sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Jesus faz uma escolha no deserto pelo discernimento (Marcos 1,12-15)

Texto extraído do livro "Jesus no Evangelho de Marcos"
Autor: Pe. José Bonifácio Schmidt
Comissão da Animação Bíblica Pastoral
Arquidiocese de Porto Alegre


Leitura é um estudo: Supomos sempre que o Espírito Santo só faz coisas boas para a gente. Mas mandar alguém para o deserto não parece coisa boa, pelo contrário.  Parece e é ruim.  Lá não tem nada, falta tudo.  Tem até muitos riscos: fome, sede, frio, calor, veneno, isolamento, feras, como leão, hienas, chacais, lobos, cobras, escorpiões, etc.  E Jesus foi impelido pelo Espírito para o deserto!

Mas.  Sempre tem uma “mas”!?  Tendo sido por um tempo discípulo de João Batista (Mc 1,9), Jesus teve várias ocasiões para um silêncio muito fértil no deserto.  De fato, o silêncio é muitas vezes mais fértil do que o barulho de qualquer som.  Foi no deserto que Jesus esteve muitas vezes em oração.  Marcos até diz que foram quarenta dias de deserto (Mc 1,12s) até para lembrar os 40 anos do povo sendo educado por Deus no deserto.  Lá, com a força e iluminação do Espírito Santo Jesus soube superar as tentações de Satanás.

Para Jesus o deserto foi para vencer as tentações de Satanás.  Quando vem Satanás é preciso cuidado para conseguir vencer porque ele vem com muitas propostas que parecem muito boas.  Mas Jesus não entrou na conversa de Satanás!  De acordo com os outros evangelistas, Mateus e Lucas, as tentações de Ter, Poder e Prazer são muito fortes.  É preciso fazer um bom discernimento!  Saber o que é o melhor e  diferenciar do que só é bom.  Muitos escolhem o que é bom e deixam o que é o melhor! É uma grande pena que as pessoas só escolhem o que é bom e deixam o melhor!  Escolher o melhor!  É para isto que existimos!  É Jesus quem nos ensina a discernir o  melhor para a vida da gente neste nosso chão.  Sigamos os passos de Jesus que revela a palavra salvadora do Pai que sempre quer que escolhamos o melhor.
A prisão de João foi o sinal para Jesus ir à Galiléia e começar a sua pregação:  O Reino de Deus está presente (próximo)(Mc 1,15).  Jesus fez um discernimento da vontade do Pai no deserto e entendeu que com a prisão de João Batista tinha chegado a sua vez de pregar.  A Boa Notícia de Deus: o Reino de Deus.  Jesus entendeu: vou me deixar guiar por Deus.  Jesus fez este discernimento.

Ele propõe este reino para seus ouvintes, a grande maioria é povo sofrido sob o peso de autoridades que não queriam o bem do povo, mas o sugavam até a morte.  Jesus sabe que está andando por um caminho perigoso.  Vai encontrar muita rejeição.  Mas vai ser sinal de Deus para os pobres e infelizes.

Jesus encontrou um sentido para sua vida na doação integral ao povo que vivia uma vida muito sacrificada.  Jesus sofreu incompreensões, perseguições e muita cruz na sua vida itinerante.  Mas não desistiu.  Seguir a vontade do Pai que é uma vontade salvadora foi o objetivo da vida de Jesus dedicada totalmente aos outros.  Encontrou sentido ao dedicar a sua vida para os outros ao lhes propor o projeto do Reino de Deus.  Ainda hoje faria a mesma coisa.  Se dedicar aos outros totalmente.  Muitos encontraram com as palavras e as atitudes de Jesus um novo sentido para sua vida, um sentido de alegria, de realização, de plenificação.  E assim se converteram, isto é, mudaram de mentalidade.  Conversão é isso: mudar de mentalidade!  Assumir a mentalidade de Jesus é converter-se.  E só com a mudança de mentalidade se compreende o Reino de Deus.

Nós rezamos com frequência, no Pai nosso: “Seja feita a vossa vontade”. Somos sinceros? Reconhecemos, como Jesus, que a vontade de Deus Pai é sempre salvadora? E procuramos realmente fazer, por em prática a vontade do Pai? Aqui, parece há uma boa caminhada a ser feita. Experimentemos e vamos constatar que a vontade de Deus é de fato salvadora.  Todo o discípulo vai percebendo que o exemplo de Jesus é revelação da Palavra do Pai.

Invoquemos o mesmo Espírito que impeliu Jesus ao deserto para que Ele nos ilumine e nos conduza para descobrir a Palavra de Deus para nós hoje a partir deste texto de Marcos.

Meditação: Perguntemos o que Deus nos quer dizer através deste modo de Jesus olhar a sua vida.  Qual é a Palavra que Deus no dirige?  Nós nos perguntamos, à luz do exemplo de Jesus, qual é o sentido que nós estamos dando à nossa vida.  Jesus refletiu, rezou e encontrou com a força do Espírito Santo, um sentido à vida de total doação para o bem dos outros, sobretudo dos pobres, sofredores, doentes, escravos, mulheres e crianças.  E vivia uma vida muito alegre.

Vamos responder honestamente:  O exemplo de Jesus ao fazer escolhas conscientemente, com discernimento feito no deserto, me anima para imitar e fazer escolhas com discernimento do Espírito Santo?  No silêncio respondamos pessoalmente: o que Deus está dizendo para nós?

Oração: Sentimos algo diferente até agora?  O que sentimos? O que o texto e o que sentimos, nos faz dizer para Deus?  Cada um de nós é casa do Espírito Santo.  Ele mora no mais profundo de nós mesmos.  Vamos nos encontrar com Ele e aceitar o que Ele nos sugere?  Vamos exercitar-nos no discernimento como Jesus fez em sua vida?  A resposta depende exclusivamente de nós.  Mas cuidado!  Não vamos dizer sim ao discernimento só para agradar.  É preciso realizar, pôr em prática.

Exercitemos um “deserto” ficando quietos para que aconteça, mesmo estando juntos, um encontro com o mais profundo de nós mesmos onde está o Espírito Santo.

Contemplação:  No dia em que os cristãos católicos forem como Jesus o mundo não será mais o mesmo.  Vamos experimentar para ver se é verdade?  Se todos os cristãos forem de fato discípulos de Jesus serão também missionários.

Qual será nossa prática de hoje em diante com Jesus nos ajudando no discernimento para escolhas acertadas?  Vamos aceitar o que o Espírito nos sugere para um bom seguimento de Jesus?

Como me sinto diante deste Jesus que Marcos apresenta?


Quaresma

Chama-se Quaresma os 40 dias de jejum e penitência que precedem à festa da Páscoa. Essa preparação existe desde o tempo dos Apóstolos, que limitaram sua duração a 40 dias , em memória do jejum de Jesus Cristo no deserto. Durante esse tempo a Igreja veste seus ministros com paramentos de cor roxa e suprime os cânticos de alegria: O "Glória", o "Aleluia" e o "Te Deum".
 
Na Quaresma, que começa na quarta-feira de cinzas e termina na quarta-feira da Semana Santa, os católicos realizam a preparação para a Páscoa. O período é reservado para a reflexão, a conversão espiritual. Ou seja, o católico deve se aproximar de Deus visando o crescimento espiritual. Nesse tempo santo, a Igreja católica propõe, por meio do Evangelho proclamado na quarta-feira de cinzas, três grandes linhas de ação: a oração, a penitência e a caridade.

Essencialmente, o período é um retiro espiritual voltado à reflexão, onde os cristãos se recolhem em oração e penitência para preparar o espírito para a acolhida do Cristo Vivo, Ressuscitado no Domingo de Páscoa.
Assim, retomando questões espirituais, simbolicamente o cristão está renascendo, como Cristo.

 

Por que a Igreja utiliza a cor roxa nesse tempo?
 
A cor litúrgica deste tempo é o roxo que simboliza a penitência e a contrição. Usa-se no tempo da Quaresma e do Advento.

 


Nesta época do ano, os campos se enfeitam de flores roxas e róseas das quaresmeiras. Antigamente, era costume cobrir também de roxo as imagens nas igrejas. Na nossa cultura, o roxo lembra tristeza e dor. Isto porque na Quaresma celebramos a Paixão de Cristo: na Via-Sacra contemplamos Jesus a caminho do Calvário

Qual o significado destes 40 dias?
 
Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material. Os zeros que o seguem significam o tempo de nossa vida na terra, suas provações e dificuldades. Portanto, a duração da Quaresma está baseada no símbolo deste número na Bíblia. Nela, é relatada as passagens dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou a estada dos judeus no Egito, entre outras. Esses períodos vêm sempre antes de fatos importantes e se relacionam com a necessidade de ir criando um clima adequado e dirigindo o coração para algo que vai acontecer.


O Jejum 

 
A igreja propõe o jejum principalmente como forma de sacrifício, mas também como uma maneira de educar-se, de ir percebendo que, o que o ser humano mais necessita é de Deus. Desta forma se justifica as demais abstinências, elas têm a mesma função. Oficialmente, o jejum deve ser feito pelos cristãos batizados, na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa.



Pela lei da igreja, o jejum é obrigatório nesses dois dias para pessoas entre 18 e 60 anos. Porém, podem ser substituídos por outros dias na medida da necessidade individual de cada fiel, e também praticados por crianças e idosos de acordo com suas disponibilidades.

 
O jejum, assim como todas as penitências, é visto pela igreja como uma forma de educação no sentido de se privar de algo e reverte-lo em serviços de amor, em práticas de caridade. Os sacrifícios, que podem ser escolhidos livremente, por exemplo: um jovem deixa de mascar chicletes por um mês, e o valor que gastaria nos doces é usado para o bem de alguém necessitado.


Qual é a relação entre Campanha da Fraternidade e a Quaresma?


A Campanha da Fraternidade é um instrumento para desenvolver o espírito quaresmal de conversão e renovação interior a partir da realização da ação comunitária, que para os católicos, é a verdadeira penitência que Deus quer em preparação da Páscoa. Ela ajuda na tarefa de colocar em prática a caridade e ajuda ao próximo. É um modo criativo de concretizar o exercício pastoral de conjunto, visando a transformação das injustiças sociais.



Desta forma, a Campanha da Fraternidade é maneira que a Igreja no Brasil celebra a quaresma em preparação à Páscoa. Ela dá ao tempo quaresmal uma dimensão histórica, humana, encarnada e principalmente comprometida com as questões específicas de nosso povo, como atividade essencial ligada à Páscoa do Senhor.


Quais são os rituais e tradições associados com este tempo?

As celebrações têm início no Domingo de Ramos, ele significa a entrada triunfal de Jesus, o começo da semana santa. Os ramos simbolizam a vida do Senhor, ou seja, Domingo de Ramos é entrar na Semana Santa para relembrar aquele momento.




Depois, celebra-se a Ceia do Senhor, realizada na quinta-feira Santa, conhecida também como o lava pés. Ela celebra Jesus criando a eucaristia, a entrega de Jesus e portanto, o resgate dos pecadores.




Depois, vem a missa da Sexta-feira da paixão, também conhecida como Sexta-feira Santa, que celebra a morte do Senhor, às 15h. Na sexta à noite geralmente é feita uma procissão ou ainda a Via Sacra, que seria a repetição das 14 passagens da vida de Jesus.

 


No sábado à noite, o Sábado de Aleluia, é celebrada a Vigília Pascal, também conhecida como a Missa do Fogo. Nela o Círio Pascal é acesso, resultando as cinzas. O significado das cinzas é que do pó viemos e para o pó voltaremos, sinal de conversão e de que nada somos sem Deus. Um símbolo da renovação de um ciclo.



 
Os rituais se encerram no Domingo, data da ressurreição de Cristo, com a Missa da Páscoa, que celebra o Cristo vivo.

 



CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil


Fonte: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?id=&e=4701

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

4ª feira de Cinzas




AS CINZAS
Quando recebemos os ramos no Domingo de Ramos, os levamos para as nossas casas e as colocamos junto aos nossos crucifixos de parede e/ou junto aos nossos oratórios, mas com o tempo eles secam. Quando secam, não devemos jogá-los fora, pois foram bentos pelo presbítero. Por isso, devemos entregá-los na igreja para que sejam queimados e transformados em cinzas, a fim de serem usadas no dia de Quarta-Feira de Cinzas do ano seguinte.

O RITUAL

Na Quarta-Feira de Cinzas, os fiéis são marcados na testa com as cinzas em forma de cruz ou a recebem um pouco sobre assuas cabeças, quando o presbítero pronuncia a seguinte frase, à sua escolha: -"Lembra-te que és pó e que ao pó voltarás!" ou "Convertei-vos e crede no Evangelho!"

PREPARAÇÃO PARA A PÁSCOA

Começa na quarta-feira de cinzas a nossa preparação para a Páscoa. Colocando cinza sobre a nossa cabeça, como sinal de penitência, isto é, como sinal de que estamos dispostos a nos alinharmos no caminho de Deus com seu projeto de justiça e paz para todos. Além disso, passamos esse dia fazendo jejum, também como sinal de penitência. Serão então quarenta dias de preparação: Quaresma…




O QUE CELEBRAMOS

Quarta-feira de cinzas! Celebramos neste dia o mistério do Deus misericordioso que acolhe nossa penitência, nossa conversão, isto é, o reconhecimento de nossa condição de criaturas limitadas, mortais, pecadoras. Conversão que consiste em crer no Evangelho, isto é, aderir a ele, viver segundo o ensinamento do Senhor Jesus. Numa palavra, trata-se de entrar no caminho pascal de Jesus. “Convertei-vos, e crede no Evangelho”: é o convite que Jesus faz (cf. Mc 14,15). Esta palavra, a gente ouve, recebendo cinzas sobre a nossa cabeça. Por que cinzas? É para lembrar que, de fato somos pó! Mas não reduzidos a pó!…

A fé em Jesus ressuscitado faz com que a vida renasça das cinzas. Quando o ser humano reconhece sua condição de criatura realmente necessitada da ação de Deus, em Cristo e no Espírito, então Jesus Cristo faz brotar vida de nossa condição mortal. Reconhecer-se assim, é entrar numa atitude pascal, isto é, de passagem com Cristo da morte para a vida.

Esta páscoa, a gente vive na conversão, através dos exercícios da oração, do jejum e da esmola ou partilha de bens e gestos solidários, no espírito do Sermão da Montanha. Páscoa que celebramos na Eucaristia, pela qual aclamamos Deus como aquele que, acolhendo nossa penitência, corrige nossos vícios, eleva nossos sentimentos, fortifica nosso espírito fraterno e, assim, nos dá a graça de nos aproximarmos do seu jeito misericordioso de ser, e nos garante uma eterna recompensa.



SIGNIFICADO DAS CINZAS

Desde a antiguidade, existe o costume de cobrir a cabeça com cinzas, para expressar a submissão a Deus e a decisão demudar de vida. Foi assim que Davi se cobriu com cinzas para pedir perdão de seu adultério e mudar de vida. Foi assim que os Ninivitas se cobriram com cinzas para mostrar sua mudança de vida, após os 40 dias de pregação de Jonas. Foi assim que a Igreja exigia que os penitentes públicos – que tinham cometido homicídio, um pecado público – passassem os 40 dias da Quaresma, cobertos de cinzas, nas portas das igrejas.

A Quarta-Feira de Cinzas existe desde o século VIII, com imposição das cinzas na cabeça do cristão, para que se reconheça limitada, fraca e imperfeita, convertendo seu comportamento para Deus e mudando sua vida.

Os ramos passam pelo fogo purificador do sofrimento, do aniquilamento do egoísmo e orgulho. Essa passagem pelo fogo é Páscoa, mudança de vida e transformação de comportamento. Assim aqueles ramos ‘vitoriosos’, que simbolizaram a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, iniciando o caminho da cruz para o calvário, estão reduzidos a cinzas. Essas cinzas lembram que Deus se reduziu à morte de cruz, para nos dar a vida eterna, a libertação da morte.

As cinzas significam também, que devemos tomar consciência de nossos limites para motivar a mudança e a purificação de nossa vida. A imposição das cinzas em nossa cabeça significa, ainda, que a comunidade quer nos proteger, nos cobrir de energia e nos dar todas as forças e bênçãos de Deus.

Por isso, o rito das cinzas não pode ser para o povo uma cerimônia vazia ou de caráter mágico. Esse rito quer colocar a pessoa humana em seu verdadeiro lugar diante de Deus, dos outros e da natureza.

O rito das cinzas quer nos deixar com o coração purificado, com a cabeça despojada e desprendida, e com a vontade disposta e decidida.

O tempo, como o fogo, reduz a cinzas nossa vida exuberante. Tudo o que tem vida, com o tempo, envelhece, enfraquece, enruga, murcha, se torna pó. O grão, colocado na terra, morre para frutificar. A mortificação dos sentidos para fortalecer o espírito e o despoja-se da ambição para se voltar aos irmãos e a Deus, é o sentido das cinzas hoje.




QUARESMA E CELEBRAÇÕES NA QUARTA-FEIRA DE CINZAS

O período da Quaresma corresponde aos quarentas dias anteriores à Semana Santa. Começa na Quarta-feira de Cinzas e vai até o sábado anterior ao Domingo de Ramos. O primeiro dia da Quaresma chama-se assim, Quarta-feira de Cinzas, por causa do rito em que se deposita um pouco de cinzas (as cinzas usadas no ritual são provenientes da queima de ramos do ano anterior) na cabeça ou na fronte dos cristãos.

Para os cristãos, a Quaresma é a lembrança dos 40 dias e 40 noites que Cristo passou no deserto e também dos 40 anos que os judeus caminharam até chegarem à Terra Prometida. É o período de penitência e preparação para a Páscoa.




SIMBOLISMO DAS CINZAS

Cinzas: são símbolo de penitência, de luto e da finitude da matéria passada pela prova de fogo.

Representam simultaneamente o pecado e a fragilidade humana (livro da Sabedoria 15,10; profeta Ezequiel 28,18; profeta Malaquias 3,21). Se cobrir de cinzas é sinal público de arrependimento e forma concreta de colocar-se à prova. É manifestação pública da consciência do pecado e sua abjuração (Judite 4, 11-15; Ezequiel 27, 30), na esperança do perdão misericordioso de Deus.




NOS PRIMEIROS SÉCULOS DO CRISTIANISMO os membros da Igreja que tivessem cometido pecados gravíssimos, motivo de grande escândalo, estavam sujeitos a uma penitência pública, que podia durar semanas ou mesmo anos, segundo a gravidade da culpa.

Vinham estes descalços até a Catedral, noprimeiro dia da quaresma. O bispo da cidade depois de exortá-los ao arrependimento dos pecados, os cobria com um cilício, pequena túnica com cinto ou cordão, de material áspero ou grosseiro, trazido diretamente sobre a pele e atirava-lhes uma porção de cinzas na cabeça dizendo ao mesmo tempo: "Lembra-te, ó humano, que és pó e que a pó serás reduzido." Eram jogados então fora da Igreja e não podiam mais entrar nesta enquanto não fosse cumprida a sua penitência.

No século XI, quiseram padres e leigos seguir esta prática de humilhação e penitência, reservada outrora aos pecadores públicos e notórios, e assim no Ocidente a partir do século XII o costume expandiu-se em todas as Igrejas quando os fiéis na Quarta-feira antes da Quadragésima iam receber cinzas em suas frontes.

Hoje a fórmula permanece a mesma : "Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar.(Gênesis 3,19)", ou diz-se o texto do Evangelho de Jesus segundo Marcos 1,15: "Convertei-vos e crede no Evangelho".


Fontes:
Frei José Ariovaldo da Silva, OFM
Mons. Arnaldo Beltrami
Pe. Fernando Altemeyer Júnior


sábado, 18 de fevereiro de 2012

TEUS PECADOS ESTÃO PERDOADOS!! O PRIMEIRO CONFLITO PROVOCADO PELO ANÚNCIO DA BOA NOVA - Marcos 2,1-12

Texto extraído do livro “Caminhando com Jesus”
série A Palavra na Vida – Edição 182/183
Autores: Carlos Mesters e Mercedes Lopes
CEBI Publicações


Nos anos 70, época em que Marcos escreveu, havia muitos conflitos na vida das comunidades, mas elas nem sempre sabiam como comportar-se diante das acusações que vinham da parte das autoridades romanas e dos líderes dos judeus. Este conjunto de cinco conflitos de Marcos 2,1 e 3,6 servia como uma espécie de cartilha para orientar as comunidades, tanto as de ontem como as de hoje. Pois o conflito não é um acidente de percurso, mas sim parte integrante da caminhada.

COMENTANDO

Marcos 2,1-2: O povo procura Jesus e quer ouvir a Palavra de Deus
Depois de uma das suas viagens pelas aldeias da Galiléia, Jesus estava de volta em Cafarnaum. Quando o povo soube disso, foi todo o mundo para lá. Juntou muita gente na porta da casa. Jesus acolheu a todos e começou a ensinar. O que será que ele ensinava? Jesus anunciava a Boa Nova de Deus (Mc 1,14). Falava ao povo sobre Deus e, para isso, usava exemplos da vida (parábolas) e da história do povo (Bíblia). O povo conhecia a vida e a Bíblia, mas Jesus falava delas de um jeito novo, diferente. Falava a partir da experiência que ele mesmo tinha de Deus e da vida. Jesus vivia em Deus. Ele deve ter tocado o coração do povo que gostava de ouvi-lo (Mc 1,22.27). Deve ter falado muito bonito sobre Deus. A partir da pregação de Jesus, Deus, em vez de ser um juiz severo que de longe ameaça o povo com castigo e inferno, tornava-se, de novo, uma presença amiga no meio do povo, uma Boa Nova.

Marcos 2,3-5: A solidariedade dos amigos consegue o perdão dos pecados para o paralítico
Enquanto Jesus está falando, chega um paralítico, carregado por quatro pessoas. Jesus é a única esperança deles. Por isso, não hesitam em subir no telhado e tirar as telhas. Significa que a casa não era das melhores. Deve ter sido um barraco coberto de folhas. Eles descem o homem em frente a Jesus. Sinal de muita solidariedade. Jesus, vendo a fé deles, diz ao paralítico: Teus pecados estão perdoados! Naquele tempo, o povo achava que defeitos físicos (paralíticos) fossem todos castigo de Deus por algum pecado. Os doutores ensinavam que tal pessoa ficava impura e tornava-se incapaz de aproximar-se de Deus. Por isso, os doentes, os pobres, os paralíticos e tantos outros se sentiam rejeitados por Deus! Mas Jesus não pensava assim. Ele achava o contrário. Aquela fé tão grande era, para ele, um sinal de que o paralítico estava sendo acolhido por Deus. Por isso, Jesus declarou: "Teus pecados estão perdoados!" Ou seja, "Você não está afastado de Deus!" Com esta afirmação Jesus negou que a paralisia fosse um castigo pelo pecado do homem.

Marcos 2,6-7: Jesus é acusado de blasfêmia pelos donos do poder
A afirmação de Jesus era contrária ao catecismo dos doutores da lei. Não combinava com a ideia que eles tinham de Deus. Por isso, reagiram e, dentro dos seus corações, acusaram Jesus: "Ele blasfema!" Conforme o ensino deles era só Deus que podia perdoar os pecados. E era só o sacerdote que podia declarar uma pessoa perdoada e purificada. Como é que esse Jesus de Nazaré, homem sem estudo, leigo, um simples operário, carpinteiro, andava declarando as pessoas perdoadas e purificadas dos pecados? Mas havia ainda outro motivo que os levava a criticar Jesus. Eles devem ter pensado: "Se for verdade o que esse Jesus está falando, nós vamos perder nosso poder! Vamos perder também nossa fonte de renda.”.

Marcos 2,8-11: Ao curar, Jesus prova que tem poder de perdoar os pecados.
Jesus percebeu que eles o condenavam. Por isso, pergunta: "O que é mais fácil dizer: 'Teus pecados estão perdoados! ' ou dizer: 'Levanta-te e anda? '" Evidentemente, é muito mais fácil dizer: "Teus pecados estão perdoados!" Pois ninguém pode verificar se de fato o pecado foi ou não perdoado. Mas se eu digo: "Levanta-te e anda!", aí todos poderão verificar se tenho ou não esse poder de curar. Por isso, para mostrar que tinha o poder de perdoar os pecados em nome de Deus, Jesus disse ao paralítico: "Levanta-te, toma o teu leito e vai para casa!" Curou o homem! Assim provou, através de um milagre, que a paralisia do homem não era um castigo de Deus e mostrou que a fé dos pobres é uma prova de que Deus os acolhe no seu amor.

Marcos 2,12: A reação do povo - Nunca vimos tal coisa!
O paralítico se levanta pega seu leito, começa a andar, e todos anunciam: Nunca vimos coisa igual! Este milagre revelou três coisas muito importantes:
1) As doenças das pessoas não são consequências dos seus pecados. Os doentes não devem achar que estão sendo castigados por Deus.
2) Jesus abriu um novo caminho para Deus. Aquilo que o sistema chamava de impureza já não era empecilho para as pessoas se aproximarem de Deus.
3) O rosto de Deus revelado através da atitude de Jesus era bem diferente do rosto severo do Deus revelado pela atitude dos doutores.

Isto lembra a fala de um drogado que se recuperou e agora participa de uma comunidade em Curitiba. Ele disse: "Fui criado na religião católica. Deixei de participar. Meus pais eram muito praticantes e queriam que nós, os filhos, fôssemos como eles. A gente era obrigado a ir à igreja sempre, todos os domingos e festas. E quando não ia, eles diziam: 'Deus castiga! ' Eu ia a contragosto, e quando fiquei adulto, fui deixando aos poucos. Eu não gostava do Deus dos meus pais. Não conseguia entender como Deus, criador do mundo, ficasse em cima de mim, menino da roça, ameaçando com castigo e inferno. Eu gostava mais do Deus do meu tio que não pisava na Igreja, mas que, todos os dias, sem falta, comprava o dobro de pão de que ele mesmo precisava para dar para os pobres!”.

ALARGANDO

Doença e Pecado

Como dissemos, naquele tempo, se ensinava que todo sofrimento era fruto de algum pecado. Por isso, diante do cego de nascimento, Pedro perguntava: "Quem pecou, ele ou seus pais para ele nascer cego?" (Jo 9,1-3). Jesus respondeu: "Nem ele nem seus pais". Jesus desliga o pecado da pessoa doente. Ele não permite que as autoridades religiosas manipulem a religião, pois elas, em nome do sistema, jogavam na cara do paralítico: "Você é um pecador!" Jesus faz ao contrário: "Você não é pegador! Deus o acolhe, mesmo sendo paralítico. Sua doença não é fruto do seu pecado!" Ter a coragem de fazer esta afirmação diante das autoridades presentes era uma revolução! Uma mudança muito grande! O povo vibrava com Jesus, porque ficava mais livre! Este é um lado da medalha. Tem o outro lado.

De fato, muito sofrimento é fruto de algum pecado. Por exemplo, o sofrimento da mão que chora o assassinato do filho. Jesus tem algo a dizer sobre este outro lado. Certa vez, teve um desastre em Jerusalém. Uma torre caiu e matou 18 pessoas (Lc 13,4). Em outra ocasião, Pilatos matou um grupo de galileus e misturou sangue deles com o sangue dos sacrifícios (Lc 13,1). Jesus perguntava: "Vocês acham que eles eram mais pecadores do que os outros habitantes de Jerusalém? Eu lhe digo que não, mas se não houver arrependimento, mudança, muita gente ainda vai morrer do mesmo jeito" (Lc 13,2. quatro). Não houve arrependimento nem mudança e, 40 anos depois, Jerusalém foi destruída: muitas torres caíram e muito sangue foi derramado! Em outras palavras, muitos dos males que sofremos não são uma fatalidade, mas sim consequência de ações pecaminosas. Outros são fruto da cultura. Outros ainda são fruto do sistema neoliberal que nos foi imposto e que nos oprime. Por isso, os males que sofremos são um apelo à conversão. Apelam para a nossa responsabilidade. O que entrou no mundo como fruto de ações livres para o mal pode ser expulso do mundo através de ações livres para o bem!



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O Brasil no Colégio dos Cardeais

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Realiza-se neste sábado, 18 de fevereiro, o quarto Consistório convocado pelo Papa Bento XVI no dia da Epifania do Senhor, 6 de janeiro deste ano. Desta vez, serão criados 22 novos cardeais, sendo 4 deles com mais de 80 anos e, portanto, não eleitores numa eventual vacância da Santa Sé. Dom João Braz de Aviz é o único latino-americano do grupo.



Dom João, filho de Mafra, cidade localizada no planalto norte de Santa Catarina, tem um itinerário episcopal marcado por significativas mudanças de trabalho e grande vigor pastoral. Nomeado bispo auxiliar de Vitória (ES), em 1994, atuou naquela arquidiocese até 1998 quando foi nomeado bispo de Ponta Grossa (PR). Seis anos depois, foi nomeado arcebispo de Maringá (PR) e de lá foi transferido para Brasília em 2004, onde sucedeu o cardeal dom José Freire Falcão. Em dezembro de 2010, o Santo Padre o convocou para ser prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica.


Após o Consistório deste sábado, Dom João Braz passa a fazer parte do Colégio Cardinalício que terá 125 membros. Os cardeais não têm encontros regulares em Roma, mas estão à disposição do Papa para todos as convocações que o Santo Padre julgar necessárias. Eles atuam na Cúria Romana e em arquidioceses que tenham tradição de presença de um cardeal. O outro novo cardeal que fala português é dom Manuel Monteiro de Castro, que foi recentemente nomeado como penitenciário-mor depois de deixar a secretaria da Congregação para os Bispos, lugar que foi ocupado pelo ex-núncio no Brasil, dom Lorenzo Baldisseri.

O Colégio dos Cardeais tem representação de 70 países dos cinco continentes. O Brasil e a Espanha ocupam o terceiro posto no número de membros. A maior de todas é a italiana com 52 membros. Os Estados Unidos têm 18 cardeais, sendo que seis deles têm mais de 80 anos. Antes da chegada de dom João Braz, eram nove os cardeais brasileiros sendo que cinco já têm 80 anos de idade: dom Eugênio de Araújo Sales, arcebispo emérito do Rio de Janeiro; dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo; dom José Freire Falcão, arcebispo emérito de Brasília; dom Serafim Fernandes de Araújo, arcebispo emérito de Belo Horizonte; dom Eusébio Oscar Scheid, arcebispo emérito do Rio de Janeiro. E quatro com menos de 80 anos: dom Claudio Hummes, ex-prefeito da Congregação para o Clero; dom Geraldo Majella Agnello, arcebispo emérito de Salvador; dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo e dom Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB.


 
O atual Colégio Cardinalício em números e funções: o decano é o italiano Angelo Sodano, de Estado emérito; o vice-decano é o francês Roger Etchegary; o camerlengo é o italiano Tarcisio Bertone, secretario de Estado; o protodiácono é o francês Jean-Louis Tauran. 33 cardeais pertencem a ordens, congregações ou Institutos de Vida Consagrada. Os jesuítas contam com oito cardeais, os franciscanos e salesianos com seis, os dominicanos e dehonianos com dois. Há também um agostiniano, um redentorista, um capuchinho, um claretiano, um vicentino, um monge ucraniano, um oblato de Maria Imaculada, um padre de Schonstatt, um escalabriniano e um supliciano.


Depois do Consistório deste sábado, a situação ficará definida pela idade da seguinte maneira: o cardeal mais idoso é o italiano Ersilio Tonini, arcebispo emérito de Ravena que está próximo dos 98 anos. Segundo o jornalista espanhol Jesús de las Heras Muela que fez uma longa estatística sobre os atuais cardeais, os dois mais jovens são alemães: o novo cardeal Rainer Maria Woelki, arcebispo de Berlin, com 55 anos e o arcebispo de Munique, Reinhard Marx, nascido em 1953. Dom Eugênio de Araújo Sales é o cardeal mais antigo, criado no Consistório de 1969. Junto dele estão três outros que foram criados por Paulo VI: dom Paulo Evaristo Arns, Luis Aponte Martinez, de Porto Rico e o norte-americano Willian Wakefield Baum.


Dos cânones 349 até 359, há referências aos cardeais da Igreja e a missão deles está especificada no cânone 349: “Os Cardeais da Santa Igreja Romana constituem um Colégio especial, ao qual compete assegurar a eleição do Romano Pontífice de acordo com o direito especial; os Cardeais também assistem ao Romano Pontífice agindo colegialmente, quando são convocados para tratar juntos as questões de maior importância, ou individualmente nos diversos ofícios que exercem, prestando ajuda ao Romano Pontífice, principalmente no cuidado cotidiano pela Igreja universal”(CDC 349).


O cânone 351 traz a regra de como os cardeais sao nomeados: “Para a promoção ao Cardinalado são livremente escolhidos pelo Romano Pontífice homens constituídos ao menos na ordem do presbiterado, particularmente eminentes por doutrina, costumes, piedade e prudência no agir” (CDC 351). A nomeação só se torna efetiva depois da criação por decreto do papa. Este decreto se faz em publico, diante do Colégio Cardinalício. E para fazer isso, realiza-se o que se chama Consistório para a criação de novos cardeais.


Na oração do Angelus do dia da Epifania do Senhor, 6 de janeiro deste ano, Bento XVI, antes de pronunciar o nome dos 22 novos cardeais, lembrou: Como se sabe, os Cardeais têm a tarefa de ajudar o Sucessor de Pedro no cumprimento do seu Ministério de confirmar os irmãos na fé e de ser princípio e fundamento da unidade e da comunhão".





Consistório cria 22 novos cardeais

Santa_Maria_Maior


O decano papal da Basílica de Santa Maria Maggiore, localizada no centro histórico de Roma, o espanhol dom Santos Abril y Castelló, além de Dom João Braz de Aviz, único brasileiro, compõem a lista dos 22 novos cardeais que serão criados no Consistório deste sábado, 18 de fevereiro, no Vaticano.


Dom Castelló é arcipreste da Basílica de Santa Maria Maggiore desde novembro de 2011. Foi nomeado também vice-camerlengo da Igreja, o segundo homem na hierarquia da Igreja, na eventualidade de uma vacância da Santa Sé. Antes de assumir esses cargos, dom Castelló cumpriu carreira de diplomata do Vaticano como núncio em vários países da América Latina, África e Bálcãs.


O Consistório, na verdade, já começa a ser preparado nesta sexta-feira com um retiro para todos os indicados. O Cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB, também participará das celebrações que terão lugar na Basílica de São Pedro, no sábado e domingo, e na Sala Paulo VI, na segunda-feira quando o papa Bento XVI receberá os novos cardeais e convidados.


Dom João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os religiosos, estará em retiro durante esta sexta-feira. Ele recebeu, nos últimos dias, um grupo de mais de 40 pessoas que estão em Roma representando a família e os amigos de várias dioceses onde serviu como bispo e como arcebispo.



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Escolhido o novo Núncio Apostólico para o Brasil



A Nunciatura Apostólica acaba de informar que o papa Bento XVI escolheu o novo Núncio Apostólico para o Brasil, sucedendo a dom Lorenzo Baldisseri. Trata-se do atual núncio da Tailândia e Camboja e Delegado Apostólico em Myanmar e Laos, dom Giovanni D Aniello.

Dom Giovanni tem 57 anos, nasceu em Aversa (Itália), foi ordenado sacerdote em dezembro de 1978. É doutor em Direito Canônico. Ingressou no Serviço Diplomático da Santa Sé em 1983, tendo desempenhado a sua atividade junto às Representações Pontifícias do Burundi, Tailândia, Líbano, Brasil e Seção para as Relações com os Estados da Secretaria de Estado, no Vaticano.
Foi nomeado Núncio Apostólico na República Democrática do Congo, em 2001, e em 2010, foi transferido para a Tailândia e Camboja.

Dom Lorenzo Baldisseri, que foi nomeado secretário para a Congregação para os Bispos, no Vaticano, escreveu uma nota em que agradece ao povo brasileiro, e em especial, aos bispos do Brasil por sua acolhida. “Ao concluir minha missão de Núncio Apostólico no Brasil, confio a estas linhas as expressões dos meus sentimentos de gratidão a todo o episcopado, ao clero e aos fiéis que me acompanharam durante estes nove anos aqui transcorridos, e por me terem facilitado o cumprimento do meu mandato”, disse dom Lorenzo.


Fonte: http://www.cnbbsul1.org.br/index.php?link=news/read.php&id=6624

sábado, 11 de fevereiro de 2012

NÃO VOLTAR ATRÁS NO ANÚNCIO DA BOA NOVA - MANTER VIVA A CONSCIÊNCIA DA MISSÃO (MARCOS 1,40-45)

Texto extraído do livro “Caminhando com Jesus” série A Palavra na Vida – Edição 182/183
Autores: Carlos Mesters e Mercedes Lopes
Páginas 34 a 37
CEBI Publicações
Nos versículos 16 a 45 do primeiro capítulo, Marcos descreve o objetivo da Boa Nova e a missão da comunidade, apresentando oito critérios para as comunidades do seu tempo poderem avaliar a sua missão. Tanto nos anos 70, época em que Marcos escreveu, como hoje, época em que nós vivemos, era e continua sendo importante ter diante de nós modelos de como viver e anunciar o Evangelho e de como avaliar a nossa missão.
COMENTANDO
Mc 1, 40-42: Acolhendo e curando o leproso, Jesus revela um novo rosto de Deus
Um leproso chega perto de Jesus. Era um excluído. Devia viver afastado. Quem tocasse nele ficava impuro também! Mas aquele leproso teve muita coragem. Transgrediu as normas da religião para poder chegar perto de Jesus. Ele diz: "Se queres, podes curar-me!" Ou seja: "Não precisa tocar-me! Basta o senhor querer para eu ficar curado!" A frase revela duas doenças: 1) a doença da lepra que o tornava impuro; 2) a doença da solidão a que era condenado pela sociedade e pela religião. Revela também a grande fé do homem no poder de Jesus. Profundamente compadecido, Jesus cura as duas doenças. Primeiro, para curar a solidão, toca no leproso. É como se dissesse: "Para mim, você não é um excluído. Eu o acolho como irmão!" Em seguida, cura a lepra dizendo: "Quero! Seja curado!" O leproso, para poder entrar em contato com Jesus, tinha transgredido as normas da lei. Da mesma forma, Jesus, para poder ajudar aquele excluído e, assim, revelar um rosto novo de Deus, transgride as normas da sua religião e toca no leproso. Naquele tempo, quem tocava num leproso tornava-se um impuro perante as autoridades religiosas e perante a lei da época.
Mc 1, 43-44: Reintegrar os excluídos na convivência fraterna
Jesus não só cura, mas também quer que a pessoa curada possa conviver. Reintegra a pessoa na convivência. Naquele tempo, para um leproso ser novamente acolhido na comunidade, ele precisava ter um atestado de cura assinado por um sacerdote. É como hoje. O doente só sai do hospital com o documento assinado pelo médico de plantão. Jesus obrigou o fulano a buscar o documento, para que ele pudesse conviver normalmente. Obrigou as autoridades a reconhecer que o homem tinha sido curado.
Mc 1, 45: O leproso anuncia o bem que Jesus fez e ele e Jesus se tornam excluídos
Jesus tinha proibido o leproso de falar sobre a cura. Mas não adiantou. O leproso, assim que partiu, começou a divulgar a notícia, de modo que Jesus já não podia entrar publicamente numa cidade. Permanecia fora, em lugares desertos. Por quê? É que Jesus tinha tocado no leproso. Por isso, na opinião da religião daquele tempo, agora ele mesmo era um impuro e devia viver afastado de todos. Já não podia entrar nas cidades. Mas Marcos mostra que o povo pouco se importava com estas normas oficiais, pois de toda a parte vinham a ele! Subversão total!
O duplo recado que Marcos dá às comunidades do seu tempo e a todos nós e este: 1) anunciar a Boa Nova é dar testemunho da experiência concreta que se tem de Jesus. O leproso, o que ele anuncia? Ele conta aos outros o bem que Jesus lhe fez. Só isso! Tudo isso! E é este testemunho que leva os outros a aceitar a Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe. 2) Para levar a Boa Nova de Deus ao povo, não se deve ter medo de transgredir normas religiosas que são contrárias ao projeto de Deus e que dificultam a comunicação, o diálogo e a vivência do amor. Mesmo que isso traga dificuldades para a gente, como trouxe para Jesus.
ALARGANDO
O Anúncio da Boa Nova de Deus feito por Jesus
A prisão de João fez Jesus voltar e iniciar o anúncio da Boa Nova. Foi um início explosivo e criativo! Jesus percorre a Galiléia toda: as aldeias, os povoados, as cidades (Mc 1,39). Visita as comunidades. Ele muda de residência, e vai morar em Cafarnaum (Mc 1,21; 2,1), cidade que fica no entroncamento de estradas, o que facilita a divulgação da mensagem. Ele quase não para. Está sempre andando. Os discípulos e as discípulas com ele, por todo canto. Na praia, na estrada, na montanha, no deserto, no barco, nas sinagogas, nas casas. Muito entusiasmo!
Jesus ajuda o povo prestando serviço de muitas maneiras: expulsa maus espíritos (Mc 1,39), cura os doentes e os maltratados (Mc 1,34), purifica quem está excluído por causa da impureza (Mc 1,40-45), acolhe os marginalizados e confraterniza com eles (Mc 2,15). Anuncia, chama e convoca. Atrai, consola e ajuda. É uma paixão que se revela. Paixão pelo Pai e pelo povo pobre e abandonado da sua terra. Onde encontra gente para escutá-lo, ele fala e transmite a Boa Nova de Deus. Em qualquer lugar.
Em Jesus, tudo é revelação daquilo que o anima por dentro! Ele não só anuncia a Boa Nova do Reino. Ele mesmo é uma amostra, um testemunho vivo do Reino de Deus. Nele aparece aquilo que acontece quando um ser humano deixa Deus reinar, tomar conta de sua vida. Pelo seu jeito de conviver e de agir, Jesus revelava o que Deus tinha em mente quando chamou o povo no tempo de Abraão e de Moisés. Jesus desenterrou uma saudade e transformou-a em esperança! De repente, ficou claro para o povo: “Era isso que Deus queria quando nos chamou para ser o seu povo”!
Este foi o começo do anúncio da Boa Nova do Reino que se divulgava rapidamente pelas aldeias da Galiléia. Começou pequena como uma semente, mas foi crescendo até tornar-se árvore grande, onde o povo todo procurava um abrigo (Mc 4,31-32). O próprio povo se encarregava de divulgar a notícia.
O povo da Galiléia ficava impressionado com o jeito que Jesus tinha de ensinar. "Um novo ensinamento! Dado com autoridade! Diferente dos escribas!" (Mc 1,22.27). Ensinar era o que Jesus mais fazia (Mc 2,13; 4,1-2; 6,34). Era o costume dele (Mc 10,1). Por mais de 15 vezes o Evangelho de Marcos diz que Jesus ensinava. Mas Marcos quase nunca diz o que ele ensinava. Será que não se interessava pelo conteúdo? Depende do que a gente entende por conteúdo! Ensinar não é só uma questão de ensinar verdades novas para o povo decorar. O conteúdo que Jesus tem para dar transparece não só nas palavras, mas também nos gestos e no próprio jeito de ele se relacionar com as pessoas. O conteúdo nunca está desligado da pessoa que o comunica. Jesus era uma pessoa acolhedora (Mc 6,34). Queria bem ao povo. A bondade e o amor que transparecem nas suas palavras fazem parte do conteúdo. São o seu tempero. Conteúdo bom sem bondade é como leite derramado.
Marcos define o conteúdo do ensinamento de Jesus como "Boa Nova de Deus" (Mc 1,14). A Boa Nova que Jesus proclama vem de Deus e revela algo sobre Deus. Em tudo que Jesus diz e faz, transparecem os traços do rosto de Deus. Transparece a experiência que ele mesmo tem de Deus como Pai. Revelar Deus como Pai é fonte, o conteúdo e o destino da Boa Nova de Jesus.