sexta-feira, 29 de julho de 2011

Evangelho de Mateus

É chamado o evangelho eclesiológico porque se volta para a comunidade e parte de muitos problemas da comunidade. Normalmente é aceito que se divida o evangelho em sete partes, tendo como destaque na estrutura os cinco discursos de Jesus (que lembrariam os cinco livros do Pentateuco). Se é verdade, e não vem ao caso discutir aqui, que a estrutura é quiástica (conforme “Ele está no meio de nós” p 11= “O diagrama de representação pode ser mais ou menos assim: A B C D C’ B’A’”, então o terceiro livrinho é o cerne do evangelho. Se trata dos capítulos 11,1 a 13,52. Aqui se ressalta a situação de conflito em que vive a comunidade. Eram conflitos de toda ordem. “Esta Igreja vivia a crise total. Era uma crise política diante do império romano. O império tinha vencido o povo judeu, tendo destruído o templo e a capital, Jerusalém. Ao mesmo tempo o império tinha vencido suas crises internas e vivia um período de esplendor. A crise era também cultural. A cultura greco-romana, chamada de helenismo, ocupava todos os espaços e seus seguidores consideravam qualquer proposta cultural diferente como barbarismo. A crise era também religiosa, já que as diferenças entre judeus e cristãos chegaram ao ponto de ruptura. Viver a fé em Cristo passou a ser considerado um crime contra o Estado romano. Entre os anos de 95-96 o imperador Domiciano lança a segunda perseguição. Roma passa a ser descrita como a nova Babilônia, embriagada pelo sangue dos mártires” (Tua Palavra é vida, vol. 5 p 132). “Dúvidas, incompreensões e hostilidades ocupam os cc.11-13. Desconcertado pela atitude de Jesus, o Batista manda uma delegação de discípulos para exprimir-lhe sua perplexidade (11,2-3). Os judeus refutam o precursor e o messias (11,16-19). As cidades setentrionais do lago da Galiléia não acolhem o apelo à conversão (11,20-24). Os fariseus chegam a fazer um projeto de violenta supressão (12,14). A multidão não compreende (13,13).Os nazarenos mostram-se desconfiados e incrédulos (13,53-58).” (Barbaglio, p 47).
O Batista descrito no evangelho de Mateus é de uma impaciência escatológica muito grande: “o machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não der bons frutos, será cortada e lançada ao fogo (Mt 3,10). Este Jesus não deve ser o messias que João gostaria de ver agindo. Ele não está tomando nenhuma iniciativa significativa. Os batistas do tempo de Mateus também devem estar provocando os cristãos com o tipo de messias que Jesus era (um fracassado total, morto numa cruz!) Os irmãos de raça haviam feito um concílio em Jamnia (para outros Jabne) depois da destruição de Jerusalém (depois de 70 dC.) e naquele “concílio” acrescentaram na sua oração da manhã diária uma 19ª “bênção” contra os hereges. São considerados hereges todos os seguidores de Jesus. Em Jamnia estabelecem que a única bíblia a ser seguida é o texto hebraico. Os cristãos estavam acostumados com a LXX. Com a exclusão oficial do judaísmo acabavam para os cristãos os privilégios concedidos ao povo judeu. Isto significava prisão sumária toda vez que não fossem queimar incenso em honra ao Senhor, o Imperador. Aliás, a suspeita sobre os cristãos da parte do império era grande: eles proclamavam um outro que não era o Imperador como seu Senhor, o Kyrios . A situação não estava nada fácil para a comunidade dos cristãos. Havia além disto, certo torpor na própria comunidade. As testemunhas já haviam morrido. Não há mais como apelar para elas. O retorno de Jesus, previsto por muitos como “prá já” (Mt 16,28) não aconteceu! Que decepção. E será que ainda vai acontecer? O primeiro ardor não se encontra mais, pois as dificuldades aumentaram muito. Agora, aquele entusiasmo inicial parece ter sido um pouco pueril (Mt 11,16-17). Que vergonha! Não fomos suficientemente prudentes? A pessoa de Jesus suscitava ainda muitas perguntas. Não era nada fácil ter que descobrir através de re leituras da Escritura o sentido de Jesus. A confusão em torno de Jesus ainda era grande. Mateus reconhece: Jesus é o grande divisor . Em nosso próximo encontro vamos olhar com alegria para esta constatação de Mateus. É preciso olhar freqüentemente para Jesus com olhos novos na situação nova para entender que ele está no meio de nós (Mt 13,52). Ele é de fato o Emanuel Deus conosco!! (Mt 28,20).  Quais são hoje os grandes problemas de nossas comunidades que nós não estamos conseguindo olhar de frente porque talvez tenhamos medo? Quais os direcionamentos que nossas comunidades tomaram? Só se reúne para a oração? O estímulo mútuo para prosseguir no caminho ainda acontece? Deus nos dê o seu Espírito para que possamos discernir todas as situações .
Pe. José Bonifácio Schmidt

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