sábado, 2 de março de 2013

Tempo de conversão

Continuamos caminhando com Jesus a Jerusalém, é nesse caminho que se situa o texto do evangelho de Lucas 13, 1-9 no 3º DOMINGO DE QUARESMA



É importante ter em conta que, para Lucas, esta viagem a Jerusalém é central em seu evangelho. Esta cidade sinaliza o fim trágico da vida terrena de Jesus de Nazaré e o início de sua presença ressuscitada no meio do povo.
Jesus caminha decidido a Jerusalém: "Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém" (Lc 9, 51), quer levar até o fim o projeto do Reino.
Durante a subida a Jerusalém aparecem estas pessoas com a notícia dos galileus que Pilatos tinha matado enquanto ofereciam sacrifícios.
Na mentalidade dos judeus, baseada na doutrina da retribuição, as tragédias ou catástrofes eram consideradas castigos enviados por Deus.
Em nossos dias não existe também no imaginário das pessoas a ideia de que Deus castiga? Ou se uma pessoa sofre algum tipo de mal é porque algo errado terá feito?
Se bem não saibamos com exatidão a que fato Lucas faz referência, é claro que Jesus não está de acordo com essa imagem de Deus cruel, vingador, da mentalidade de seu tempo.
Ele conhece seu Pai e sabe que não age desse modo, que seu amor é infinito e incondicional.
Por isso Jesus apresenta uma nova imagem de Deus. Aquele que não corta o diálogo com seus filhos/as por mais que eles errem. Ao contrário, está sempre disposto a dar-lhes uma nova oportunidade, convidando-os/as pacientemente a mudar de vida.
Se as tragédias ou catástrofes não são castigos divinos por nosso mau comportamento, elas são sim, muitas vezes, uma chamada de atenção à nossa consciência.
Por exemplo, o que está acontecendo com o aquecimento global do planeta,  não é ação divina, senão consequência de ações humanas conscientes ou inconscientes contra a natureza!
Obviamente que isso é contrário ao projeto de Deus que nos presenteou com a maravilha da criação para que cuidemos dela, e ela de nós!
Sob essa ótica, os diversos acontecimentos tornam-se chamados à conversão, a voltar a Deus, a mudar nossos critérios, atitudes e ações para que colaborem com seu Plano de vida para toda a criação.
As palavras de Jesus: "E se vocês não se converterem, vão morrer todos do mesmo modo", soam como um grande apelo à nossa consciência. É um convite para olhar nossa vida, não pelo medo ou culpa, mas pelo amor de Deus que quer que todos e tudo viva, e viva em abundância!
Que atitudes, ações somos convidados/as a mudar nesta quaresma para que nosso chão e todos/as os que nele habitam vivam?
O final do evangelho deste domingo nos oferece uma parábola, que ilustra mais a misericórdia e paciência de Deus.
Na bíblia, a imagem da vinha representa Israel. Segundo o texto de hoje, no meio desta vinha se encontra uma figueira, que é uma das árvores mais comuns e generosas da Palestina, que simboliza o povo eleito.
O que acontece ao povo de Deus, tão querido e cuidado por Ele que não dá fruto? Ressoa até nós o grito de Deus: "Povo meu! O que te fiz? Em que te ofendi? Responde-me?".
O surpreendente na parábola é a intervenção do agricultor diante da árvore infrutífera que esgota a terra: "Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e pôr adubo. Quem sabe, no futuro ela dará fruto! Se não der, então a cortarás".

Não só pede que não a corte, senão se oferece para dar-lhe um cuidado especial! Não há dúvida de que o Apóstolo Paulo está certo ao afirmar que a paciência de Deus é nossa salvação!
A Quaresma é uma nova oportunidade que Deus nos dá. Ele se apresenta como o simples agricultor para trabalhar a terra de nosso coração, regar-nos e adubar-nos com seu Espírito e Palavra.
 

Como outras parábolas, o final permanece aberto, não sabemos se a figueira deu ou não fruto. Deus oferece sua graça, mas precisa de nossa reposta, de nossa disponibilidade para fazer acontecer em nos e por nós seu reino de vida.

Referências
AGUIRRE MONASTERIO, Rafael; RODRIGUEZ CARMONA, Antonio.  Evangelho Sinóticos e atos dos Apóstolos. São Paulo: Ave Maria, 1994.
DURCASE, Jean. Palavras para rezar. São Paulo: Ed. Paulinas, 1993.
KONINGS, Johan. Espírito e Mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia, 1981.




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