus.
10.Mt 12,21: Nele todos os povos colocarão a sua esperança.
11.Mt 12,30 Quem não está comigo está contra mim, e quem não recolhe comigo, espalha.
Mt 12,32: Mas quem disser algo contra o Espírito Santo, nunca será perdoado
12.Mt 12,37 Porque você será justificado por suas próprias palavras, e será condenado por suas próprias palavras. 
13.Mt 12,42: Aqui está alguém maior que Salomão.
14.Mt 12,43: A mesma coisa acontecerá também com esta geração perversa.
15.Mt 12,50: Porque quem quer que faça a vontade do meu Pai celeste este é meu irmão, minha irmã, minha mãe.
16.Mt 13,3:Quem tem ouvidos,ouça!
17Mt 13,17: muitos profetas e muitos santos desejaram ver o que vocês estão vendo e não puderam ver...).
18.Mt 13,23: ... alguns cem, alguns sessenta, outros trinta.
19. Mt 13,30: Recolham o trigo no meu celeiro.
20.Mt 13,32: ... tão grande que até os pássaros do céu vêm e fazem ninhos em seus ramos..
21Mt 13,33: ...até que tudo fique fermentado.
22.Mt 13,35: ...revelarei coisas escondidas desde a criação do mundo.
23.Mt 13,43: Quem tem ouvidos, ouça.
24.Mt 13,46: .. vende tudo o que tem e a compra.
24Mt 13,50: e os jogarão na fornalha ardente. Aí eles vão chorar e ranger os dentes!.
25Mt 13,52: ... tira do seu tesouro coisas novas e velhas.
Muitas palavras aludem à possibilidade de revelação especial. Profetas, acostumados a revelação, gostariam de participar deste momento privilegiado. Mas para poder compreender só quem estiver disposto a escutar o que Deus tem a dizer. Ele ajuda a tirar do tesouro da escritura “coisas novas e velhas”. E se Ele começar a dizer certas loucuras? Pois não está nada fácil aceitar que Jesus tenha sido o messias esperado. Não é somente uma frase de efeito a bem aventurança: “Feliz quem não se escandaliza por causa de mim”. Os irmãos judeus lançam constantemente o desafio pelas palavras do Dt 21,23. Jesus foi um taumaturgo (fez algumas coisas maravilhosas). Mas havia outros taumaturgos naquele tempo! Além disto, a comunidade precisa se tornar discípula do Reino para ter acesso aos segredos do Pai. Eu, discípulo de Jesus de Nazaré, procuro encontrar nas escrituras apoio e luz para o meu trabalho pastoral? Não somente para justificar minhas idéias mas acolher a vontade do Pai que está nos céus? Existirá em minha comunidade ou até em mim certo torpor?. É bom que digamos mais uma vez com muita clareza: Estou do lado de Jesus. Aquela frase de Jesus pode até ser um alerta para que cada um de nós possa dizer mais uma vez que Jesus pode contar com a gente : “Quem não está comigo está contra mim...” (Mt 12,30). Pode um padre, um catequista, um líder cristão ser contra Jesus?
Pe. José Bonifácio Schmidt

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Evangelho de Mateus

É chamado o evangelho eclesiológico porque se volta para a comunidade e parte de muitos problemas da comunidade. Normalmente é aceito que se divida o evangelho em sete partes, tendo como destaque na estrutura os cinco discursos de Jesus (que lembrariam os cinco livros do Pentateuco). Se é verdade, e não vem ao caso discutir aqui, que a estrutura é quiástica (conforme “Ele está no meio de nós” p 11= “O diagrama de representação pode ser mais ou menos assim: A B C D C’ B’A’”, então o terceiro livrinho é o cerne do evangelho. Se trata dos capítulos 11,1 a 13,52. Aqui se ressalta a situação de conflito em que vive a comunidade. Eram conflitos de toda ordem. “Esta Igreja vivia a crise total. Era uma crise política diante do império romano. O império tinha vencido o povo judeu, tendo destruído o templo e a capital, Jerusalém. Ao mesmo tempo o império tinha vencido suas crises internas e vivia um período de esplendor. A crise era também cultural. A cultura greco-romana, chamada de helenismo, ocupava todos os espaços e seus seguidores consideravam qualquer proposta cultural diferente como barbarismo. A crise era também religiosa, já que as diferenças entre judeus e cristãos chegaram ao ponto de ruptura. Viver a fé em Cristo passou a ser considerado um crime contra o Estado romano. Entre os anos de 95-96 o imperador Domiciano lança a segunda perseguição. Roma passa a ser descrita como a nova Babilônia, embriagada pelo sangue dos mártires” (Tua Palavra é vida, vol. 5 p 132). “Dúvidas, incompreensões e hostilidades ocupam os cc.11-13. Desconcertado pela atitude de Jesus, o Batista manda uma delegação de discípulos para exprimir-lhe sua perplexidade (11,2-3). Os judeus refutam o precursor e o messias (11,16-19). As cidades setentrionais do lago da Galiléia não acolhem o apelo à conversão (11,20-24). Os fariseus chegam a fazer um projeto de violenta supressão (12,14). A multidão não compreende (13,13).Os nazarenos mostram-se desconfiados e incrédulos (13,53-58).” (Barbaglio, p 47).
O Batista descrito no evangelho de Mateus é de uma impaciência escatológica muito grande: “o machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não der bons frutos, será cortada e lançada ao fogo (Mt 3,10). Este Jesus não deve ser o messias que João gostaria de ver agindo. Ele não está tomando nenhuma iniciativa significativa. Os batistas do tempo de Mateus também devem estar provocando os cristãos com o tipo de messias que Jesus era (um fracassado total, morto numa cruz!) Os irmãos de raça haviam feito um concílio em Jamnia (para outros Jabne) depois da destruição de Jerusalém (depois de 70 dC.) e naquele “concílio” acrescentaram na sua oração da manhã diária uma 19ª “bênção” contra os hereges. São considerados hereges todos os seguidores de Jesus. Em Jamnia estabelecem que a única bíblia a ser seguida é o texto hebraico. Os cristãos estavam acostumados com a LXX. Com a exclusão oficial do judaísmo acabavam para os cristãos os privilégios concedidos ao povo judeu. Isto significava prisão sumária toda vez que não fossem queimar incenso em honra ao Senhor, o Imperador. Aliás, a suspeita sobre os cristãos da parte do império era grande: eles proclamavam um outro que não era o Imperador como seu Senhor, o Kyrios . A situação não estava nada fácil para a comunidade dos cristãos. Havia além disto, certo torpor na própria comunidade. As testemunhas já haviam morrido. Não há mais como apelar para elas. O retorno de Jesus, previsto por muitos como “prá já” (Mt 16,28) não aconteceu! Que decepção. E será que ainda vai acontecer? O primeiro ardor não se encontra mais, pois as dificuldades aumentaram muito. Agora, aquele entusiasmo inicial parece ter sido um pouco pueril (Mt 11,16-17). Que vergonha! Não fomos suficientemente prudentes? A pessoa de Jesus suscitava ainda muitas perguntas. Não era nada fácil ter que descobrir através de re leituras da Escritura o sentido de Jesus. A confusão em torno de Jesus ainda era grande. Mateus reconhece: Jesus é o grande divisor . Em nosso próximo encontro vamos olhar com alegria para esta constatação de Mateus. É preciso olhar freqüentemente para Jesus com olhos novos na situação nova para entender que ele está no meio de nós (Mt 13,52). Ele é de fato o Emanuel Deus conosco!! (Mt 28,20).  Quais são hoje os grandes problemas de nossas comunidades que nós não estamos conseguindo olhar de frente porque talvez tenhamos medo? Quais os direcionamentos que nossas comunidades tomaram? Só se reúne para a oração? O estímulo mútuo para prosseguir no caminho ainda acontece? Deus nos dê o seu Espírito para que possamos discernir todas as situações .
Pe. José Bonifácio Schmidt

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Quem é Mateus?

O Evangelho é atribuído a um apóstolo mencionado em Mt 9,9;10,3; Mc 3,18; Lc 6,15; At 1,13. É a forma de dar autoridade apostólica a um escrito que, por análise interna, não pode ter origem apostólica. “Na realidade estamos às voltas com um anônimo da segunda geração cristã” (Barbaglio, p. 39). A pseudonímia era muito comum na época (é a atribuição do escrito a alguém de renome para lhe dar autoridade). O autor manifesta um apego à tradição judaica (Mt 5,18s;24,20). Continua privilegiando o povo de Israel (Mt 10,5s;15,24). Pápias, bispo de Hierápolis, Ásia Menor, reconhece a cultura hebraica (ebraidi dialektw) em Mateus. O Evangelho, porém, não é tradução do aramaico pois foi elaborado em grego. Se foi atribuído a um apóstolo porque é atribuído a Mateus e não a Pedro a quem é dado tanto realce no evangelho?
Observação: é o evangelho que mais ressalta a pessoa de Pedro. Este é Kepha (rocha). Rocha que serve de abrigo. Também recebeu o nome de Satanás porque Pedro repetiu para Jesus a segunda tentação no deserto (cf.4,8-10 e 16,22). Os três relatos próprios de Mateus sobre Pedro se encontram no quarto livrinho: 13,53 a 18,35.(14,28-31; 16,16b-19; 17,24-27).Mateus copia a maioria dos relatos de Marcos sobre Pedro. Omitiu em cinco episódios que Marcos relata. Motivo: enxuga mais o texto. Altera e alterna Simão e Pedro. Este é cinco vezes mais freqüente que aquele.
A pergunta da preferência por Mateus ficará sempre sem resposta. Para o Evangelista a Lei de Moisés continua válida (Mt 5,17;7,12;22,40). Ele não morre de amores pelos pagãos, pelo contrário     (5,47;18,17). Porque será que este judeu cristão, contudo, reconhece uma abertura para o mundo pagão como se pode ver nas citações a seguir (Mt 2,1-12; 24,14; 28,19)?  Deve ter sido extremamente complicado para ele ter que assimilar coisas que por tendência cultural não queria aceitar. O que aconteceu para que houvesse uma mudança tão radical? E mais, chega a dizer que Israel foi rejeitado por Deus e substituído pela Igreja (Mt 8,11s; 21,43).
A descoberta que a fé em Jesus de Nazaré é o critério maior deve ter balançado todo o pobre coitado. Ó!, coitado!! Mas foi tão forte que revisou toda a sua vida e veio à tona uma leitura dos acontecimentos, tão bem elaborada, que permaneceu na Igreja até hoje como critério de caminho a seguir. A leitura da realidade que a pessoa de fé faz é normalmente revolucionária pois descobre as incongruências que nela existem. A Igreja hoje insiste nos sinais dos tempos como lugar de apelo de Deus.  Temos até na oração eucarística para diversas circunstâncias III (Jesus, Caminho para o Pai) o pedido:
“Fazei que todos os membros da Igreja, à luz da fé, saibam reconhecer os sinais dos tempos e empenhem-se, de verdade, no serviço do Evangelho. Tornai-nos abertos e disponíveis para todos, para que possamos partilhar as dores e as angústias, as alegrias e as esperanças , e andar juntos no caminho do vosso reino”.
A Igreja que está em (Pelotas, Bagé, Rio Grande, Guarapuava, Porto Alegre, Osório, Cruz Alta, ...) reza os sinais dos tempos que Deus ali colocou para apontar os caminhos concretos de ser Mateus para a população?
Para a Igreja o texto foi doado por Deus (= Mateus: alguém que é doado por Deus). O evangelho é Mateus=doado por Deus.
Aceito realmente que o evangelho de Mateus provenha de Deus?
Como posso provar isto? 
Eu me aceito como Mateus para a comunidade onde estou?
Decepciono Deus com a doação que Ele fez por minha disposição em ser seu discípulo?
Mas havia um outro problema: Os fariseus, depois da destruição de Jerusalém e do Templo, se reuniram em Jamnia e ali radicalizaram posições. A 19ª bênção é maldição contra os cristãos, que são considerados hereges (ham-minim). A experiência de segregado pelos mais achegados é muito cruel e sofredora! Deixa a pessoa sem raízes. No evangelho se lê Jesus indo para as cidades deles, entrando nas sinagogas deles Mt 10,17; 12,9;23,34. O autor está transmitindo uma situação dos anos 80-90 para as comunidades de predominância judaica.. Jesus lhes trazia um monte de problemas. Bastava aderir a Jesus de Nazaré para ser expulso da sinagoga e se tornar sem direitos no império romano.
A preocupação por problemas comunitários concretos Mt 13,17-28) apontam para pessoas responsáveis por coordenação como participantes da elaboração do evangelho. ”Mais significativa é a colocação do autor dentro da Igreja na qual seu evangelho viu a luz. Deveria ser um responsável pela comunidade, um homem de Igreja, um guia autorizado e preparado. A melhor qualificação parece ser a de pastor de almas, preocupado com problemas eclesiais concretos. A sua teologia, de alguém nada despreparado, antes tecnicamente muito preparado no uso da Bíblia, era toda voltada a sacudir os irmãos do torpor, a fazer maturar sua fé no sentido de uma fidelidade operativa à palavra do Senhor.” (Barbaglio.p 43).
Quais são mesmo os problemas da minha comunidade paroquial que eu não estou conseguindo enfrentar?
Problemas que não quero nem ver de frente?
Problemas que eu “chuto com a barriga”?
Preferiria fugir da situação do que resolver ou apontar soluções como fez o evangelho de Mateus?
Eu sou especialista do Deus vivo e verdadeiro ou ainda estou às voltas com um deus fabricado por mim e minhas conveniências?
A minha fé é da estatura de um Mateus?
Ou ainda é muito infantil?
Eu sou presença transformadora na minha comunidade?
Ou não marco “presença”?
Compreendo quais são as minhas posições culturais?
Sou alguém ainda muito inseguro na fé para depender de outros?
Jesus já é o centro de minha vida?
Ou Ele é ainda periférico?
A experiência de Jesus sempre de novo me desinstala?
Sei ler as coisas da vida e as coisas da bíblia e consigo fazer uma junção das duas?
Mateus tem 130 passagens da Escritura das quais 43 são citações precisas. Mas todas elas são re leitura cristã. Mateus tem 330 versículos próprios que vamos olhar mais do que os outros. Meu coração aquece com a leitura da bíblia ou eu leio como se fosse alguma coisa que não me diz respeito? Pelo jeito “bateu” muito (aparece cinco vezes !) no Mateus a expressão “homens de pouca fé” (6,30; 8,26; 14,31; 16,8; 17,20). Será que a fé é o critério que nós propomos aos nossos paroquianos? Antes disto, a fé é o critério grande para minha vida? Como se pode medir a fé? Mateus sugere que é pelas obras. Na montagem dos livrinhos Mateus coloca antes dos discursos sempre um relato de obras ou atividades. Falar é muito fácil, realizar a vontade do Pai é muito mais complicado. “Ele levava a sério a práxis cristã, isto é, uma existência tecida de gestos comprometidos de amor e misericórdia” (Barbaglio, p 43).Algumas coisas já estavam acontecendo que não poderiam ser “vontade do Pai dos céus”. A vontade dele é que sejam “perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). “A Igreja é a comunidade dos discípulos que seguem Cristo e agem de acordo com o querer do Pai” (Barbaglio, p 43). As divisões entre comunidades também já existiam. As comunidades olhavam com certa desconfiança para Paulo e se posicionavam a favor de Pedro (cf. Gl 2,14). Isto pode ser entrevisto até pela pseudonímia dos escritos que temos sob o nome de Pedro. Seria mais correto atribuir a Paulo (pois a teologia da I Pedro é paulina bem como sua linguagem e estilo. As comunidades destinatárias das cartas foram evangelizadas por Paulo.). Paulo devia “estar em baixa” mais para o final do século I. Já desde o início, com a entrada de pagãos na comunidade a comensalidade era um problema. Os “pruridos” culturais dos judeus provocaram muitos problemas de convivência. Para os pagãos não havia problema comer carnes sufocadas ou incluir bastante sangue no assado. Para os judeus isto causava estranheza e sérias dificuldades. Mateus enfrenta todos estes problemas e aponta soluções.
Eu sou Mateus para a comunidade onde estou?
Sou um dom de Deus? 
A comunidade também acha que eu sou Dom de Deus para ela?
Eu ainda me alegro pelo fato de Deus ter confiado em mim ? 
Que Deus eu represento para a comunidade?
Eu atraio o povo para Deus pelo meu modo de ser - agir e pensar - falar?
Quais são os aspectos culturais que são meus mas confundo como expressão de Deus ? 
Eu sou um teimoso diante de Deus, insistindo para que Ele me ajude a descobrir sua vontade salvadora?
Como eu articulo as pastorais de modo que uma não combata a outra mas trabalhem para uma mesma finalidade?
Como são as reuniões do Conselho de Pastoral Paroquial?
São reuniões que mostram uma justaposição de pastorais que trabalham independentes entre si e só se reúnem para combinar programas para não haver desencontros?
Minha oração é oração de desobriga ou eu coloco meu coração ali dentro para poder agir melhor?
As soluções que eu aponto são discutidas com Jesus, meu Mestre e Senhor (Mt 23,10)?
Quantas vezes já consegui brigar com Jesus Cristo?

Pe. José Bonifácio Schmidt

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Amigo, Um Ensaio

Difícil querer definir amigo.
Amigo é quem te dá um pedacinho do chão, quando é de terra firme que você precisa, ou um pedacinho do céu, se é o sonho que te faz falta.

Amigo é mais que ombro amigo, é mão estendida, mente aberta, coração pulsante, costas largas.
É quem tentou e fez, e não tem o egoísmo de não querer compartilhar o que aprendeu.
É aquele que cede e não espera retorno, porque sabe que o ato de compartilhar um instante qualquer contigo já o realimenta, satisfaz.
É quem já sentiu ou um dia vai sentir o mesmo que você.
É a compreensão para o seu cansaço e a insatisfação para a sua reticência.

É aquele que entende seu desejo de voar, de sumir devagar, a angústia pela compreensão dos acontecimentos, a sede pelo "por vir".
É ao mesmo tempo espelho que te reflete, e óleo derramado sobre suas águas agitadas.
É quem fica enfurecido por enxergar seu erro, querer tanto o seu bem e saber que a perfeição é utopia.
É o sol que seca suas lágrimas, é a polpa que adocica ainda mais seu sorriso.

Amigo é aquele que toca na sua ferida numa mesa de chopp, acompanha suas vitórias, faz piada amenizando problemas.
É quem tem medo, dor, náusea, cólica, gozo, igualzinho a você.
É quem sabe que viver é ter história pra contar.
É quem sorri pra você sem motivo aparente, é quem sofre com seu sofrimento, é o padrinho filosófico dos seus filhos.
É o achar daquilo que você nem sabia que buscava.

Amigo é aquele que te lê em cartas esperadas ou não, pequenos bilhetes em sala de aula, mensagens eletrônicas emocionadas.
É aquele que te ouve ao telefone mesmo quando a ligação é caótica, com o mesmo prazer e atenção que teria se tivesse olhando em seus olhos.
Amigo é multimídia.

Olhos... amigo é quem fala e ouve com o olhar, o seu e o dele em sintonia telepática.
É aquele que percebe em seus olhos seus desejos, seus disfarces, alegria, medo.
É aquele que aguarda pacientemente e se entusiasma quando vê surgir aquele tão esperado brilho no seu olhar, e é quem tem uma palavra sob medida quando estes mesmos olhos estão amplificando tristeza interior.
É lua nova, é a estrela mais brilhante, é luz que se renova a cada instante, com múltiplas e inesperadas cores que cabem todas na sua íris.

Amigo é aquele que te diz "eu te amo" sem qualquer medo de má interpretação: amigo é quem te ama "e ponto".
É verdade e razão, sonho e sentimento.
Amigo é pra sempre, mesmo que o sempre não exista.

Amigo, Um Ensaio
(Marcelo Batalha)

sábado, 16 de julho de 2011

Viver em Comunidade: Joio e trigo crescem juntos (Mt 13,24-30)

Reflexão partilhada por Frei Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino, sobre o Evangelho que muitas igrejas lerão neste domingo, cuja temática central é a Parábola do Joio e do Trigo, intitulado “Viver em comunidade: joio e trigo crescem juntos”, o texto convida-nos a ficarmos atentos para a prática de nossas comunidades frente à prática de Jesus Cristo. Tanto na sociedade como na comunidade e na vida de todos nós existe tudo misturado: qualidades boas e incoerências, limites e falhas.
::SITUANDO::
O capítulo 13 traz o Sermão das Parábolas. Mateus omitiu a parábola da semente que germina sozinha (Mc 4,26-29), ampliou a discussão sobre o porquê das parábolas (Mt 13,10-17) e acrescentou as parábolas do joio e do trigo (Mt 13,24-30), do fermento (Mt 13,33), do tesouro (Mt 13,44), da pérola (Mt 13,45-46) e da rede (Mt 13,47-50). Junto com as do semeador (Mt 13,4-11) e do grão de mostarda (Mt 13,31-32), são ao todo sete parábolas!
Estamos aqui no centro do Evangelho de Mateus. O coração deste centro é a parábola do joio e do trigo. É nela que aparece a recomendação mais importante para as comunidades da época.
Durante séculos, por causa da observância das leis de pureza, os judeus tinham vivido separados das outras nações. Este isolamento marcou a vida deles. Mesmo depois de convertidos, alguns continuavam nesta mesma observância que os separava dos outros. Eles queriam a pureza total. Qualquer sinal de impureza devia ser extirpado em nome de Deus. “Não pode haver tolerância com o pecado”, diziam estes. Mas outros como Paulo ensinavam com a Nova Lei de Deus trazida por Jesus estava pedindo o contrário! Eles diziam: “Não pode haver tolerância com o pecado, mas deve haver tolerância com o pecador!” 
A comunidade deve vencer a tentação de querer excluir os que pensam de modo diferente. Este é o pano de fundo da parábola do joio e do trigo.
 
::COMENTANDO::
Mateus 13,24-26: A situação: joio e trigo crescem juntos. A palavra de Deus que faz nascer a comunidade é semente boa, mas dentro das comunidades sempre aparecem coisas que são contrárias à palavra de Deus. De onde vêm? Esta era a discussão.

Mateus 13, 27-28a: A causa da mistura que existe na vida. Um inimigo fez isso. Quem é este inimigo? O inimigo, o adversário, Satanás ou diabo (Mt 13,39), é aquele que divide, que desvia. A tendência de divisão existe dentro de cada um de nós. O desejo de dominar, de se aproveitar da comunidade para subir e tantos outros desejos interesseiros são divisionistas, são do inimigo que dorme dentro de cada um de nós.

Mateus 13, 28b-30: A reação diferente diante da ambiguidade. Diante dessa mistura do bem e do mal, alguns queriam arrancar o joio. Pensavam: “Se deixarmos todo o mundo dentro da comunidade, perdemos nossa razão de ser! Perdemos a identidade!” Queriam expulsar os que pensavam de modo diferente. Mas esta não é a decisão do Dono da terra. Ele diz: “Deixa crescer juntos até a colheita!”
O que vai decidir não é o que cada um fala e diz, mas o que cada um vive e faz. É pelo fruto produzido que Deus nos julgará.
A força e o dinamismo do Reino se manifestam na comunidade. Mesmo sendo pequena e cheia de contradições, ela é um sinal do Reino. Mas ela não é dona do Reino, nem pode considerar-se justa. A parábola do joio e do trigo explica a maneira como a força do Reino age na história. É preciso ter paciência e aprender a conviver com as contradições e as diferenças, mesmo tendo uma opção clara pela justiça do Reino.

::ALARGANDO::
O ensino em parábolas
A parábola é um instrumento pedagógico que usa o quotidiano para mostrar como a vida nos fala de Deus. Torna a realidade transparente e faz o olhar da gente ficar contemplativo. Uma parábola aponta para as coisas da vida, e por isso mesmo, é um ensinamento aberto, pois das coisas da vida todo o mundo tem alguma experiência.
O ensinamento em parábolas faz a pessoa partir da experiência que tem: semente, sal, luz, ovelha, flor, mulher, criança, pai, rede, peixe, etc. Assim, ele torna a vida quotidiana transparente, reveladora da presença e da ação de Deus. Jesus não costumava explicar as parábolas. Geralmente, terminava com esta frase: “Quem tem ouvidos ouça” (Mt 11,15; 13,9.43).  Ou seja, “É isso! Você ouviram! Agora tratem de entender!” Jesus deixava o sentido da parábola em aberto e não o determinava. Sinal de que acreditava na capacidade do povo de descobrir o sentido da parábola a partir da sua experiência de vida. De vez em quando, a pedido dos discípulos, ele explicava o sentido (Mt 13,10.36). Por exemplo, os versículos 36-43 trazem a explicação da parábola do joio e do trigo. Ela mostra como se fazia catequese naquele tempo.
As comunidades se reuniam e discutiam as parábolas de Jesus, procurando saber o que ele queria dizer. Assim, pouco a pouco, o ensinamento aberto de Jesus começava a ser afunilado na catequese da comunidade que aceitava apenas uma explicação da parábola. Ela não tinha a mesma confiança de Jesus na capacidade do povo de entender as coisas do Reino.
Tanto na sociedade como na comunidade e na vida de todos nós existe tudo misturado: qualidades boas e incoerências, limites e falhas. Nas nossas comunidades se reúne gente que vem de vários cantos do Brasil, cada um com a sua história, com a sua vivência, a sua opinião, os seus anseios, as suas diferenças. Tem pessoas que não sabem conviver com as diferenças. Querem ser juiz dos outros. Acham que só elas estão certas, e os outros errados.
A parábola do joio e do trigo ajuda a não cair na tentação de querer excluir da comunidade os que não pensam como nós. Na parábola do joio e do trigo, tirada do “Sermão das Parábolas”: Os empregados representam certos membros da comunidade. O dono da terra representa Deus. Vamos prestar atenção nas atitudes dos empregados e na reação do Dono da terra.

Texto extraído do livro “Travessia: Quero misericórdia e não sacrifício”
Círculos Bíblicos sobre o Evangelho de Mateus
de Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino
Publicado pelo Centro de Estudos Bíblicos.
Coleção a Palavra na Vida - Volume 135/136  
Travessia, segundo os autores, é o que viveram os discípulos e as discípulas de Jesus, quando ele os enviou a passar para o outro lado do mar. Travessia feita na escuridão da noite, remando contra o vento. É o que estavam vivendo as comunidades para as quais Mateus escreveu o seu evangelho. Travessia saindo dos sacrifícios para a misericórdia. É o que todos vivemos neste final de milênio. Travessia cheia de incertezas, buscando novos horizontes. A Boa Nova de Jesus, transmitida por Mateus, é uma luz da parte de Deus para nos ajudar na travessia e recriar, entre nós, a comunidade que Jesus sonhou como amostra do Reino de Deus. Este livro tem três partes desiguais. A primeira traz uma chave geral para o Evangelho de Mateus. Ela abre a porta. A segunda traz uma série de 25 encontros do mesmo evangelho. Ela faz você andar pela casa toda. A terceira traz uma sugestão de celebração. Ela junta o pessoal da casa para fazer festa.
Número: PNV135/136
Editora: CEBI
Número de páginas: 108
Fonte: http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=6&noticiaId=2184

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A Santíssima Trindade

Qual é o mistério central da fé e da vida cristã?

O mistério central da fé e da vida cristã é o mistério da Santíssima Trindade. Os cristãos são batizados no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

O mistério da Santíssima Trindade pode ser conhecido só pela razão humana?

Deus deixou alguns traços do seu ser trinitário na criação e no Antigo Testamento, mas a intimidade do seu Ser como Trindade Santa constitui um mistério inacessível à razão humana sozinha, e mesmo à fé de Israel, antes da Encarnação do Filho de Deus e do envio do Espírito Santo. Tal mistério foi revelado por Jesus Cristo e é a fonte de todos os outros mistérios.

O que nos revela Jesus Cristo sobre o mistério do Pai?

Jesus Cristo revela-nos que Deus é «Pai», não só enquanto é Criador do universo e do homem, mas sobretudo porque, no seu seio, gera eternamente o Filho, que é o seu Verbo, «resplendor da sua glória, e imagem da sua substância» (Hb 1, 3).

Quem é o Espírito Santo que Jesus Cristo nos revelou?

É a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Ele é Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho. Ele «procede do Pai» (Jo 15, 26), o qual, princípio sem princípio, é a origem de toda a vida trinitária. E procede também do Filho (Filioque), pelo dom eterno que o Pai faz de Si ao Filho. Enviado pelo Pai e pelo Filho encarnado, o Espírito Santo conduz a Igreja «ao conhecimento da Verdade total» (Jo 16, 13).

Como é que a Igreja exprime a sua fé trinitária?

A Igreja exprime a sua fé trinitária confessando um só Deus em três Pessoas: Pai e Filho e Espírito Santo. As três Pessoas divinas são um só Deus, porque cada uma delas é idêntica à plenitude da única e indivisível natureza divina. Elas são realmente distintas entre si, pelas relações que as referenciam umas às outras: o Pai gera o Filho, o Filho é gerado pelo Pai, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho.

Como operam as três Pessoas divinas?

Inseparáveis na sua única substância, as Pessoas divinas são inseparáveis também no seu operar: a Trindade tem uma só e mesma operação. Mas no único agir divino, cada Pessoa está presente segundo o modo que lhe é próprio na Trindade.



fonte: http://www.vatican.va/archive/compendium_ccc/documents/archive_2005_compendium-ccc_po.html

terça-feira, 12 de julho de 2011

O PONTO NEGRO

Certo dia, um professor chegou na sala de aula e disse aos alunos para se prepararem para uma prova-relâmpago.

Todos acertaram suas filas, aguardando assustados o teste que viria.

O professor foi entregando, então, a folha da prova com a parte do texto virada para baixo, como era de costume.

Depois que todos receberam, pediu que desvirassem a folha.

Para surpresa de todos, não havia uma só pergunta ou texto, apenas um ponto negro, no meio da folha.

O professor, analisando a expressão de surpresa que todos faziam, disse o seguinte: 

- Agora, vocês vão escrever um texto sobre o que estão vendo. 

Todos os alunos, confusos, começaram, então, a difícil e inexplicável tarefa.

Terminado o tempo, o mestre recolheu as folhas, colocou-se na frente da turma e começou a ler as redações em voz alta.

Todas, sem exceção, definiram o ponto negro, tentando dar explicações por sua presença no centro da folha.

Terminada a leitura, a sala em silêncio, o professor então começou a explicar:

- Este teste não será para nota, apenas serve de lição para todos nós. Ninguém na sala falou sobre a folha em branco.

Todos centralizaram suas atenções no ponto negro.

Assim acontece em nossas vidas.

Temos uma folha em branco inteira para observar e aproveitar, mas sempre nos centralizamos nos pontos negros.

A vida é um presente da natureza dado a cada um de nós, com extremo carinho e cuidado.

Temos motivos para comemorar sempre. A natureza que se renova, os amigos que se fazem presentes, o emprego que nos dá o sustento, os milagres que diariamente presenciamos. No entanto, insistimos em olhar apenas para o ponto negro!

O problema de saúde que nos preocupa, a falta de dinheiro, o relacionamento difícil com um familiar, a decepção com um amigo.

Os pontos negros são mínimos em comparação com tudo aquilo que temos diariamente, mas são eles que povoam nossa mente.

Pense nisso!

Tire os olhos dos pontos negros de sua vida.

Tranqüilize-se e seja .... FELIZ


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Dom Pedro Casaldáliga

Pedro Casaldáliga
Sinopse
Os 80 anos de dom Pedro Casaldáliga foram uma grande oportunidade para a organização deste livro que traz dados biográficos e a visão de mundo do bispo espanhol, que desde 1968 vive no Brasil. Tendo enfrentado o isolamento, a malária, a tuberculose, as condições precárias de vida, cumpriu sua missão evangelizadora e defendeu a causa dos direitos humanos. Este livro traz, portanto, a oportunidade a todos de conhecer este homem, missionário, teólogo, poeta, bispo, dentre tantas outras funções, defensor das causas da terra, da Igreja, de Deus, das religiões e dos menos favorecidos. Seus poemas, fotos e testemunhos acompanham todos os depoimentos, que oferecem grandes lições de vida.
Editora: Editora Ave-Maria
Ano: 2008
Edição: 1ª
Formato: 16 x 23 cm
Peso: 0,940 kg
Páginas: 432

domingo, 10 de julho de 2011

Andrés Torres Queiruga: Repensar a Cristologia e a Criação

Dentro dos Eventos Comemorativos aos 25 anos da ESTEF (Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana), o teólogo espanhol Andrés Torres Queiruga, estará em Porto Alegre.
Professor no Instituto Teológico Compostelano da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), Andrés Torres Queiruga é um dos mais produtivos e instigantes teólogos da atualidade.

Nos dias 19, 20 e 21 de setembro, apresentará uma série de conferências sobre Cristologia e Criação.

As atividades serão realizadas das 8 às 11:30h e das 14 às 17:30h

O evento é aberto a toda a comunidade e tem como destinatários principais estudantes e professores de Teologia.

Investimento: R$ 60,00

As vagas são limitadas. Clique aqui e baixe a Ficha de Inscrição

sábado, 9 de julho de 2011

Pastoral da Saúde

Publicado em

V JORNADA DA PASTORAL DA SAÚDE


O Centro Educacional São Camilo Sul
e o Vicariato de Porto Alegre, 
convidam para a celebração da
Festa de São Camilo de Lellis.


Tema: VIDA E SAÚDE EM PLENITUDE
 


Dia: 16 de julho

Horário: das 8:00h às 16:00h

Inscrição: R$ 10,00

Almoço comunitário: R$7,00

Informações: Centro Educacional São Camilo

Fone: 3386 9318

Saiu o semeador a semear... - Ildo Bohn Gass

Sexta-feira, 8 de julho de 2011 - 15h51min
Conforme a estrutura do evangelho segundo Mateus, os capítulos 11 e 12 descrevem a prática libertadora de Jesus de Nazaré, a partir da qual “os cegos vêem e os coxos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11,5). Essa prática provocou a oposição de autoridades que tentaram desacreditar Jesus e buscar uma forma de “levá-lo à morte” (Mt 12,1-2.14.24).

No capítulo 13, Jesus ilustra essa prática com parábolas, cuja mensagem principal é revelar a força do Reino agindo como semente que fecunda a vida em meio a projetos em conflito. Parábolas são narrativas alegóricas, figuradas, e querem transmitir uma mensagem indireta através de comparações.

Busquemos, pois, o sentido dessas figuras na parábola do semeador.

De um lado, o Reino é dom de Deus e não depende só de nossos esforços. A semente, a sua Palavra de vida, é lançada pelo próprio Deus. A ação do Espírito é como a energia do vento que sopra em todas as partes (Jo 3,8). É como a semente que germina por si só (Mc 4,26-29). E ainda, a força do Reino é comparável com a energia da semente de mostarda que, sendo “a menor de todas as sementes, cresce e se torna maior que todas as outras hortaliças” (Mt 13,32). Portanto, fazer parte da comunidade de Jesus é acreditar nessa graça de Deus que age em e através de nós.

De outra parte, acreditar nessa graça de Deus atuante em nós é uma postura de fé, que depende do nosso compromisso com o projeto de Jesus, enquanto o seguimos pelo caminho da justiça do Reino (Mt 6,33). Os frutos do Reino não dependem somente do dom de Deus, mas derivam também de nossa espiritualidade. A força do Espírito é como a chuva que desce das nuvens. Se ela cai no asfalto, ali dificilmente fará germinar vida. No entanto, se ela cair sobre a terra, tornando-a fecunda, fará brotar a vida de múltiplas formas. Para ouvir a voz do vento (Jo 3,8), para ouvir a voz do pastor e abrir a porta (Jo 10,3-4; Ap 3,20) é preciso fazer silêncio para entrar em sintonia com Deus. É a mais sublime forma de oração.

Seremos como a terra da beira do caminho quando ouvimos a palavra do Reino, mas não a compreendemos, pois logo vem o maligno e arranca a palavra semeada (Mt 13,4.19). O maligno é toda força inimiga da vida, adversária de Deus e que nos seduz, afastando-nos do caminho de Deus para colocar-nos sob a escravidão da riqueza (Mt 6,24). Como exemplos de coisas que impedem a compreensão do projeto de Deus e tentam afastar-nos do seu caminho, citemos o espírito do consumismo, do prestígio, do poder, que tenta fazer de nós pessoas alienadas, dirigidas por forças externas, impedindo a ação do Espírito divino que nos torna livres, uma vez que “o Senhor é o Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3,17).

Seremos como o terreno cheio de pedras (Mt 13,5-6.20-21), se ouvimos a palavra com alegria, mas logo desistimos por medo da tribulação e da perseguição de quem não quer aceitar o projeto da justiça do Reino para todas as pessoas. Nesse caso, não passamos de fogo de palha.

Seremos como o terreno entre espinhos (Mt 13,7.22), quando ouvimos a palavra, mas deixamos nos dominar pelas preocupações do mundo, pela ilusão da riqueza, por outros desejos egoístas, como o luxo, a vida fácil. Dessa forma, a palavra da boa semente não tem como produzir frutos, pois nos apegamos a falsas seguranças.

Por fim, seremos terra boa (Mt 13,8.23) quando ouvimos a palavra e a acolhemos, isto é, nos comprometemos com o projeto de Jesus. A semente germina, cresce e frutifica somente se receber a chuva do alto e se for acolhida em terra boa cá embaixo. A chuva do alto é graça, é dom. Mas acolher a semente para que dê frutos, isso está em nossas mãos.

Ildo Bohn Gass é autor de:

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Curso para Catequistas na Livraria Paulus

CONVITE

Livraria Paulus convida os/as catequistas para o
Encontro de Formação: 

Data: 09/07/11

Tema: PSICOPEDAGOGIA CATEQUÉTICA
           (reflexões e vivências para a catequese conforme as idades)

Horário: das 9h às 11h

Local: Livraria Paulus - Rua Dr. José Montarury, 155 - Centro/POA

Palestrante: Pe. Jordélio Siles Ledo

Entrada franca


quarta-feira, 6 de julho de 2011

A participação da mulher na Igreja exige um novo modelo de Igreja

Segunda-feira, 4 de julho de 2011 - 9h04min

por Adital


Creio que o problema da participação da mulher na Igreja somente pode ser entendido dentro de uma definição eclesiológica global. Quando Jesus entrou no templo, o definiu como "cova de bandidos". O povo judeu, em grande parte, é de uma religião do templo; e nesse tipo de religião, a participação da mulher é impensável. O ministério "sacerdotal" é algo próprio da religião judaica.

A Igreja cristã não está nessa tradição do templo, nem os homens, nem das mulheres. Devemos realizar uma "des-sacerdotalização" da Igreja; isto é, não pensar a Igreja em termos de Templos e Sacerdotes.

Na tradição cristã de Jesus há "presbíteros", que não é um ministério sacerdotal; mas, homens e mulheres encarregados da fé da comunidade. Se, na Igreja, falamos de "sacerdotes", nem a mulher e nem tampouco o homem deveriam ser ordenados como sacerdotes.

Jesus seguiu a tradição da sinagoga judaica, que não é um lugar de culto, mas de ensinamento. O cristianismo avançou em uma inclusão da mulher como mestra, em igualdade com o homem. Portanto, afirmar "nunca mais uma Igreja sem mulheres" significa também "nunca mais uma igreja de sacerdotes".

O cristianismo não nasceu em um "altar"; mas, em uma "mesa", onde todos e todas participam. O problema não é a mulher, mas a Igreja. Integrar a mulher no atual modelo de Igreja sacerdotal e hierárquica seria negativo para a mulher.

O ministério fundamental na Igreja hoje é o "Ministério da Palavra", não o "Ministério sacerdotal". Quando a Igreja reduz o ministério aos Bispos e Sacerdotes, a inclusão da mulher é negativa para a mulher. Quando tenhamos uma Igreja de mestres e profetas, a participação da mulher será indispensável.

Texto de Pablo Richard - Teólogo e Biblista chileno


Fonte: http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=9¬iciaId=2148

terça-feira, 5 de julho de 2011

Padres da Áustria defendem ordenações femininas e realizam manifestos

Um ano atrás, uma notícia proveniente da Áustria, a terra do cardeal arcebispo de Viena, Christoph Schönborn, discípulo e amigo do Papa Bento XVI, provocou muito rumor: não era simplesmente uma minoria que exigia que os padres pudessem se casar e ter uma família, ou que pessoas casadas pudessem se tornar padres. Cerca de 80% dos párocos do país se declararam favoráveis à abolição do celibato eclesiástico.

A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal Il Foglio, 03-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Um ano depois, a notícia é ainda mais perturbadora e está provocando muita preocupação à Cúria Romana. Helmut Schüller, o porta-voz do movimento "Iniciativa dos Párocos", declarou que, na Áustria, mais de 250 padres assinaram um abaixo-assinado no qual exigem que as mulheres possam ter acesso ao sacerdócio.

Juntos, os párocos quiseram desafiar abertamente o Vaticano em uma área delicada, ou seja, a comunhão aos divorciados. Helmut Schüller, porta-voz do movimento, disse que o Vaticano "não pode impor suas próprias convicções aos padres austríacos".

Uma parte do clero austríaco sofre há muito tempo para se conceber como alinhado com Roma. A pesquisa, cujos resultados foram publicados há um ano, afirma que 52% dos párocos entrevistados admitiram ter ideias diferentes das da Igreja oficial sobre importantes questões de fé e de pastoral.

Além de serem favoráveis à abolição do celibato e à abertura do sacerdócio às mulheres, 64% afirmaram que a Igreja deveria se abrir mais ao mundo moderno. Um outro ponto se refere à formação dos padres: 92% dos párocos pesquisados, portanto, quase a totalidade, expressaram a opinião de que a educação das novas levas do seminário deveria dar maior peso à sua formação humana.

"É como se os párocos estivessem descontentes com a nova geração de padres", comentou Gerhard Klein, diretor dos serviços religiosos da TV austríaca Orf. E acrescentou depois: "A cúpula da Igreja deve agir rapidamente, porque a maioria dos párocos pede reformas".

Há dois anos, os bispos austríacos foram convocados diretamente ao Vaticano por Bento XVI. A convocação foi desencadeada por acontecimentos que colocaram a Igreja da Áustria em grande agitação, começando com o episódio do bispo auxiliar de Linz, Gerhard Wagner, nomeado pelo papa segundo os procedimentos regulares da Congregação para os Bispos. Wagner, de estilo tradicionalista, devia apoiar o bispo titular da diocese, que tinha grandes problemas de governo. Uma campanha de imprensa, e principalmente a reação de alguns coirmãos do episcopado, levou Wagner a se demitir antes da consagração.

Mas as preocupações do papa foram motivadas também por outros episódios que ainda hoje parecem não ter encontrado a sua conclusão: na Áustria, alguns padres conhecidos e com papeis importantes (também na mesma diocese de Linz) admitiram viver há anos com uma companheira.

Não é um bom momento para a Igreja austríaca. Todos os anos, há milhares fiéis que se afastam. Estima-se que, desde 1976 até hoje, mais de 1,3 milhões de fiéis abandonaram a prática religiosa. A ruptura que a Igreja sofre é a existente entre tradicionalistas e progressistas.

De um lado, existem grupos de tradicionalistas ligados às alas mais extremas do conservadorismo. De outro, grupos de católicos liberais que, na esteira do movimento Nós somos Igreja, pedem que a hierarquia estimule as reformas sempre mais, sob pena do abandono em massa da Igreja.

A recente denúncia feita contra Schönborn por ter escondido, em 1994, dois casos de abuso sexual por parte de religiosos da sua diocese aumentou ainda mais os problemas de uma Igreja gloriosa no passado.


Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=44986



segunda-feira, 4 de julho de 2011

Conheça o novo príncipe herdeiro do catolicismo

A última quarta-feira pode ter sido o momento máximo do calendário litúrgico desta semana, devido à Festa dos Santos Pedro e Paulo, mas a terça-feira, 28 de junho de 2011, marcou um "crescendo" de um tipo diferente: o dia em que a loteria informal que conduz ao próximo conclave começou oficialmente.



A análise é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 01-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.



Para ser claro, nenhum susto de saúde estourou em torno do Papa Bento XVI, e não há nenhuma outra razão para acreditar que seu papado está chegando ao fim (como eu afirmo às vezes brincando, a maquinaria alemã é construída para durar!). No entanto, na terça-feira, o pontífice fez um movimento pessoal que não é apenas importante por direito próprio, mas também possui implicações óbvias para favorecer as perspectivas papais.



No dia 28 de junho, o Papa Bento XVI nomeou o patriarca de Veneza, de 69 anos, cardeal Angelo Scola, como o novo arcebispo de Milão.



Em um nível, é tentador ler isso como um movimento lateral. Veneza, na verdade, produziu três papas no século XX (Pio X, João XXIII e João Paulo I) em comparação aos dois de Milão (Pio XI e Paulo VI), por isso não é como se a transferência de Scola para a Sé de Ambrósio o tirasse da escuridão. Entre os íntimos, ele já era considerado um peso-pesado eclesial pesado e um futuro pretendente de alto nível.



No entanto, Milão é, bem, sui generis. É uma das poucas dioceses que impõem seu ritmo, como Paris ou Westminster ou Nova York, cujo ocupante automaticamente se torna um ponto de referência em todo o mundo. Também é a primeira sede na Igreja italiana, e, dada a relação especial entre a Itália e do papado, é provavelmente justo dizer que a maioria dos papas veem Milão como uma das mais importantes nomeações que eles terão que fazer.



Como resultado, Milão não é apenas um cargo – é um voto de confiança papal único e uma plataforma para a liderança global. Os observadores da Igreja geralmente assumem que, quando um papa envia alguém para Milão, ele o está apontando como um possível sucessor. Bento XVI não é ingênuo. Ele é consciente desse cálculo, o que significa que, no mínimo, ele tem bastante confiança em Scola a ponto de colocá-lo em um lugar onde o papado é uma possibilidade real.



A partir de agora, Scola será o parágrafo inicial de cada notícia especulativa sobre o próximo conclave, e tudo o que ele fizer ou disser será examinado com um olho na eleição papal. Com efeito, Scola se torna o novo cardeal Carlo Maria Martini, que, durante seu próprio mandato como arcebispo de Milão de 1980 a 2002, era visto em geral como o primeiro papável da Igreja.O fato de que Martini não tenha sido eleito ao papado é, obviamente, um fator de advertência sobre os perigos do prognóstico. No entanto, isso não altera a questão de que as palavras e as ações de Martini carregaram um peso extra durante duas décadas por causa de seu status como um perceptível papa-em-espera, e agora o mesmo poderá ser dito sobre Scola.


* * *

Eu publiquei um perfil de Scola antes da nomeação para Milão no NCR. Para aqueles não familiarizados com ele, aqui está o que vocês deveriam saber: se você gosta de Bento XVI, você vai adorar Scola. Mesmo que não goste, você vai achar difícil não se encantar com ele. Ele é uma versão de língua italiana do papa, extrovertido, otimista, notavelmente autêntico.



(Em um esforço bastante desajeitado para expressar tudo isso, o jornal The Telegraph, do Reino Unido, publicou a manchete: "Cardeal pró-Vaticano presidirá a Igreja de Milão". Eu sei o que eles quiseram dizer, mas não posso deixar de perguntar: quais seriam, exatamente, os cardeais "anti-Vaticano"?) A congruência entre Scola e Bento remonta pelo menos a quatro décadas, à Páscoa de 1971, quando os dois homens se conheceram pela primeira vez em um restaurante às margens do Rio Danúbio.



Na época, Scola estava estudando na Universidade de Friburgo, enquanto Ratzinger havia recentemente se juntado ao corpo docente da recém-fundada Universidade de Regensburg, na Baviera. Os dois homens compartilhavam uma paixão por pensadores católicos como Hans Urs von Balthasar e Henri de Lubac, que ajudaram a inspirar a ampla maioria progressista do Concílio Vaticano II (1962-1965), mas que se preocuparam mais tarde que o "bebê eclesial" estava sendo jogado fora junto com a água do banho. Scola, mais tarde, viria a publicar livros-entrevista com ambas as figuras.



Ratzinger foi um dos cofundadores da revista teológica Communio, e Scola atuava como editor italiano. Durante os anos 1980, Scola se tornou um consultor-chave de Ratzinger na Congregação vaticana para a Doutrina da Fé, enquanto, ao mesmo tempo, lecionava no Instituto João Paulo II para o Matrimônio e a Família, na Universidade Lateranense, de Roma. Nesse tempo, Scola se estabeleceu como um estudioso reconhecido internacionalmente em antropologia moral.



Outra conexão entre Scola e Bento vem por meio do movimento Comunhão e Libertação, fundado pelo falecido monsenhor italiano Luigi Giussani. Durante décadas, o Comunhão e Libertação foi visto como um rival conservador ao sistema liberal dominante na Igreja italiana. Scola estava entre os primeiros discípulos de Giussani, e há boatos que sugerem há muito tempo que Scola deixou o seminário de Milão para ser ordenado na pequena diocese de Teramo, em 1970, por causa da controvérsia em torno do movimento.



O lendário Mons. Lorenzo Albacete, a face pública do Comunhão e Libertação nos Estados Unidos, conheceu o movimento por meio de Scola em 1993. Ele disse que Scola o impressionou por ser uma extraordinária combinação de ortodoxia doutrinal e de gosto pela vida.



"Eu havia me encontrado com muitos padres que eram animados, livres, espontâneos, compreensivos, que queriam partilhar a vida das pessoas em todos os seus aspectos, mas que tinham problemas com os ensinamentos da Igreja", disse Albacete em uma entrevista de 2005. "Por outro lado, eu me encontrei com padres que aceitavam os ensinamentos da Igreja, mas de uma formasubserviente. Eles eram rígidos, enfadonhos e medrosos".



Em Scola, no entanto, Albacete disse ter encontrado o que estava procurando.



"Ele não estava se rebelando contra a Igreja", disse Albacete. "No entanto, ele era o padre mais livre e mais espontâneo que eu já havia conhecido".



De sua parte, Bento XVI sempre teve uma afeição especial pelo Comunhão e Libertação. Ele via a profunda fé cristológica de Giussani como um antídoto a uma tendência na década de 1960 e 1970 de transformar o cristianismo em uma força política inspirada pela ideologia marxista. Os sinais de estima papal são quase onipresentes, incluindo o fato de que as mulheres consagradas que administram a casa papal de Bento XVI são retiradas do Memores Domini, um grupo afiliado ao Comunhão e Libertação.



Como resultado de sua história compartilhada, Scola sente há muito tempo uma lealdade especial por Bento XVI. Quando o pontífice estava sob fogo cruzado da mídia global em 2010, relacionado ao seu papel na crise dos abusos sexuais, Scola fez referência publicamente a esses ataques como uma "humilhação iníqua" (só para garantir que todos compreendessem, seu assessor de imprensa enviou uma tradução em inglês das observações do cardeal).


* * *

Embora Bento e Scola respirem o mesmo ar intelectual e teológico, eles são personalidades diferentes, no entanto.



De um lado, Bento cresceu em um ambiente católico razoavelmente homogêneo na Baviera pré-guerra, enquanto o meio do qual Scola cresceu era mais diversificado. Seu pai era motorista de caminhão e socialista, que encorajou o filho a ler o L'Unità , um jornal italiano de esquerda e secular que muitas vezes é considerado bastante anticlerical (até hoje, Scola credita o L'Unità por tê-lo apresentado à vida afetiva).



Quando jovem, Scola estudou com Emanuele Severino, o filósofo contemporâneo mais importante da Itália, na Universidade Católica do Sagrado Coração, em Milão (na guilda filosófica, Severino é considerado um "neoparmenidiano", o que eu nem vou tentar definir). Ao longo dos anos, Severino repetidamente entrou em confronto com as autoridades da Igreja, e, em 1970, a Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano declarou seu pensamento como "incompatível com o cristianismo", por causa de sua crença na "eternidade de todo o ser" – o que, dentre outras consequências, torna obsoleta a ideia de um Deus Criador.



Apesar de tudo isso, Severino recentemente lembrou Scola como um estudante brilhante, que ganhava as notas máximas que ele podia receber, e descreveu calorosamente vários encontros com o cardeal ao longo dos anos.



"Ele é um homem que também é capaz de entusiasmar, e digo isso com convicção: além de ser um intelectual de alto calibre, tem traços de simplicidade e de naturalidade que não são fáceis de encontrar nos homens da Igreja", disse Severino.



(A propósito, Severino rebateu as indicações de que os laços de Scola com o Comunhão e Libertação serão um problema em Milão: "Francamente, eu não o vejo fechado no papel de animador de um movimento, com todo o respeito por esse movimento: a sua estatura intelectual é superior e vai além", disse.)



Até hoje, os interesses de Scola são extremamente vastos. Por exemplo, ele diz que, de longe, seu livro favorito é o romance modernista O homem sem qualidades, escrito no início do século XX pelo austríaco Robert Musil. Situado entre o declínio do Império Austro-húngaro, o livro é comparado geralmente com as obras de Franz Kafka e de Thomas Mann – em outras palavras, um exemplo certamente não piedoso como de costume.



Em termos de temperamento, Scola é mais do estilo "bom companheiro" do que Bento XVI. Entre outras coisas, ele tem uma afiada esperteza midiática. A principal assessora de mídia de Scola, uma leiga chamada Maria Laura Conte, é bem conhecida entre as equipes de imprensa do Vaticano pelo seu estilo alegre e proativo, muitas vezes se oferecendo para disponibilizar seu chefe – um forte contraste com a cautela com que muitos prelados e seus subordinados veem a imprensa.



Entre os limites políticos e teológicos, Scola tem uma reputação de ser não clerical, despretensioso e em nada indiferente. Em Veneza, por exemplo, ele deixou reservadas as manhãs de quarta-feira para atender quem o queria ver, quer eles tivessem ou não marcado o encontro.



Ao longo dos anos, as prioridades de Scola como um líder também tendem a ser bastante ad extra, ou seja, comprometidos com o mundo fora da Igreja. Uma de suas causas tem sido a sua Fundação Oasis, lançada em 2004 para promover a solidariedade entre os cristãos no Oriente Médio e o diálogo com o mundo islâmico.



Na verdade, Scola não recebe apenas revisões universalmente positivas. Um proeminente movimento liberal católico da Itália, o Noi Siamo Chiesa emitiu uma declaração sobre a sua transferência para Milão expressando "amargura e desilusão entre aqueles que acreditam na reforma da Igreja".



"Essa nomeação é o produto de uma imposição de cima, que deixa perplexa grande parte da diocese", disse o comunicado. "Vemos o retorno, como bispo, de quem, a seu tempo, não foi aceito como padre".



(Dada a rivalidade histórica entre o Comunhão e Libertação e as correntes progressistas de Milão sob Martini, a nomeação de Scola é um fato especialmente amargo para muitos liberais milaneses.)



A nomeação Scola, afirma a declaração, "confirma o escasso espírito de comunhão eclesial de quem guia a Igreja, que quer impor uma orientação única a qualquer custo e em todos os lugares. É a linha de quemquer congelar o Concílio".



Ame-o ou odeie-o, no entanto, Scola está agora firmemente instalado como o Príncipe Herdeiro do catolicismo. Independentemente do que possa acontecer em um futuro conclave, será fascinante ver como ele escolherá gastar esse capital político no aqui-e-agora.



Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=44950