Um ano atrás, uma notícia proveniente da Áustria, a terra do cardeal arcebispo de Viena, Christoph Schönborn, discípulo e amigo do Papa Bento XVI, provocou muito rumor: não era simplesmente uma minoria que exigia que os padres pudessem se casar e ter uma família, ou que pessoas casadas pudessem se tornar padres. Cerca de 80% dos párocos do país se declararam favoráveis à abolição do celibato eclesiástico.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal Il Foglio, 03-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um ano depois, a notícia é ainda mais perturbadora e está provocando muita preocupação à Cúria Romana. Helmut Schüller, o porta-voz do movimento "Iniciativa dos Párocos", declarou que, na Áustria, mais de 250 padres assinaram um abaixo-assinado no qual exigem que as mulheres possam ter acesso ao sacerdócio.
Juntos, os párocos quiseram desafiar abertamente o Vaticano em uma área delicada, ou seja, a comunhão aos divorciados. Helmut Schüller, porta-voz do movimento, disse que o Vaticano "não pode impor suas próprias convicções aos padres austríacos".
Uma parte do clero austríaco sofre há muito tempo para se conceber como alinhado com Roma. A pesquisa, cujos resultados foram publicados há um ano, afirma que 52% dos párocos entrevistados admitiram ter ideias diferentes das da Igreja oficial sobre importantes questões de fé e de pastoral.
Além de serem favoráveis à abolição do celibato e à abertura do sacerdócio às mulheres, 64% afirmaram que a Igreja deveria se abrir mais ao mundo moderno. Um outro ponto se refere à formação dos padres: 92% dos párocos pesquisados, portanto, quase a totalidade, expressaram a opinião de que a educação das novas levas do seminário deveria dar maior peso à sua formação humana.
"É como se os párocos estivessem descontentes com a nova geração de padres", comentou Gerhard Klein, diretor dos serviços religiosos da TV austríaca Orf. E acrescentou depois: "A cúpula da Igreja deve agir rapidamente, porque a maioria dos párocos pede reformas".
Há dois anos, os bispos austríacos foram convocados diretamente ao Vaticano por Bento XVI. A convocação foi desencadeada por acontecimentos que colocaram a Igreja da Áustria em grande agitação, começando com o episódio do bispo auxiliar de Linz, Gerhard Wagner, nomeado pelo papa segundo os procedimentos regulares da Congregação para os Bispos. Wagner, de estilo tradicionalista, devia apoiar o bispo titular da diocese, que tinha grandes problemas de governo. Uma campanha de imprensa, e principalmente a reação de alguns coirmãos do episcopado, levou Wagner a se demitir antes da consagração.
Mas as preocupações do papa foram motivadas também por outros episódios que ainda hoje parecem não ter encontrado a sua conclusão: na Áustria, alguns padres conhecidos e com papeis importantes (também na mesma diocese de Linz) admitiram viver há anos com uma companheira.
Não é um bom momento para a Igreja austríaca. Todos os anos, há milhares fiéis que se afastam. Estima-se que, desde 1976 até hoje, mais de 1,3 milhões de fiéis abandonaram a prática religiosa. A ruptura que a Igreja sofre é a existente entre tradicionalistas e progressistas.
De um lado, existem grupos de tradicionalistas ligados às alas mais extremas do conservadorismo. De outro, grupos de católicos liberais que, na esteira do movimento Nós somos Igreja, pedem que a hierarquia estimule as reformas sempre mais, sob pena do abandono em massa da Igreja.
A recente denúncia feita contra Schönborn por ter escondido, em 1994, dois casos de abuso sexual por parte de religiosos da sua diocese aumentou ainda mais os problemas de uma Igreja gloriosa no passado.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=44986
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