Texto
extraído do livro "Raio-X da Vida"
Círculos Bíblicos do Evangelho de João.
Coleção A Palavra na Vida 147/148.
Autores: Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino.
CEBI Publicações.
Saiba mais vendas@cebi.org.br.
Círculos Bíblicos do Evangelho de João.
Coleção A Palavra na Vida 147/148.
Autores: Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino.
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OLHAR DE PERTO AS COISAS
DA NOSSA VIDA
No texto de hoje, vamos refletir a história da multiplicação dos
pães. O povo ia atrás de Jesus, porque via os sinais que ele fazia para os
doentes. Era um povo faminto e doente, como um rebanho sem pastor. Estava
desorientado. Buscava sinais, buscava um líder. Seguia a Jesus, porque
enxergava nele o novo líder capaz de resolver os seus problemas. Vendo aquela
multidão de gente que o procurava, Jesus confronta os discípulos com a fome do
povo. Alguma coisa tinha de ser feita!
SITUANDO
No Situando do 8º Círculo Bíblico deste mesmo livro, vimos o
esquema das sete festas e dos sete sinais. Aqui, neste novo círculo, estamos na
festa da Páscoa, a 4ª festa (Jo 6,4). Nela acontecem dois sinais: a
multiplicação dos pães (4º sinal) e a caminhada sobre as águas (5º sinal). Em
seguida, vem o longo diálogo sobre o Pão da Vida (Jo 6,22-71). O enfoque
central é o confronto entre a antiga Páscoa do Êxodo e a nova Páscoa que se
realiza em Jesus:
Jo 6,1-15: Multiplicação dos pães - Como Moisés, Jesus dá de comer ao povo no deserto;
Jo 6,16-21: Caminhada sobre as águas - Como o povo, Jesus atravessa o mar;
Jo 6,22-71: Diálogo sobre o Pão da Vida - Esclarece a nova Páscoa que se realiza em Jesus.
Jo 6,1-15: Multiplicação dos pães - Como Moisés, Jesus dá de comer ao povo no deserto;
Jo 6,16-21: Caminhada sobre as águas - Como o povo, Jesus atravessa o mar;
Jo 6,22-71: Diálogo sobre o Pão da Vida - Esclarece a nova Páscoa que se realiza em Jesus.
COMENTANDO
1. João 6,1-4: A Situação
"Estava próxima a Páscoa". Na antiga páscoa, aquela do
êxodo do Egito, o povo atravessou o Mar Vermelho. Aqui na nova páscoa, Jesus
atravessa o Mar da Galiléia. Uma grande multidão seguia a Moisés no primeiro
êxodo. Uma grande multidão segue Jesus nesse novo êxodo. No primeiro êxodo,
Moisés subiu a Montanha. Jesus, o novo Moisés, também sobe à montanha. O povo
seguia a Jesus porque tinha visto os sinais que ele fazia para os doentes.
2. João 6,5-7: Jesus e
Filipe
Uma vez no deserto, apareceu a fome do povo. Vendo a multidão
faminta, Jesus pergunta a Filipe: "Onde vamos comprar pão para esse povo
comer?" Fez a pergunta para prová-lo, porque ele sabia o que fazer. Como
sabia? É que, conforme a Escritura, no primeiro êxodo, Moisés tinha conseguido
alimento para o povo faminto. Jesus, o novo Moisés, irá fazer a mesma coisa.
Mas Filipe, em vez de olhar a situação à luz das Escrituras, olha a situação
com os olhos do sistema e responde: "Duzentos denários não bastam!"
Um denário era o salário mínimo de um dia. Filipe constata o problema e
reconhece a sua total incapacidade para resolvê-lo. Faz o lamento, mas não
apresenta solução.
3. João 6,8-9: André e o
menino
André, em vez de lamentar-se, busca uma solução. Ele encontra um
menino com cinco pães e dois peixes, disposto a partilhá-los. Cinco pães de
cevada e dois peixes eram o sustento ou a ração do pobre. O menino entrega o
seu sustento! Ele poderia ter dito: "Cinco pães e dois peixes, o que é
isso para tanta gente? Não vai dar para nada! Vamos partilhá-los aqui entre nós
com duas ou três pessoas!" Em vez disso, tem a coragem de entregar cinco
pães e dois peixes para alimentar 5 mil pessoas (Jo 6,10). Andre percebe que
neste gesto do menino está a solução. Por isso, levou-o até Jesus. Quem faz
isso, ou é louco ou tem muita fé em Jesus e nas pessoas, acreditando que,
por amor a Jesus, todos se disponham a partilhar como fez o menino!
4. João 6,10-11: A
multiplicação
Jesus pede para o povo se acomodar na grama. Em seguida, multiplica
o sustento, a ração do pobre. Diz o texto: "Jesus tomou os pães e, depois
de ter dado graças, distribuiu-os aos presentes, assim como os peixes, tanto
quanto queriam!" Com esta frase, escrita no ano de 100 depois de Cristo,
João evoca o gesto da Ceia, do jeito que era celebrada nas comunidades (1Cor
11,23-24). A Ceia Eucarística, quando celebrada como deve, levará as pessoas à
partilha como levou o menino a entregar seu sustento para ser partilhado.
5. João 6,12-13: A
sobra dos 12 cestos
Jesus manda recolher a sobra do pão. Recolheram 12 cestos. O
número 12 evoca a totalidade do povo com suas 12 tribos. João não informa se
sobrou algo dos peixes. É que o interesse dele era evocar o pão como símbolo da
Ceia Eucarística. João não descreve a Ceia Eucarística, mas descreve a
multiplicação dos pães como símbolo do que deve acontecer nas comunidades e no
mundo através da celebração da Ceia Eucarística. Por exemplo, se no Brasil
houvesse partilha, haveria comida abundante para todos e sobrariam 12 cestos para
muitos outros povos! E dizem que o Brasil é o maior país cristão
do mundo! Ah, se fosse...!
6. João 6,14-15: Querem
fazê-lo rei
O povo interpreta o gesto de Jesus dizendo: "Esse é
verdadeiramente o profeta que deve vir ao mundo!" A intuição do povo
é correta. Jesus de fato é o novo Moisés, o Messias, aquele que o povo estava
esperando (Dt 18,15-19). Mas esta intuição tinha sido desviada pela ideologia
da época que "queria um grande rei que fosse forte e dominador". Por
isso, vendo o sinal, o povo proclama Jesus como Messias e avança para fazê-lo
rei! Jesus, percebendo o que ia acontecer, refugia-se sozinho na montanha. Não
aceita esta maneira de ser messias e aguarda o momento oportuno para
ajudar o povo a dar um passo.
ALARGANDO
O Livro dos Sinais
Já vimos na Introdução que o Evangelho de João se formou a partir
de dois livros mais antigos: o Livro dos Sinais e o Livro
da Glorificação. O Livro dos Sinais foi escrito para que as pessoas,
através do sinais realizados por Jesus, pudessem crer que ele é "o Cristo,
o Filho de Deus, e para que, crendo, tenham a vida em seu nome" (Jo
20,30-31).
O autor tem consciência de que está selecionando alguns sinais, já
que afirma que "Jesus fez muitos outros sinais ainda, que não estão
escritos neste livro" (Jo 21,25). Assim, João preservou sete sinais
prodigiosos de Jesus: a transformação da água em vinho em Caná (Jo
2,1-11); a cura do filho do funcionário real, também em Caná (Jo
4,46-54); a cura do paralítico em Jerusalém (Jo 5,1-18); a multiplicação dos pães
na Galiléia (Jo 6,1-15); a caminhada sobre o mar (Jo 6,16-21); a cura do cego
de nascença em Jerusalém (Jo 9,1-41) e a ressurreição de Lázaro em Betânia (Jo
11,1-44).
No Quarto Evangelho, não aparecem os inúmeros milagres de Jesus
como nos outros evangelhos, e nenhum relato de um gesto de expulsão de
demônios. O Evangelho de João chama estes acontecimentos de "sinais"
e não de "milagres", como nos outros evangelhos. Por que esta
diferença? É que, para João, estes sinais de Jesus exigem uma tomada de posição
por parte das pessoas.
Os sinais de Jesus podem provocar fé. Em Caná, diante do sinal do
vinho, os discípulos tiveram fé em Jesus (Jo 2,11). Também em Jerusalém os
sinais provocam adesão e fé (Jo 2,23). Movido por estes mesmos sinais,
Nicodemos busca saber quem é Jesus (Jo 3,2). O funcionário real e sua família
se convertem diante do sinal feito por Jesus (Jo 4,54). Mas Jesus exige algo
mais. Ele desconfia de uma fé que vive pedindo sinais (Jo 2,18; 2,23-25; 4,48).
Os sinais nem sempre suscitam fé em Jesus (Jo 6,26; 12,37).
Para Jesus não é necessário "ver para crer!" (Jo 20,29).
Talvez por isso João relata apenas sete sinais. Ele destaca estes sinais para
que as pessoas que buscam a glória de Deus possam penetrar no mistério da vida
de Jesus e descobri-lo como verdadeiro Messias e Filho de Deus (Jo 1,14; 2,11;
20,30-31).
Os sinais feitos por Jesus são expressão do amor de Deus pela
Humanidade. Desta forma João busca ligar Jesus com as manifestações da glória
de Deus no Antigo Testamento. No AT "glória" é a manifestação
visível do Deus invisível através de atos e feitos extraordinários (Ex 16,7-10;
24,17; Nm 14,11-22; Dt 7,19-29; 29,1-3). Através destes sete sinais
extraordinários de Jesus, a comunidade pode ter a certeza de que Deus continua
junto com o povo, num novo êxodo para a liberdade.