Mateus apresenta Jesus com o título de EMANUEL (Mt 1,23) que significa Deus está Conosco, o reino está conosco! e termina afirmando “Eu estou convosco todos os dias” (28,20b).
Distribuído em 28 capítulos, subdividido em 1068 versículos, o primeiro Evangelho insiste com veemência num termo que desperta atenção: o reino. Enquanto a ocorrência é de 40 vezes no Evangelho de Lucas (24 cap. e 1160 vers.) e em Marcos de 16 vezes (16 cap. e 661 ver.), na narrativa Mateana percebe-se 55 referências ao reino.
O termo é encontrado com as seguintes abordagens diretas de Jesus: Reino dos Céus (Mt 3,2; 4,17; 5,3; 5,10; 5,19; 5,20; 7,21; 8,11; 10,7; 11,11; 12,12; 13,11; 13,33; 13,44; 13,45; 13,47; 13,52; 16,19; 18,1; 18,3; 18,4; 18,23; 19,12; 19,14; 19,23; 20,1; 22,2; 23,13; 24,14; e 25,1); Evangelho do reino (4,23; 9,35 e 24,14); Reino do Pai (6,10; 6,33; 13,43; 26,29 e 25,34); Reino de Deus (6,33; 12,28; 19,24; 21,31 e 21,43); Palavra do reino (13,19) e Reino do Filho (13,38; 13,41; 13,43; 16,28 e 20,21). E em outras ocasiões o termo é empregado por João Batista (3,2), pelo diabo (4,8), pelo narrador (9,35), pelos discípulos (18,1) e pela mãe dos filhos de Zebedeu.
Entre as vinte e duas parábolas desse Evangelho vamos encontrar em onze (a metade) delas começando com “o reino dos céus é semelhante a...” o joio e o trigo (13,24-30), o grão de mostarda (13,31-32), o fermento (13,33), o tesouro num campo (13,44), o negociante de pérolas (13,45-46), a rede (13,47-50), o devedor implacável (18,23-25), os trabalhadores da vinha (20,1-16), o banquete nupcial (22,2-14), as dez virgens (25,1-13) e os talentos (25,14-30).
A incidência com tamanha freqüência nos permite perceber o encantamento de Jesus em manifestar aos discípulos e ao povo do seu tempo a plenitude da felicidade possível a partir da vivência daquilo que ele ensinava: o reino. Entretanto, se observarmos o documento que passou a chamar-se Evangelho Segundo Mateus e tendo presente que estes textos estão disponíveis porque uma pessoa ou uma comunidade (o que parece mais provável!) registrou o conjunto das informações, com toda certeza pode-se vislumbrar de igual forma o encantamento pelo reino também de parte da comunidade Mateana. O nome atribuído ao Evangelho (Mateus) significa doado por Deus e esta narrativa que evoca o REINO certamente quer nos apresentar como o melhor presente de Deus para nós: o reino de Deus.
Jesus se mostra a nós como encantado pelo Reino. A comunidade de Mateus se mostra também encantada pelo Reino. E nós, já somos também encantados pelo reino? Já estamos encantados pelo reino? Já conhecemos esse reino? Será que um dia nós também nos encantaremos com esse reino e o compreenderemos? E somos ou seremos capazes de cooperar para a instalação deste reino?
Diversas personagens retratadas no Evangelho não compreenderam este reino. Herodes, Pilatos e Caifás são apenas alguns daqueles que não compreenderam, mas não foram os únicos. João Batista que preparara os caminhos do Senhor pregando o batismo do arrependimento, insatisfeito com a demora da instalação do reino, manda perguntar lá da prisão: “És tu aquele que deve vir, ou devemos esperar outro?” (11,3). Pedro, logo após reconhecê-Lo como “o Cristo, o Filho de Deus vivo” (16,16), quer impedi-Lo de cumprir o seu papel e é chamado de Satanás (16,21) – aquele que é contrario a Deus. A mãe dos filhos de Zebedeu quer um lugar de honra para seus filhos (20,21) nesse reino de Jesus.
Ao percebermos que ainda não compreendemos o reino apresentado por Jesus, ou se já o compreendemos, mas não conseguimos vivenciá-lo, talvez pela oração, como tantas vezes Ele mostrou, podemos pedir que venha a todos nós esse reino. Sabemos que a mensagem do Reino só será compreendida e vivenciada no dialogo com o próprio Jesus.
Ao mesmo tempo em que percebemos na narrativa a presença de 55 vezes a palavra reino, há uma outra presença constante e até mais acentuada na referencia a reis, governadores e sumo-sacerdote, quando se encontra em 77 versículos a eles referidos. Há referencia a 15 reis desde Davi até Jeconias (1,6-11), 16 referencias específicas ao rei Davi, sendo que Herodes Magno é citado 10 vezes e Herodes o Tetrarca aparece 5 vezes. Salomão é lembrado em 5 citações, César em 4, o Sumo Sacerdote Caifás é referido 7 vezes e Pilatos o governador é nominado 17 vezes.
O reino que é apresentado com encantamento por Jesus e pela comunidade de Mateus é apontado com uma forte contraposição ao reino humano que naquela região estava instalado. Revendo a historicidade dos fatos é bom lembrar que em 63 a .C. a Judéia é tomada por Pompeu e passa a ser também uma província Romana. A conquista é seguida do domínio, com a nomeação de Hircano como sumo-sacerdote e Antípater como o governador da Judéia. O imperador romano Pompeu extrai a quantia de dez mil talentos como tributos da recém conquistada Judéia (Antiguidades Judaicas, Flavio Josefo). Este altíssimo tributo será lembrado mais tarde na parábola do devedor implacável (18,23-25). Herodes Magno, filho de Antípater é o rei efetivo de 37 a 4 a .C.
A forma de agir do rei – poder absoluto – lhe permite executar em 30 a .C. a Hircano II (avô de sua mulher) e em 29 a .C. é a esposa, Mariana I, que é executada. Os filhos Alexandre e Aristóbulo, que Herodes Magno tivera com Maria I serão, a mando do pai, estrangulados em 7 a .C. Os meninos de dois anos para baixo, ao tempo do nascimento de Jesus, terão a mesma sorte; serão mortos por ordem do rei (Mt 2,16).
Com a morte de Herodes Magno o poder permanece na mão de seus filhos Arquelau, Herodes Antipas e Felipe seguidos por “praefectus” e procuradores (dentre estes o mais notável foi Pilatos de 26 a 36dC). O método não muda; o sumo-sacerdote é nomeado pelo rei e a elite religiosa (sumo-sacerdote, sacerdotes, levitas, doutores da lei, fariseus) é parte integrante do poder. É nesse contexto histórico que Jesus vem apresentar a mensagem do Pai.
Agora (um pouco antes de o evangelho ser redigido) é o Império Romano que está ditando todas as cartas até que, sob Vespasiano (de 69 a 79) pouco depois da Páscoa de 70, Tito ataca a cidade de Jerusalém, cessam-se os sacrifícios no templo que é incendiado, o palácio de Herodes e a cidade alta são conquistados e os habitantes são mortos, vendidos ou condenados a trabalhos forçados.
Diante deste quadro de domínio Imperial e de destruição do templo e da cidade de Jerusalém provocada pelos romanos no ano 70 a comunidade judaico-cristã que aderira ao ensinamento de Jesus interpreta estes fatos como uma punição divina. A parábola do banquete nupcial (22,1-14) parece retratar a situação vivida nesse tempo. Os convidados não vão ao banquete para o qual o Rei os convidara, entretanto, este manda incendiar a cidade. Nesta visão aparente de um castigo de Deus a história, os ensinamentos e as atitudes de Jesus parecem contrapor de forma bem clara a monumental diferença entre o reino dos homens (Império Romano) e o verdadeiro REINO/IMPERIO de Deus.
A opressão do reino humano até então instalado terá sua contraposição apresentada por Jesus como “Olhai as aves do céu; não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no entanto, vosso Pai celeste as alimenta. Ora, não valeis vós mais do que elas?” (7,26). Do início ao fim do Evangelho Jesus estará em conflito com a coalizão de forças exercidas pelo Império Romano e a elite religiosa subserviente e interesseira (2,1-6; 15,1). O império mostrando o poder opressivo e absoluto já antecipados em 1 Sm 8,11 ss. e a elite religiosa (sacerdotes, anciãos do templo, fariseus) por causa de sua origem, riqueza, gênero, status sacerdotal, educação religiosa especializada, etnia e/ou posição social aderente ao sistema do jugo pesado sobre o povo.
Parece-nos importante a observação dos fatos relativos à forma de exercer o Poder a partir do rei e da elite religiosa e analisarmos esta contraposição reino de Deus x reino humano. O olhar nesta perspectiva nos permite facilmente promover uma acirrada crítica ao domínio e a opressão humanos sobre os seus semelhantes. A tentação no deserto nos mostra o Império Romano (o diabo) propondo os seus valores: ter, poder e prazer (3,2). Para não ficarmos apenas na crítica histórica ou crítica a terceiros propomos uma releitura no sentido de que esta contraposição do reino de Deus quer ser feita a um “império nosso”: o império do egoísmo/egocentrismo. Mais que crítica à instituição (poder) ou às autoridades (reis, governantes) talvez o endereço atual seja a nossa visão do EU acima de qualquer outra coisa.
A primeira abordagem de Jesus é um convite: repetindo a frase do Batista Ele propõe a metanoia, a mudança radical de atitudes (4,17 e 3,2). Em sua caminhada Ele chama seguidores “... e vos farei pescadores de homens.” (4,19). Os convidados serão dois irmãos: Pedro e seu irmão André, seguido de outros dois irmãos, Tiago e João, filhos de Zebedeu. Jesus cria então uma comunidade alternativa como antecipação do pleno reinado de Deus sobre toda a imperfeição. Esta comunidade alternativa já aponta claramente nos primeiros convites: a fraternidade.
O Sermão da Montanha mostrará Jesus, em primeiro lugar, muito parecido com Moisés. É importante esta semelhança, pois que o evangelho é endereçado prioritariamente aos judeus-cristãos (e a nós também!). Subiu a montanha (como Moisés) e seus discípulos (aqui a primeira vez que o termo aparece – seus seguidores) aproximam-se dEle isto é: ficam juntos. (Obs.: aproximar aparece 52 x em Mt, cinco em Mc, 10 em Lc uma em Jo). Nesse discurso que se prolonga do cap. 5 ao cap. 7, Jesus fará SETE (5,3.10.19.20 ; 6,10.33 ; 7,21) referências ao reino. E ensinará o Pai Nosso, a oração por excelência, quando retoma uma visão abruptamente diferente: o Deus de nossos pais passa a ser Pai Nosso.
Felizes os pobres e os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. As bem-aventuranças provocam uma virada do mundo de “pernas pro ar”. A idéia que se tinha (e que se tem) é que Deus abençoa (abençoava) alguns para terem uma grande fortuna, muito além daquilo que necessitam. Parece que estes é que eram/são os mais felizes... Para Jesus não é assim. Um certo reino do ter/poder/prazer não cabe no Reino dos Céus. A condição da fraternidade verdadeira, mostrada por Jesus, obriga a que, um dia, aqueles que têm muito serão obrigados a distribuir ou a entregar o que têm demais àqueles que nada tem; neste dia os ricos é que poderão sofrer “Ai de vós,ricos”(Lc4,24).
Estes pobres e estes perseguidos que são apontados no início e no final das bem-aventuranças estão neste estado de pobreza e perseguição por que? Será que por algum motivo do reino dos céus ou por razões ocasionadas pelo (nosso?) reino humano? O reino será para o futuro? É um conceito escatológico e que só se instalará no fim dos tempos? Jesus responde que o “reino de Deus chegou até vós” (12,28).
Durante nossas celebrações, diante da saudação do presidente nós temos uma resposta decorada... Vamos lembrar: O Senhor esteja convosco!... Ele está no meio de nós. E nós já compreendemos que estando Ele no meio de nós, aqui está instalado o Reino de Deus? O que falta então se já temos compreensão, mas não percebemos a efetiva presença do reino? Um “já e ainda não”.
Onde reina o amor! Fraterno amor! Onde reina o amor, Deus aí está!
Mas afinal, o que é e o que pode ser este reino que Jesus indica. Será algo abstrato? Será apenas um sentimento que a gente desconhece? Será alguma coisa quase inatingível, incompreensível e não vivenciável? São Paulo escrevendo aos Romanos diz: “o Reino de Deus não consiste em comida e bebida, mas é justiça paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17).
A primeira e fundamental atitude de Jesus é a da absoluta obediência/dependência do Pai. Seu nascimento é anunciado por um anjo (= mensageiro de Deus), a fuga de José com a família é orientada por um anjo de Deus, ao ser batizado o Espírito de Deus sobre Ele afirma: “Este é o meu Filho amado...” (3,17b) e pelo mesmo Espírito Ele se deixa conduzir ao deserto e lá ficar quarenta dias e quarenta noites jejuando. É ao Pai que dirige suas preces e ensina a multidão a rezar ao Pai Nosso pedindo entre outras coisas que o nome de Deus seja santificado e que o reino de Deus seja instalado. A oração estará presente ao longo de toda a sua vida pública, sob a forma de louvor (11,25), na busca da benção (14,19 ; 15,36 ; 26,27), diante do medo da morte (26,39) mas completamente subjugado à vontade do Pai, e na agonia da morte (27,46) ao recitar o salmo 22.
O ensinamento de Jesus é apontar a sintonia com a vontade do Pai:
- “Venha o teu Reino (do Pai), seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (6,10);
-”... entrará no Reino dos céus aquele que pratica a vontade do meu Pai” (7,21);
- “Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai” (13,43), e ainda,
- “Buscai em primeiro lugar, seu Reino e sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (6,33) então:
Buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e tudo o mais vos será acrescentado. Aleluia, Aleluia.
A caminhada de Jesus aponta também para a instalação deste reino. Nascido em Belém (2,1), foge para o Egito (2,13), ao retornar vai morar em Nazaré na Galiléia dos pagãos (2,22-23). Da Galiléia vai até o Jordão para ser batizado (3,13), vai para o deserto (4,1).Volta para Galiléia, deixando Nazaré vai morar em Cafarnaum (4,12-13), com os discípulos vai ao país dos gadarenos (8,28), percorre cidades e povoados próximos (9,35), dirige-se a Nazaré ensina na sinagoga (13,53), retira-se para Tiro e Sidônia (15,21), retorna para as cercanias do mar da Galiléia (15,29), vai ao território de Cesaréia de Felipe (16,13), vai a um lugar a parte sobre uma montanha (17,1), retorna a Cafarnaum (17,24), encaminha-se para ir a Jerusalém (20,17), saindo de Jericó (20,29) entra em Jerusalém (21,10), saindo da cidade dirige-se a Betânia (26,6), com os discípulos vai ao Getsêmani (26,36), levam-no ao Pretório (27,27), chegando a um lugar chamado Gólgota... (27,33). Todo o itinerário de Jesus ocorre no ambiente marginal. É distante/fora do centro do poder; é aos marginais que Ele se encaminha. Ele levará outro poder aos que estão à margem do poder constituído.
A mensagem e as ações de Jesus são direcionadas para que os excluídos (os Gadarenos, a Cananéia de Tiro e Sidônia e outros), sejam INCLUIDOS, os marginalizados venham para o CENTRO, os cegos (9,27-31; 20,29-34) VEJAM o Reino dos Céus instalado, os de mão atrofiada (12,9-13) tenham suas MÃOS ABERTAS para a instalação do Reino, os coxos (4,24; 11,5; 15,29-30) ANDEM instalando o Reino, os leprosos (8,1-3) tornem-se LIMPOS E PUROS neste Reino, os surdos (9,32-33; 11,5) OUÇAM, compreendam e propaguem o Reino, os mortos (9,18-19.23-26; 11,5) voltem a TER VIDA plena neste Reino, os pobres (5,3) TENHAM PARTE neste reino, mas que ninguém se escandalize por o Reino não ser instalado sem violência mesmo que Ele diga “Desde os dias de João Batista até agora o Reino dos Céus sofre violência, e violentos se apoderam dele” (11,12), mas pelo pleno sentido da fraternidade.
O discurso de Jesus que se inicia, com as Bem Aventuranças no capítulo cinco, se prolongará com grandes ensinamentos até o final do capítulo sete nos faz lembrar Moisés no Sinai; enquanto este recebera a lei da liberdade, Jesus passa a apontar a Lei da Fraternidade. Sua mensagem, entretanto não é só discurso, falácia vazia, conselhos... Sua mensagem é de atitudes inusitadas: “Ele tratava os cegos, os coxos e os paralíticos, os marginais e os pedintes com tanto respeito como o que era devido aos de posição e condição social elevada” (NOLAN, Albert. In Jesus before christianity). Os que não tinham valor naquela sociedade eram acolhidos por Jesus – as crianças como o modelo para entrar no Reino dos Céus; as mulheres não eram mais consideradas como inferiores como eram vistas naquele tempo; com elas Ele conversava, as curava, tocava, entrava em suas casas e entre seus discípulos a presença das mulheres era muito natural (um escândalo na época). O Reino de Jesus não é o da violência, antes é o Reino da absoluta igualdade entre todos e da dignidade dos oprimidos e/ou excluídos.
Além de apresentar o Reino dos Céus como o verdadeiro Império de Deus, através de seus prodígios e milagres e operando justamente fora do centro do poder, pois que ele se dedica aos marginalizados esquecidos e explorado, Jesus será mostrado no Evangelho de Mateus, como aquele que tem a perfeita sintonia com o Pai. Ele domina as forças da natureza caminhando sobre as águas (14,22-33) e acalmando com a voz e a mão uma Tempestade no mar (8,23-27). Ele alimenta, com a força da oração, cinco mil homens com cinco pães e dois peixes (14,13-21) e mais quatro mil homens com sete pães e alguns peixes (15,32-39); registre-se que o texto assegura que não foram contadas as mulheres e as crianças. Ele demonstra através de sua ação que o domínio efetivo é o domínio do Império de Deus. Todas as forças estão sujeitas à mesma vontade que Ele se sujeita: a vontade do Pai, pois só “entrará no Reino dos Céus aquele que pratica a vontade de meu Pai” (7,21). E a demonstração do reino dos Céus será por milagres, prodígios, domínio da forças da natureza e também como o Império que efetivamente importa é o de Deus; até o imposto da didracma cobrada pelos coletores está sujeita sob ação de Deus (17,24-27), assim como na disputa sobre o tributo a César Ele irá finalmente afirmar, como efetivamente tudo é de Deus (e o mais não importa) “daí a Deus o que é de Deus (22,21)”.
O Reino dos Céus está próximo (3,2. 4,17. 10,7) e o Reino de Deus já chegou até vós (12,28). Jesus apesar de toda adversidade implanta o Reino dos Céus e o demonstra ao transfigurar-se diante Pedro, Tiago e João e falando com Moisés e Elias, ouve e deixa ressoar “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o (17,5)”. Os que não O ouvem farão de trono uma cruz, uma coroa de espinhos, uma capa escarlate e um caniço por cetro, por não aceitarem a instalação do Reino. A morte, entretanto não impedirá a instalação do Reino/Império de Deus; ressuscitado Ele dirá aos discípulos: “Todo poder me foi dado no céu e sobre a terra”... fazei que todos se tornem discípulos e observem tudo quanto vos ordenei (28,18b-20A)”.
Eu penso que imaginar que Deus Pai mandaria seu Filho se encarnar como nós para apenas morrer na cruz da forma mais cruel que os Evangelhos nos narram, é mero reducionismo ao um filicídio (assassinato de um filho) e assim mesmo tornado sagrado. A morte de Jesus foi única e exclusivamente porque aquela sociedade, não compreendendo e não aceitando a instalação do verdadeiro Reino dos Céus, promoveu a eliminação de quem só queria implantar a igualdade de dignidade de todos os filhos de Deus, indistintamente de todos como iguais.
Os próprios seguidores de Jesus, àquela época, não compreenderam a mensagem. Na última hora o deixaram sozinho, “estavam ali muitas mulheres, olhando de longe (27,55)”. Só o compreenderão quando “repletos do Espírito Santo começaram a falar outras línguas... (At 2,4)”.
E nós que nos dizemos cristãos, será que um dia compreenderemos este Reino implantado por Jesus? O nosso reino poderá ser o mesmo Reino ensinado por Jesus? Será possível a absoluta igualdade, dignidade e fraternidade entre TODOS os filhos de Deus? E o que Ele ensinou e implantou pode se tornar real e verdadeiro?Será que não falta a nós aprendermos acerca deste Reino, e depois ensinarmos aquilo que pudemos aprender? E o que nós podemos fazer para compreender a essência desta mensagem do Reino? Poderemos compreender sozinhos? E sozinhos implantar?
Que o Espírito Santo nos ajude, nos ilumine, para compreendendo a mensagem, possamos implantá-la falando na língua que Ele permitiu que os Apóstolos falassem - a língua do Amor. E aí sim, também nós poderemos dar cumprimento à última determinação do Mestre “Ide, portanto, fazei que todas as nações se tornem discípulos,... ensinando-as a observar tudo o que vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos (28,19-20)”.
No reino apresentado por Jesus, não tem lugar para súditos que se dobrem diante do rei terreno. No reino que Jesus implanta e deixa à nossa disposição o irmão é SAGRADO e a plena fraternidade é a primeira condição/exigência. Neste Reino só tem lugar para IRMÃOS que se sentem servos e SERVOS que se sentem IRMÃOS.
Ao encerrarmos esta abordagem somos convidados a recitar a oração que nos foi dada por Jesus e que é a oração retratada no Evangelho de Mateus (6,9-13) pedindo entre outras coisas que venha a nós o reino do Pai.
Breno Senger