É importante
ter em conta que, para Lucas, esta viagem a Jerusalém é central em seu
evangelho. Esta cidade sinaliza o fim trágico da vida terrena de Jesus de
Nazaré e o início de sua presença ressuscitada no meio do povo.
Jesus
caminha decidido a Jerusalém: "Estava chegando o tempo de Jesus ser levado
para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém" (Lc
9, 51), quer levar até o fim o projeto do Reino.
Durante a
subida a Jerusalém aparecem estas pessoas com a notícia dos galileus que
Pilatos tinha matado enquanto ofereciam sacrifícios.
Na
mentalidade dos judeus, baseada na doutrina da retribuição, as tragédias ou
catástrofes eram consideradas castigos enviados por Deus.
Em nossos
dias não existe também no imaginário das pessoas a ideia de que Deus castiga?
Ou se uma pessoa sofre algum tipo de mal é porque algo errado terá feito?
Se bem não
saibamos com exatidão a que fato Lucas faz referência, é claro que Jesus não
está de acordo com essa imagem de Deus cruel, vingador, da mentalidade de seu tempo.
Ele
conhece seu Pai e sabe que não age desse modo, que seu amor é infinito e
incondicional.
Por isso
Jesus apresenta uma nova imagem de Deus. Aquele que não corta o diálogo com
seus filhos/as por mais que eles errem. Ao contrário, está sempre disposto a
dar-lhes uma nova oportunidade, convidando-os/as pacientemente a mudar de
vida.
Se as
tragédias ou catástrofes não são castigos divinos por nosso mau comportamento,
elas são sim, muitas vezes, uma chamada de atenção à nossa consciência.
Por
exemplo, o que está acontecendo com o aquecimento global do
planeta, não é ação divina, senão consequência de ações humanas
conscientes ou inconscientes contra a natureza!
Obviamente
que isso é contrário ao projeto de Deus que nos presenteou com a maravilha da
criação para que cuidemos dela, e ela de nós!
Sob essa
ótica, os diversos acontecimentos tornam-se chamados à conversão, a voltar a
Deus, a mudar nossos critérios, atitudes e ações para que colaborem com seu
Plano de vida para toda a criação.
As
palavras de Jesus: "E se vocês não se converterem, vão morrer todos do
mesmo modo", soam como um grande apelo à nossa consciência. É um convite
para olhar nossa vida, não pelo medo ou culpa, mas pelo amor de Deus que quer
que todos e tudo viva, e viva em abundância!
Que
atitudes, ações somos convidados/as a mudar nesta quaresma para que nosso chão
e todos/as os que nele habitam vivam?
O final do
evangelho deste domingo nos oferece uma parábola, que ilustra mais a
misericórdia e paciência de Deus.
Na bíblia,
a imagem da vinha representa Israel. Segundo o texto de hoje, no meio
desta vinha se encontra uma figueira, que é uma das árvores mais comuns e
generosas da Palestina, que simboliza o povo eleito.
O que
acontece ao povo de Deus, tão querido e cuidado por Ele que não dá fruto?
Ressoa até nós o grito de Deus: "Povo meu! O que te fiz? Em que te ofendi?
Responde-me?".
O
surpreendente na parábola é a intervenção do agricultor diante da árvore
infrutífera que esgota a terra: "Senhor, deixa a figueira ainda este ano.
Vou cavar em volta dela e pôr adubo. Quem sabe, no futuro ela dará fruto! Se
não der, então a cortarás".
Não só
pede que não a corte, senão se oferece para dar-lhe um cuidado especial! Não há
dúvida de que o Apóstolo Paulo está certo ao afirmar que a paciência de
Deus é nossa salvação!
A Quaresma
é uma nova oportunidade que Deus nos dá. Ele se apresenta como o simples
agricultor para trabalhar a terra de nosso coração, regar-nos e adubar-nos com
seu Espírito e Palavra.
Como
outras parábolas, o final permanece aberto, não sabemos se a figueira deu ou
não fruto. Deus oferece sua graça, mas precisa de nossa reposta, de nossa
disponibilidade para fazer acontecer em nos e por nós seu reino de vida.
Referências
AGUIRRE MONASTERIO, Rafael; RODRIGUEZ CARMONA,
Antonio. Evangelho Sinóticos e atos dos Apóstolos. São Paulo: Ave
Maria, 1994.
DURCASE, Jean. Palavras para rezar. São Paulo:
Ed. Paulinas, 1993.
KONINGS, Johan. Espírito e Mensagem da liturgia
dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia, 1981.
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