sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

As bodas em Caná (João 2,1-11)


No início do tempo comum, a Igreja nos oferece uns dos textos mais bonitos do evangelho de João.


Depois da passagem de Jesus pelo deserto, do encontro com o Batista e seus primeiros discípulos, o evangelista nos conduz a uma festa de casamento em Caná de Galiléia, uma simples aldeia, situada a uns 10 km. de Nazaré, rodeada de pequenas colinas cobertas de oliveiras.

Fazendo uso de nossa imaginação, podemos recriar este dia de festa e alegria no qual Jesus participava como convidado com sua mãe e amigos.

Para os novos discípulos de Jesus que tinham vivido com o Batista anteriormente, era sem dúvida contrastante estar com seu novo Mestre numa festa de casamento!

João Batista vivia e pregava no deserto, vestia peles de camelo e comia gafanhotos e mel silvestre (Mc 1, 6). Suas palavras revelavam um Deus irado e exigente (Mt 3,7-10).

Agora a imagem de Jesus é totalmente diferente: é um Messias que partilha sorridente as alegrias do povo.
Desta maneira, o evangelista, desde o início da vida pública de Jesus, mostra o essencial que Ele veio nos revelar, uma nova imagem de Deus!

Não é o Deus temível do Batista, não é o Deus preso à lei dos fariseus (simbolizado nos potes de pedra), o Deus que Jesus revela é um Deus alegre, simples, terno, que celebra a vida.

Pensemos quantas perguntas passariam pela cabeça dos discípulos e discípulas de Jesus, que eram de tradição judaica, alguns seguidores do Batista.

Eles nos ensinam qual é a atitude principal de um/a discípulo/a, permanecer junto com o Mestre, estar com Ele, segui-Lo, mesmo sem compreender tudo, porque é no caminhar juntos que o vamos conhecendo, sem conhecê-Lo plenamente. 


Entra em cena Maria, trazendo no meio da festa a necessidade dos noivos: "Eles não têm mais vinho!".

Que necessidades Maria sinalizaria hoje, na festa da vida: "Eles não têm o que comer", "Eles trabalham como escravos", "Eles não têm moradia digna", "Eles não encontram sentido para sua vida"...

Cada um/a de nós pode se sensibilizar e solidarizar com Maria olhando para a realidade na qual vivemos, e como ela apresentá-la a Jesus. Que diríamos para Ele?
Maria espera que seu Filho atue, confia nele, guarda em seu coração as palavras do Anjo: "Eis que você terá um filho, e dará a ele o nome de Jesus. Ele será grande, e será chamado Filho do Altíssimo" (Lc 1,31-32).

Ela simboliza todos aqueles que, em Israel, esperam a realização das promessas messiânicas. Representa aqueles que conscientes da realidade aguardam algo novo, não só não se conformam senão querem e esperam algo mais!

E aqui o evangelista nos mostra uma característica nova de Jesus. Ele se deixa tocar e comover pelo sofrimento dos outros. Ele se apresenta como um Deus sensível e próximo. Que diferente do Deus inacessível e intocável dos fariseus e sacerdotes da Lei!

Jesus não age sozinho, precisa da comunidade para fazer acontecer o novo: "Jesus disse aos que serviam: «Encham de água esses potes»".


Os potes de pedra serviam para a purificação dos judeus, segundo a sua tradição. O evangelista disse que eram seis, representando neles o Antigo Testamento, a Antiga Aliança.

Mas eles já nos servem mais, ao transformar a água em vinho, Jesus inaugura um tempo novo, uma nova festa caracterizada pela generosidade e gratuidade de Deus que a faz possível.

O mestre-sala não sabia de onde vinha o vinho novo, mas "os que serviam estavam sabendo, pois foram eles que tiraram a água".

A comunidade representada nos serventes, é testemunha da ação de Jesus: "Porque a vida se manifestou, nós a vimos, dela damos testemunho..." (1Jo 1, 2).

O primeiro sinal de Jesus é através do vinho novo, que permite a festa de casamento acontecer. No final da sua vida, Ele oferecerá de novo vinho, que é o seu próprio sangue que selará a aliança da humanidade com Deus para sempre.

Neste texto, o evangelista nos apresenta já o projeto de vida nova que Jesus traz, fazer acontecer a verdadeira festa da vida em abundância, na qual todos/as somos convidados/as a ser ativos /as protagonistas.

A mesa está pronta, o banquete servido, o vinho oferecido, e o povo em aliança com Deus, caminha solidário com a humanidade sofrida na busca de continuar fazer a festa acontecer.

Referências
BROWN, Raymond. La Comunidad del discípulo amado. Salamanca: Sígueme, 1983.
KONINGS, Johan. Espírito e Mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia, 1981.
SHUSAKU, Endo. Jesus. Santander: Sal Terrae, 1973.
SUSIN, Luiz Carlos. Jesus Filho de Deus e Filho de Maria. São Paulo: Paulinas, 1997.


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