sábado, 16 de julho de 2011

Viver em Comunidade: Joio e trigo crescem juntos (Mt 13,24-30)

Reflexão partilhada por Frei Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino, sobre o Evangelho que muitas igrejas lerão neste domingo, cuja temática central é a Parábola do Joio e do Trigo, intitulado “Viver em comunidade: joio e trigo crescem juntos”, o texto convida-nos a ficarmos atentos para a prática de nossas comunidades frente à prática de Jesus Cristo. Tanto na sociedade como na comunidade e na vida de todos nós existe tudo misturado: qualidades boas e incoerências, limites e falhas.
::SITUANDO::
O capítulo 13 traz o Sermão das Parábolas. Mateus omitiu a parábola da semente que germina sozinha (Mc 4,26-29), ampliou a discussão sobre o porquê das parábolas (Mt 13,10-17) e acrescentou as parábolas do joio e do trigo (Mt 13,24-30), do fermento (Mt 13,33), do tesouro (Mt 13,44), da pérola (Mt 13,45-46) e da rede (Mt 13,47-50). Junto com as do semeador (Mt 13,4-11) e do grão de mostarda (Mt 13,31-32), são ao todo sete parábolas!
Estamos aqui no centro do Evangelho de Mateus. O coração deste centro é a parábola do joio e do trigo. É nela que aparece a recomendação mais importante para as comunidades da época.
Durante séculos, por causa da observância das leis de pureza, os judeus tinham vivido separados das outras nações. Este isolamento marcou a vida deles. Mesmo depois de convertidos, alguns continuavam nesta mesma observância que os separava dos outros. Eles queriam a pureza total. Qualquer sinal de impureza devia ser extirpado em nome de Deus. “Não pode haver tolerância com o pecado”, diziam estes. Mas outros como Paulo ensinavam com a Nova Lei de Deus trazida por Jesus estava pedindo o contrário! Eles diziam: “Não pode haver tolerância com o pecado, mas deve haver tolerância com o pecador!” 
A comunidade deve vencer a tentação de querer excluir os que pensam de modo diferente. Este é o pano de fundo da parábola do joio e do trigo.
 
::COMENTANDO::
Mateus 13,24-26: A situação: joio e trigo crescem juntos. A palavra de Deus que faz nascer a comunidade é semente boa, mas dentro das comunidades sempre aparecem coisas que são contrárias à palavra de Deus. De onde vêm? Esta era a discussão.

Mateus 13, 27-28a: A causa da mistura que existe na vida. Um inimigo fez isso. Quem é este inimigo? O inimigo, o adversário, Satanás ou diabo (Mt 13,39), é aquele que divide, que desvia. A tendência de divisão existe dentro de cada um de nós. O desejo de dominar, de se aproveitar da comunidade para subir e tantos outros desejos interesseiros são divisionistas, são do inimigo que dorme dentro de cada um de nós.

Mateus 13, 28b-30: A reação diferente diante da ambiguidade. Diante dessa mistura do bem e do mal, alguns queriam arrancar o joio. Pensavam: “Se deixarmos todo o mundo dentro da comunidade, perdemos nossa razão de ser! Perdemos a identidade!” Queriam expulsar os que pensavam de modo diferente. Mas esta não é a decisão do Dono da terra. Ele diz: “Deixa crescer juntos até a colheita!”
O que vai decidir não é o que cada um fala e diz, mas o que cada um vive e faz. É pelo fruto produzido que Deus nos julgará.
A força e o dinamismo do Reino se manifestam na comunidade. Mesmo sendo pequena e cheia de contradições, ela é um sinal do Reino. Mas ela não é dona do Reino, nem pode considerar-se justa. A parábola do joio e do trigo explica a maneira como a força do Reino age na história. É preciso ter paciência e aprender a conviver com as contradições e as diferenças, mesmo tendo uma opção clara pela justiça do Reino.

::ALARGANDO::
O ensino em parábolas
A parábola é um instrumento pedagógico que usa o quotidiano para mostrar como a vida nos fala de Deus. Torna a realidade transparente e faz o olhar da gente ficar contemplativo. Uma parábola aponta para as coisas da vida, e por isso mesmo, é um ensinamento aberto, pois das coisas da vida todo o mundo tem alguma experiência.
O ensinamento em parábolas faz a pessoa partir da experiência que tem: semente, sal, luz, ovelha, flor, mulher, criança, pai, rede, peixe, etc. Assim, ele torna a vida quotidiana transparente, reveladora da presença e da ação de Deus. Jesus não costumava explicar as parábolas. Geralmente, terminava com esta frase: “Quem tem ouvidos ouça” (Mt 11,15; 13,9.43).  Ou seja, “É isso! Você ouviram! Agora tratem de entender!” Jesus deixava o sentido da parábola em aberto e não o determinava. Sinal de que acreditava na capacidade do povo de descobrir o sentido da parábola a partir da sua experiência de vida. De vez em quando, a pedido dos discípulos, ele explicava o sentido (Mt 13,10.36). Por exemplo, os versículos 36-43 trazem a explicação da parábola do joio e do trigo. Ela mostra como se fazia catequese naquele tempo.
As comunidades se reuniam e discutiam as parábolas de Jesus, procurando saber o que ele queria dizer. Assim, pouco a pouco, o ensinamento aberto de Jesus começava a ser afunilado na catequese da comunidade que aceitava apenas uma explicação da parábola. Ela não tinha a mesma confiança de Jesus na capacidade do povo de entender as coisas do Reino.
Tanto na sociedade como na comunidade e na vida de todos nós existe tudo misturado: qualidades boas e incoerências, limites e falhas. Nas nossas comunidades se reúne gente que vem de vários cantos do Brasil, cada um com a sua história, com a sua vivência, a sua opinião, os seus anseios, as suas diferenças. Tem pessoas que não sabem conviver com as diferenças. Querem ser juiz dos outros. Acham que só elas estão certas, e os outros errados.
A parábola do joio e do trigo ajuda a não cair na tentação de querer excluir da comunidade os que não pensam como nós. Na parábola do joio e do trigo, tirada do “Sermão das Parábolas”: Os empregados representam certos membros da comunidade. O dono da terra representa Deus. Vamos prestar atenção nas atitudes dos empregados e na reação do Dono da terra.

Texto extraído do livro “Travessia: Quero misericórdia e não sacrifício”
Círculos Bíblicos sobre o Evangelho de Mateus
de Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino
Publicado pelo Centro de Estudos Bíblicos.
Coleção a Palavra na Vida - Volume 135/136  
Travessia, segundo os autores, é o que viveram os discípulos e as discípulas de Jesus, quando ele os enviou a passar para o outro lado do mar. Travessia feita na escuridão da noite, remando contra o vento. É o que estavam vivendo as comunidades para as quais Mateus escreveu o seu evangelho. Travessia saindo dos sacrifícios para a misericórdia. É o que todos vivemos neste final de milênio. Travessia cheia de incertezas, buscando novos horizontes. A Boa Nova de Jesus, transmitida por Mateus, é uma luz da parte de Deus para nos ajudar na travessia e recriar, entre nós, a comunidade que Jesus sonhou como amostra do Reino de Deus. Este livro tem três partes desiguais. A primeira traz uma chave geral para o Evangelho de Mateus. Ela abre a porta. A segunda traz uma série de 25 encontros do mesmo evangelho. Ela faz você andar pela casa toda. A terceira traz uma sugestão de celebração. Ela junta o pessoal da casa para fazer festa.
Número: PNV135/136
Editora: CEBI
Número de páginas: 108
Fonte: http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=6&noticiaId=2184

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