Texto extraído do livro ''CAMINHANDO COM JESUS''
Círculos
Bíblicos do Evangelho de Marcos
Coleção
A Palavra na Vida 184/185.
CEBI
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O texto de Evangelho que vamos meditar hoje traz uma grande
incoerência da parte dos discípulos de Jesus. Enquanto Jesus anunciava a sua
paixão e morte, os discípulos discutiam entre si quem deles era o maior. Jesus
queria servir, eles só pensavam em mandar! A ambição os levava a querer subir
às custas de Jesus.
Esta reflexão traz o segundo anúncio da paixão, morte e
ressurreição de Jesus. Como no primeiro anúncio - Mc 8, 27-38, os discípulos
ficam espantados e com medo. Não entendem a palavra sobre a cruz, porque não
são capazes de entender nem de aceitar um Messias que se faz empregado e
servidor dos irmãos. Eles continuam sonhando com um messias glorioso. O texto
ajuda a perceber algo da pedagogia de Jesus. Mostra como ele formava os
discípulos, como os ajudava a perceber e a superar o "fermento dos fariseus
e de Herodes".
Tanto na época de Jesus como na époica de Marcos, havia o fermento
da ideologia dominante. Também hoje, a ideologia da propagandas do comércio, do
consumismo, das novelas influi profundamente no modo de pensar e de agir do
povo. Na época de Marcos, nem sempre as comunidades eram capazes de manter uma
atitude crítica frente à invasão da ideologia do império. A atitude de Jesus
com relação aos apóstolos, descrita no evangelho, as ajudava e continua
ajudando a nós hoje.
COMENTANDO
Marcos 9,30-32: O anúncio
da cruz
Jesus caminha através da Galiléia, mas não quer que o povo o
saiba, pois está ocupado com a formação dos discípulos e discípulas e conversa
com eles sobre a cruz. Ele diz que, conforme a profecia de Isaías - Is 53,1-10, o Filho do Homem deve ser entregue e morto. Isto mostra como Jesus se
orientava pela Bíblia, na formação aos discípulos. Ele tirava o seu ensinamento
das profecias. Os discípulos o escutam, mas não entendem a palavra sobre a
cruz. Mesmo assim, não pedem esclarecimento. Eles tem medo de deixar
transparecer sua ignorância.
Marcos 9,33-34: A
mentalidade de competição
Chegando em casa, Jesus pergunta: Sobre que vocês estavam
discutindo no caminho? Eles não respondem. É o silêncio de quem se sente
culpado, pois pelo caminho discutiam sobre quem deles era o maior. Jesus é bom
formador. Não intervém logo, mas sabe aguardar o momento oportuno para combater
a influência da ideologia dos seus formandos. A mentalidade de competição e de
prestígio que caracteriza a sociedade do Império Romano já se infiltrava na
pequena comunidade que estava apenas começando! Aqui aparece o contraste!
Enquanto Jesus se preocupa em ser o Messias Servidor, eles só pensam em ser o
maior. Jesus procura descer. Eles querem subir!
Marcos 9, 35-37: Servir, em vez de mandar
Marcos 9, 35-37: Servir, em vez de mandar
A resposta de Jesus é um resumo do testemunho de vida que ele
mesmo vinha dando desde o começo: Quem quer ser o primeiro seja o último de
todos, o servidor de todos! Pois o último não ganha nada. É um servo inútil
(cf. Lc 17,10). O poder deve ser usado não para subir e dominar, mas para
descer e servir. Este é o ponto em que Jesus mais insistiu e em que mais deu o
seu próprio testemunho (cf. Mc 10,45; Mt 20,28; Jo 13,1-16).
Em seguida, Jesus coloca uma criança no meio deles. Uma pessoa que
só pensa em subir e dominar não daria tão grande atenção aos pequenos e às
crianças. Mas Jesus inverte tudo! Ele diz: "Quem receber uma destas
crianças em meu nome é a mim que recebe. Quem receber a mim recebe aquele que
me enviou! Ele se identifica com as crianças. Quem acolhe os pequenos em nome
de Jesus acolhe o próprio Deus!
ALARGANDO
Um retrato de Jesus como
formador
"Seguir" era um termo que fazia parte dos sitemas da
época. Era usado para indicar o relacionamento entre o discípulo e o mestre. O
relacionamento mestre-discípulo é diferente do relacionamento professor-aluno.
Os alunos assistem às aulas do professor sobre uma determinada matéria. Os
discípulos "seguem" o mestre e convivem com ele. Foi nesta
"convivência" de três anos com Jesus que os discípulos e as
discípulas receberam a sua formação.
Não é pelo fato de uma pessoa andar com Jesus que ela já é santa e
renovada. No meio dos discípulos, cada vez de novo, a mentalidade antiga
levantava a cabeça, pois o "fermanto de Herodes e dos fariseus" - Mc
8,15, isto é, a ideologia dominante, tinha raízes profundas na vida daquele
povo. A conversão que Jesus pede quer atingir a raiz e erradicar o
"fermento''. Já vimos como Jesus combatia a mentalidade antiga de
competição e de prestígio - Mc 9,33-37 e a mentalidade fechada de quem se
considera dono de tudo - Mc 9,38-40. Eis alguns outros casos desta ajuda
fraterna de Jesus aos discípulos.
.: Mentalidade de grupo que se considera superior aos outros
.: Mentalidade de grupo que se considera superior aos outros
Certa vez, os samaritanos não queriam dar hospedagem a Jesus.
Reação dos discípulos: "Que um fogo do céu acabe com esse povo" (Lc
9,54). Achavam que, pelo fato de estarem com Jesus, todos deviam acolhê-los.
Pensavam ter Deus do seu lado para defendê-los. Era a mentalidade antiga de
"Povo eleito, Povo privilegiado!" Jesus os repreende: ''Vocês não
sabem de que espírito estão sendo animados" (Lc 9,55).
.: Mentalidade de quem
marginaliza o pequeno
.: Mentalidade de quem pensa
conforme a opinião de todo mundo
Certo dia, vendo um cego, os discípulos perguntaram: ''Quem pecou,
ele ou seus pais, para que nascesse cego?" (Jo 9,2). Como hoje, o poder da
opinião pública era muito forte. Fazia todo o mundo pensar de acordo com a
cultura dominante. Enquanto se pensa assim não é possível perceber todo o
alcance da Boa Nova do Reino. Jesus os ajuda a ter uma visão mais crítica:
''Nem ele, nem os pais dele'' (Jo 9,3). A resposta de Jesus supõe uma leitura
diferente da realidade.
Jesus, o Mestre, é o eixo, o centro e o modelo da formação. Pelas suas atitudes, ele é uma amostra do Reino, encarno o amor de Deus e o revela (Mc 6,31; Mt 10,30; Lc 15,11-32). Muitos pequenos gestos refletem este testemunho de vida com que Jesus marcava presença na vida dos discípulos e ds discípulas, preparando-os para a vida e a missão. Era a sua maneira de dar forma humana a experiência que ele mesmo tinha de Deus como Pai:
Jesus, o Mestre, é o eixo, o centro e o modelo da formação. Pelas suas atitudes, ele é uma amostra do Reino, encarno o amor de Deus e o revela (Mc 6,31; Mt 10,30; Lc 15,11-32). Muitos pequenos gestos refletem este testemunho de vida com que Jesus marcava presença na vida dos discípulos e ds discípulas, preparando-os para a vida e a missão. Era a sua maneira de dar forma humana a experiência que ele mesmo tinha de Deus como Pai:
.: Envolve-os na missão - Mc 6,7; Lc 9,1-2; 10,1.
.: Na volta, faz revisão com eles - Lc 10,17-20.
.: Corrige-os quando erram e querem ser os primeiros - Mc 9,33-35;
10,14-15.
.: Aguarda o momento oportuno para corrigir - Lc 9,46-48; Mc
10,14-15.
.: Ajuda-os a discernir - Mc 9,28-29.
.: Interpela-os quando são lentos - Mc 4,13; 8,14-21.
.: Prepara-os para o conflito - Jo 16,33; Mt 10,17-25.
.: Manda observar a realidade - Mc 8,27-29; Jo 4,35; Mt 16,1-3.
.: Reflete com eles sobre as questões do momento - Lc 13,1-5.
.: Confronta-os com as necessidades do povo - Jo 6,5.
.: Ensina que as necessidades do povo estão acima das prescrições
rituais - Mt 12,7.12.
.: Tem momentos a sós para poder instrui-los - Mc 4,34; 7,17;
9,30-31; 10,10; 13,3.
.: Sabe escutar, mesmo quando o diálogo é difícil - Jo 4,7-42.
.: Ajuda-os a aceitar a si mesmos - Lc 22,32.
.: É exigente e pede para deixar tudo por amor a ele - Mc
10,17-31.
.: É severo com a hipocrisia - Lc 11,37-53.
.: Faz mais perguntas que dá respostas - Mc 8,17-21.
.: É firme e não se deixa desviar do caminho - Mc 8,33; Lc 9,54.
.: Prepara-os para o conflito e a perseguição - Mt 10,16-25.
Este é um retrato de Jesus como formador. A formação do
"seguimento de Jesus" não era, em primeiro lugar, a transmissão de
verdades a serem decoradas, mas sim a comunicação da nova experiência de Deus e
da vida que irradiava de Jesus para os discípulos e discípulas. A própria
comunidade que se formava ao redor de Jesus era a expressão desta nova
experiência. A formação levava as pessoas a terem outros olhos, outras
atitudes. Fazia nascer nelas uma nova consciência a respeito da missão e a
respeito de si mesmas. Fazia com que fossem colocando os pés do lado dos
excluídos. Produzia, aos poucos, a "conversão" como consequência da
aceitação da Boa Nova (Mc 1,15).
Fonte: http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=21¬iciaId=3371
Fonte: http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=21¬iciaId=3371
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