quinta-feira, 28 de julho de 2011

Quem é Mateus?

O Evangelho é atribuído a um apóstolo mencionado em Mt 9,9;10,3; Mc 3,18; Lc 6,15; At 1,13. É a forma de dar autoridade apostólica a um escrito que, por análise interna, não pode ter origem apostólica. “Na realidade estamos às voltas com um anônimo da segunda geração cristã” (Barbaglio, p. 39). A pseudonímia era muito comum na época (é a atribuição do escrito a alguém de renome para lhe dar autoridade). O autor manifesta um apego à tradição judaica (Mt 5,18s;24,20). Continua privilegiando o povo de Israel (Mt 10,5s;15,24). Pápias, bispo de Hierápolis, Ásia Menor, reconhece a cultura hebraica (ebraidi dialektw) em Mateus. O Evangelho, porém, não é tradução do aramaico pois foi elaborado em grego. Se foi atribuído a um apóstolo porque é atribuído a Mateus e não a Pedro a quem é dado tanto realce no evangelho?
Observação: é o evangelho que mais ressalta a pessoa de Pedro. Este é Kepha (rocha). Rocha que serve de abrigo. Também recebeu o nome de Satanás porque Pedro repetiu para Jesus a segunda tentação no deserto (cf.4,8-10 e 16,22). Os três relatos próprios de Mateus sobre Pedro se encontram no quarto livrinho: 13,53 a 18,35.(14,28-31; 16,16b-19; 17,24-27).Mateus copia a maioria dos relatos de Marcos sobre Pedro. Omitiu em cinco episódios que Marcos relata. Motivo: enxuga mais o texto. Altera e alterna Simão e Pedro. Este é cinco vezes mais freqüente que aquele.
A pergunta da preferência por Mateus ficará sempre sem resposta. Para o Evangelista a Lei de Moisés continua válida (Mt 5,17;7,12;22,40). Ele não morre de amores pelos pagãos, pelo contrário     (5,47;18,17). Porque será que este judeu cristão, contudo, reconhece uma abertura para o mundo pagão como se pode ver nas citações a seguir (Mt 2,1-12; 24,14; 28,19)?  Deve ter sido extremamente complicado para ele ter que assimilar coisas que por tendência cultural não queria aceitar. O que aconteceu para que houvesse uma mudança tão radical? E mais, chega a dizer que Israel foi rejeitado por Deus e substituído pela Igreja (Mt 8,11s; 21,43).
A descoberta que a fé em Jesus de Nazaré é o critério maior deve ter balançado todo o pobre coitado. Ó!, coitado!! Mas foi tão forte que revisou toda a sua vida e veio à tona uma leitura dos acontecimentos, tão bem elaborada, que permaneceu na Igreja até hoje como critério de caminho a seguir. A leitura da realidade que a pessoa de fé faz é normalmente revolucionária pois descobre as incongruências que nela existem. A Igreja hoje insiste nos sinais dos tempos como lugar de apelo de Deus.  Temos até na oração eucarística para diversas circunstâncias III (Jesus, Caminho para o Pai) o pedido:
“Fazei que todos os membros da Igreja, à luz da fé, saibam reconhecer os sinais dos tempos e empenhem-se, de verdade, no serviço do Evangelho. Tornai-nos abertos e disponíveis para todos, para que possamos partilhar as dores e as angústias, as alegrias e as esperanças , e andar juntos no caminho do vosso reino”.
A Igreja que está em (Pelotas, Bagé, Rio Grande, Guarapuava, Porto Alegre, Osório, Cruz Alta, ...) reza os sinais dos tempos que Deus ali colocou para apontar os caminhos concretos de ser Mateus para a população?
Para a Igreja o texto foi doado por Deus (= Mateus: alguém que é doado por Deus). O evangelho é Mateus=doado por Deus.
Aceito realmente que o evangelho de Mateus provenha de Deus?
Como posso provar isto? 
Eu me aceito como Mateus para a comunidade onde estou?
Decepciono Deus com a doação que Ele fez por minha disposição em ser seu discípulo?
Mas havia um outro problema: Os fariseus, depois da destruição de Jerusalém e do Templo, se reuniram em Jamnia e ali radicalizaram posições. A 19ª bênção é maldição contra os cristãos, que são considerados hereges (ham-minim). A experiência de segregado pelos mais achegados é muito cruel e sofredora! Deixa a pessoa sem raízes. No evangelho se lê Jesus indo para as cidades deles, entrando nas sinagogas deles Mt 10,17; 12,9;23,34. O autor está transmitindo uma situação dos anos 80-90 para as comunidades de predominância judaica.. Jesus lhes trazia um monte de problemas. Bastava aderir a Jesus de Nazaré para ser expulso da sinagoga e se tornar sem direitos no império romano.
A preocupação por problemas comunitários concretos Mt 13,17-28) apontam para pessoas responsáveis por coordenação como participantes da elaboração do evangelho. ”Mais significativa é a colocação do autor dentro da Igreja na qual seu evangelho viu a luz. Deveria ser um responsável pela comunidade, um homem de Igreja, um guia autorizado e preparado. A melhor qualificação parece ser a de pastor de almas, preocupado com problemas eclesiais concretos. A sua teologia, de alguém nada despreparado, antes tecnicamente muito preparado no uso da Bíblia, era toda voltada a sacudir os irmãos do torpor, a fazer maturar sua fé no sentido de uma fidelidade operativa à palavra do Senhor.” (Barbaglio.p 43).
Quais são mesmo os problemas da minha comunidade paroquial que eu não estou conseguindo enfrentar?
Problemas que não quero nem ver de frente?
Problemas que eu “chuto com a barriga”?
Preferiria fugir da situação do que resolver ou apontar soluções como fez o evangelho de Mateus?
Eu sou especialista do Deus vivo e verdadeiro ou ainda estou às voltas com um deus fabricado por mim e minhas conveniências?
A minha fé é da estatura de um Mateus?
Ou ainda é muito infantil?
Eu sou presença transformadora na minha comunidade?
Ou não marco “presença”?
Compreendo quais são as minhas posições culturais?
Sou alguém ainda muito inseguro na fé para depender de outros?
Jesus já é o centro de minha vida?
Ou Ele é ainda periférico?
A experiência de Jesus sempre de novo me desinstala?
Sei ler as coisas da vida e as coisas da bíblia e consigo fazer uma junção das duas?
Mateus tem 130 passagens da Escritura das quais 43 são citações precisas. Mas todas elas são re leitura cristã. Mateus tem 330 versículos próprios que vamos olhar mais do que os outros. Meu coração aquece com a leitura da bíblia ou eu leio como se fosse alguma coisa que não me diz respeito? Pelo jeito “bateu” muito (aparece cinco vezes !) no Mateus a expressão “homens de pouca fé” (6,30; 8,26; 14,31; 16,8; 17,20). Será que a fé é o critério que nós propomos aos nossos paroquianos? Antes disto, a fé é o critério grande para minha vida? Como se pode medir a fé? Mateus sugere que é pelas obras. Na montagem dos livrinhos Mateus coloca antes dos discursos sempre um relato de obras ou atividades. Falar é muito fácil, realizar a vontade do Pai é muito mais complicado. “Ele levava a sério a práxis cristã, isto é, uma existência tecida de gestos comprometidos de amor e misericórdia” (Barbaglio, p 43).Algumas coisas já estavam acontecendo que não poderiam ser “vontade do Pai dos céus”. A vontade dele é que sejam “perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). “A Igreja é a comunidade dos discípulos que seguem Cristo e agem de acordo com o querer do Pai” (Barbaglio, p 43). As divisões entre comunidades também já existiam. As comunidades olhavam com certa desconfiança para Paulo e se posicionavam a favor de Pedro (cf. Gl 2,14). Isto pode ser entrevisto até pela pseudonímia dos escritos que temos sob o nome de Pedro. Seria mais correto atribuir a Paulo (pois a teologia da I Pedro é paulina bem como sua linguagem e estilo. As comunidades destinatárias das cartas foram evangelizadas por Paulo.). Paulo devia “estar em baixa” mais para o final do século I. Já desde o início, com a entrada de pagãos na comunidade a comensalidade era um problema. Os “pruridos” culturais dos judeus provocaram muitos problemas de convivência. Para os pagãos não havia problema comer carnes sufocadas ou incluir bastante sangue no assado. Para os judeus isto causava estranheza e sérias dificuldades. Mateus enfrenta todos estes problemas e aponta soluções.
Eu sou Mateus para a comunidade onde estou?
Sou um dom de Deus? 
A comunidade também acha que eu sou Dom de Deus para ela?
Eu ainda me alegro pelo fato de Deus ter confiado em mim ? 
Que Deus eu represento para a comunidade?
Eu atraio o povo para Deus pelo meu modo de ser - agir e pensar - falar?
Quais são os aspectos culturais que são meus mas confundo como expressão de Deus ? 
Eu sou um teimoso diante de Deus, insistindo para que Ele me ajude a descobrir sua vontade salvadora?
Como eu articulo as pastorais de modo que uma não combata a outra mas trabalhem para uma mesma finalidade?
Como são as reuniões do Conselho de Pastoral Paroquial?
São reuniões que mostram uma justaposição de pastorais que trabalham independentes entre si e só se reúnem para combinar programas para não haver desencontros?
Minha oração é oração de desobriga ou eu coloco meu coração ali dentro para poder agir melhor?
As soluções que eu aponto são discutidas com Jesus, meu Mestre e Senhor (Mt 23,10)?
Quantas vezes já consegui brigar com Jesus Cristo?

Pe. José Bonifácio Schmidt

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.