Texto extraído do
livro CAMINHANDO COM JESUS.
Coleção A Palavra
na Vida 182/183.
De Carlos Mesters e
Mercedes Lopes.
Saiba mais em vendas@cebi.org.br
O evangelho deste final de semana fala dos costumes religiosos da época de Jesus,
muitos dos quais já tinham perdido seu sentido e até atrapalhavam a vida do
povo, ameaçando as pessoas com castigo e inferno. Enxergavam pecado em tudo!
Por exemplo, comer sem lavar as mãos era considerado pecado. Mesmo assim, estes
costumes eram conservados e ensinados, ou por medo, ou por superstições. Vamos
conversar sobre isso!
SITUANDO
Neste
círculo, olhamos de perto a atitude de Jesus frente à questão da pureza.
Anteriormente, Marcos já tinha tocado neste assunto da pureza: em Mc 1,23-28,
Jesus expulsou um espírito impuro. Em Mc 1,40-45, ele curou um leproso. Em Mc
5,25-34, curou uma mulher considerada impura. Em vários outros momentos, ele
tocou em doentes e deficientes físicos, sem medo de ficar impuro. Agora,
aqui no capítulo 7, Jesus ajuda o povo e os discípulos a aprofundar este
assunto da pureza e das leis da pureza.
Desde
séculos, os judeus, para não contrair impureza, eram proibidos de entrar em
contato com os pagãos e de comer com eles. Mas nos anos 70, época de Marcos,
alguns judeus convertidos diziam: "Agora que somos cristãos temos que
abandonar estes costumes antigos que nos separam dos pagãos convertidos!"
Outros, porém, achavam que deviam continuar a observar as leis de pureza. A
atitude de Jesus, descrita no evangelho de hoje, ajudava-os a superar o
problema.
COMENTANDO
Marcos 7,1-2: Controle dos fariseus e liberdade dos discípulos
Os
fariseus e alguns escribas, vindos de Jerusalém, observavam como os discípulos
de Jesus comiam pão com mãos impuras. Aqui há três pontos que merecem ser
assinalados: 1) Os escribas são de Jerusalém, da capital! Significa que tinham
vindo para observar e controlar os passos de Jesus. 2) Os discípulos não lavam
as mãos para comer! Significa que a convivência com Jesus os levou a criar
coragem para transgredir normas que a tradição impunha ao povo, mas que já não
tinham sentido para a vida. 3) O costume de lavar as mãos, que, até hoje,
continua sendo uma norma importante de higiene, tinha tomado para eles um
significado religioso que servia para controlar e discriminar as pessoas.
A
"Tradição dos Antigos" transmitia as normas que deviam ser observadas
pelo povo para ele conseguir a pureza exigida pela lei. A observância da pureza
era um assunto muito sério. Eles achavam que uma pessoa impura não poderia
receber a bênção prometida por Deus a Abraão. As normas de pureza eram
ensinadas para abrir o caminho até Deus, fonte da paz. Mas, na realidade, em
vez de ser uma fonte de paz, elas eram uma prisão, um cativeiro. Para os
pobres, era praticamente impossível observá-las. Eram centenas de normas e
leis. Por isso, os pobres eram desprezados como gente ignorante e maldita que
não conhece a lei (Jo 7,49).
Marcos 7,5: Escribas e fariseus criticam o comportamento dos discípulos de Jesus
Os
escribas e fariseus perguntam a Jesus: Por que os teus discípulos não se
comportam conforme a tradição dos antigos e comem o pão com as mãos impuras?
Eles fingem estar interessados em conhecer o porquê do comportamento dos
discípulos. Na realidade, criticam Jesus por ele permitir que os discípulos
transgridam as normas de pureza. Os fariseus formavam uma espécie de irmandade
cuja principal preocupação era observar todas as leis de pureza. Os escribas
eram os responsáveis pela doutrina. Ensinavam as leis referentes à observância
da pureza.
Jesus
responde citando Isaías: Este povo me honra só com os lábios, mas o seu coração
está longe de mim. Insistindo nas normas de pureza, os fariseus esvaziavam os
mandamentos da lei de Deus. Jesus cita um exemplo concreto. Eles diziam: o
fulano que oferecer ao Templo os seus bens não pode usar esses bens para ajudar
os pais necessitados. Assim, em nome da tradição esvaziavam o quarto
mandamento, que manda amar pai e mãe. Até hoje, tais pessoas parecem muito
observantes, mas é só por fora. Por dentro, o coração delas fica longe de Deus!
Como diz o canto: "Seu nome é Jesus Cristo e passa fome, e vive à
beira das calçadas. E a gente quando vê passa adiante, às vezes para
chegar depressa à Igreja!" No tempo de Jesus, o povo, na sua sabedoria,
não concordava com tudo que se ensinava. Esperava que, um dia, o messias
viesse indicar um outro caminho para alcançar a pureza. Em Jesus
se realiza esta esperança.
Marcos 7,14-16: Jesus abre um novo caminho para o povo se aproximar de Deus
Ele
diz para a multidão: "Não há nada no exterior do ser humano que, entrando
nele, possa torná-lo impuro!" (Mc 7,15). Jesus inverte as coisas: o
impuro não vem de fora para dentro, como ensinavam os doutores da lei, mas sim
de dentro para fora. Deste modo, ninguém mais precisa se perguntar se esta
ou aquela comida ou bebida é pura ou impura. Jesus coloca o puro e o
impuro num outro nível, no nível do comportamento ético. Ele abre um novo
caminho para chegar até Deus e, assim, realiza o desejo mais profundo do
povo.
Marcos 7,17-23: Em casa, os discípulos pedem explicação
Os
discípulos não entenderam bem o que Jesus queria dizer com aquela afirmação.
Quando chegaram em casa, pediram uma explicação. Jesus estranhou a
pergunta dos discípulos. Pensava que eles tivessem entendido a
parábola. Na explicação aos discípulos, ele vai até ao fundo
da questão da pureza. Declara puros todos os alimentos! Ou seja,
nenhum alimento que de fora entre no ser humano pode torná-lo impuro, pois não
vai até o coração, mas vai para o estômago e acaba na fosse, e, conforme o
pensamento da época, o que entrava na fossa não era considerado impuro. Mas o
que torna impuro, diz Jesus, é aquilo que de dentro do coração sai para
envenenar o relacionamento humano. E ele enumera: prostituição, roubo,
assassinato, adultério, ambição, etc.
Assim,
de muitas maneiras, pela palavra, pelo toque e pela convivência, Jesus
foi ajudando as pessoas a conseguir a pureza. Pela palavra, purificava os
leprosos, expulsava os espíritos impuros e vencia a morte, que era a fonte de
toda a impureza. Pelo toque em Jesus, a mulher excluída como impura ficou
curada. Sem medo de contaminação, Jesus comia junto com as pessoas consideradas
impuras.
ALARGANDO
As leis da pureza no tempo de Jesus
O povo
daquela época tinha uma grande preocupação com a pureza. A lei e as normas de
pureza indicavam as condições necessárias para alguém poder comparecer diante
de Deus e se sentir bem na presença dele. Não se podia comparecer
diante de Deus de qualquer jeito. Pois Deus é Santo. A Lei dizia: "Sede
santos, porque eu sou santo!" (Lv 19,2). Quem não era puro não podia
chegar perto de Deus para receber dele a bênção
prometida a Abraão.
A lei
do puro e do impuro (Lv 11 a 16) foi escrita depois do cativeiro da
Babilônia, cerca de 800 anos depois do Êxodo, mas tinha suas raízes
na mentalidade e nos costumes antigos do povo da Bíblia. Uma visão
religiosa e mítica do mundo levava o povo a apreciar as coisas, as pessoas e os
animais a partir da categoria da pureza (Gn 7,2; Dt 14,13-21; Nm 12,10-15;
Dt 24,8-9).
No
contexto da dominação persa, nos séculos V ou IV antes de Cristo, diante
da dificuldade para reconstruir o templo de Jerusalém e para a própria
sobrevivência do clero, os sacerdotes que estavam no governo do povo da Bíblia
ampliaram as leis de pureza e a obrigação de oferecer sacrifícios de
purificação pelo pecado. Assim, depois do parto (Lv 12,1-8), da menstruação (Lv
15,19-24) ou da cura de uma hemorragia (Lv 15,25-30), as mulheres tinham que
oferecer sacrifícios para recuperar a pureza. Pessoas leprosas (Lv 13) também
deviam oferecer sacrifícios. Uma parte destas oferendas ficava para os
sacerdotes (Lv 5,13).
No
tempo de Jesus, tocar um leproso, comer com publicano, comer sem lavar as
mãos, etc, tudo isso tornava a pessoa impura, e qualquer contato com esta
pessoa contaminava os outros. Por isso, as pessoas "impuras"
deviam ser evitadas. O povo vivia acuado, sempre ameaçado pelas tantas coisas
impuras que ameaçavam a vida. Era obrigado a viver desconfiado de tudo e de
todos.
Agora,
de repente, tudo mudou! Através da fé em Jesus, era possível
conseguir a pureza e sentir-se bem diante de Deus sem que fosse necessário
observar todas aquelas leis e normas da "Tradição dos Antigos".
Foi uma libertação! A Boa Nova anunciada por Jesus tirou o povo da
defensiva, do medo, e lhe devolveu a vontade de viver, a alegria de ser
filho e filha de Deus, sem medo de ser feliz!
Fonte:
http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=21¬iciaId=3313
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