Jesus é o revelador da vontade do Pai. ”É preciso pois observar que a revelação não significa simples notificação. Não se trata de um processo apenas cognoscitivo. Ao contrário, exprime doação daqueles bens salvíficos que Deus preparou ... quando será instaurado o Reino sobre a terra. Agora Jesus reconhece presente na sua experiência esta hora decisiva estabelecida por Deus para a salvação dos homens”.(Barbaglio, pg. 195). Em dois momentos muito significativos aparece sua missão: No Sermão da Montanha diz: “Tudo que quereis que os homens vos façam, fazei vós a eles. Pois esta é a Lei e os Profetas.” (Mt 7,12). Jesus transforma em formulação afirmativa o que se encontra em forma negativa na tradição rabínica: Tudo o que não quereis que os homens vos façam não fazei a eles. Em Mt 22,40 se lê: “Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas”. Apontando mais uma vez para o amor ao próximo como critério de prática cristã. Era esta revolução na compreensão da religião de Israel que chamou muito a atenção de Paulo (Rm 13,10; Gl 5,14)), de Tiago (Tg 2,8) e de João (I Jo 4,20).
A parábola dos dois filhos é mateana (Mt 21,28-32). Não basta dizer que vai fazer a vontade do Pai. É muito importante a gente se dar conta que até os que parecem se opor à vontade do Pai a realizam. FAZER a vontade do Pai é ouvir e praticar a palavra de Jesus (cf. 7,24). Fazer a vontade do Pai é usar a inteligência. É deixar de ser burro, tolo! A vontade de Deus passa através da pessoa de Jesus. Os interlocutores da parábola (cf.Mt 21,23) são: altos funcionários do templo, os mestres da Lei, os notáveis do povo. Não basta estar na comunidade. É preciso cumprir a vontade de Deus.
Jesus o novo Moisés, obediente ao Pai. O discurso de Estevão (Atos 7) analisa a vida de Moisés. Os primeiros quarenta anos foram de independência. Ele sozinho quer libertar o povo. Não consegue e foge. Nos quarenta anos seguintes se instala junto a um sacerdote em Madiã. Casa e tem filhos. Abandonou a luta...SE ACOMODOU!! Deus lhe aparece para convidá-lo a libertar o povo. São os outros quarenta anos em que Moisés aprende a ser servo de Deus. É a partir dos oitenta anos que aprende a ser servo de Deus! Já no deserto, o povo sempre de novo reclama e Deus se cansa. Se declara arrependido de ter libertado e quer fazer de Moisés um novo povo. Moisés repreende Deus: Não, Senhor. Este povo é teu povo. Vai ajudá-lo! (Dt.9,11-14; Ex 32,7-14). Isto, na verdade, é obediência!!! Moisés aprende a obedecer. No fim de sua missão acontece algo muito singular. Deus manda ir morrer e ele vai (Dt 34). Jesus é obediente ao Pai. A vontade do Pai é a vontade dele. Só no horto das oliveiras descobre que a vontade dele não é igual à vontade do Pai. Quer ter clareza desta!. Depois do terceiro pedido percebe que deve ser vontade do Pai sua entrega até a morte. E para nós, qual é a vontade do Pai? Esta está declarada nas bem aventuranças. A proclamação da felicidade do pobre está radicada na realeza de Deus. Não é nenhum capricho de Deus privilegiar o pobre. Só para ser o bonzinho? Não! É função do rei defender o direito e a justiça do pobre. A linguagem profética está cheia desta certeza da função real. Em Mt 22,40 mais uma vez proclama que o amor ao próximo é essencial na vontade do Pai. Este nem quer sinais do amor dirigidos diretamente a ele, como pretendem ser os sacrifícios: em duas ocasiões manifesta isto citando o profeta Oséias: A misericórdia e não os sacrifícios. (cf. Mt 9,13 e 12,7). Mas o Pai sempre dará ocasião para todos. Ele não é exclusivista. Faz chover sobre justos e injustos (Mt 5,45) e convida todos os que encontrar para participar da construção da vinha. Pode até ser na última hora, pois o Pai não rejeita e paga bem. (Mt 20,1-15). O Pai não exige restituição de todos os bens que deu a cada um mas quer que se aprenda dele a ser filhos: fazer pelos outros o que aprendemos do Pai. A parábola do servo ingrato que não foi capaz de perdoar a dívida de seu companheiro é expressão do que o Pai gostaria que acontecesse na humanidade (Mt 18,21-35). Todo tipo de violência, todas as injustiças, todas as agressões de qualquer ordem contra os outros, atinge mais o Pai do que as ofensas diretamente dirigidas a Ele. Queres ofender ao Pai então procura atingir a um dos filhos dele.
(Os sonhos de José (Mt 1 e 2) e o sonho da mulher de Pilatos (Mt 27,19) são formas usadas para falar da revelação de Deus e aponta para tantos sonhos reveladores no AT. Embora não tenha nenhum valor exegético é importante continuar com os sonhos de Deus em relação à humanidade.).
Pe. José Bonifácio Schmidt
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