VATICANO, 18 Jun. 15 / 05:58 pm (ACI)
Na manhã de hoje foi divulgado oficialmente o texto na
íntegra da nova encíclica do Papa Francisco, intitulada “Laudato Si” (Louvado
Seja). Através deste documento ele compartilha profundas reflexões espirituais
sobre a criação e o ser humano.
No início das suas reflexões o Santo Padre recordou
primeiramente São Francisco de Assis, tomou uma frase dele como título da
encíclica e ressaltou: “Acho que Francisco é o exemplo por excelência do
cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com alegria e
autenticidade”.
“O seu testemunho mostra-nos também que uma ecologia
integral requer abertura para categorias que transcendem a linguagem das
ciências exatas ou da biologia e nos põem em contato com a essência do ser
humano. Tal como acontece a uma pessoa quando se enamora por outra, a reação de
Francisco, sempre que olhava o sol, a lua ou os minúsculos animais, era cantar,
envolvendo no seu louvor todas as outras criaturas”, declarou o Pontífice em
sua encíclica.
O Papa escreve logo que “se nos sentirmos intimamente
unidos a tudo o que existe, então brotarão de modo espontâneo a sobriedade e a
solicitude. A pobreza e a austeridade de São Francisco não eram simplesmente um
ascetismo exterior, mas algo de mais radical: uma renúncia a fazer da realidade
um mero objeto de uso e domínio”.
Por outro lado, segundo o Santo Padre, “São Francisco,
fiel à Sagrada Escritura, propõe-nos reconhecer a natureza como um livro
esplêndido onde Deus nos fala e transmite algo da sua beleza e bondade: ‘Na
grandeza e na beleza das criaturas, contempla-se, por analogia, o seu
Criador’“.
O Santo Padre comentou: “Se tivermos presente a
complexidade da crise ecológica e as suas múltiplas causas, deveremos
reconhecer que as soluções não podem vir de uma única maneira de interpretar e
transformar a realidade. É necessário recorrer também às diversas riquezas
culturais dos povos, à arte e à poesia, à vida interior e à
espiritualidade. Se quisermos, de verdade, construir uma ecologia que nos
permita reparar tudo o que temos destruído, então nenhum ramo das ciências e
nenhuma forma de sabedoria pode ser transcurada, nem sequer a sabedoria
religiosa com a sua linguagem própria”.
O Papa afirma: “Segundo a Bíblia, as relações com Deus,
com o próximo e com a terra romperam-se não só exteriormente, mas também dentro
de nós. Esta ruptura é o pecado. A harmonia entre o Criador, a humanidade e
toda a criação foi destruída por termos pretendido ocupar o lugar de Deus, recusando
reconhecer-nos como criaturas limitadas. Este fato distorceu também a natureza
do mandato de ‘dominar’ a terra (cf. Gen. 1, 28) e de a ‘cultivar e guardar’
(cf. Gen. 2, 15). Como resultado, a relação originariamente harmoniosa entre o
ser humano e a natureza transformou-se num conflito”.
“’Pela palavra de Yahvé foram feitos os céus’ (Sal 33,6).
Assim nos indica que o mundo procedeu de uma decisão, não do caos ou a
casualidade, o qual o enaltece ainda mais”.
O lugar do ser humano na criação
O Papa Francisco considera deste modo que o ser humano,
embora suponha também processos evolutivos, “implica uma novidade que não se
explica cabalmente pela evolução de outros sistemas abertos. Cada um de nós tem
em si uma identidade pessoal, capaz de entrar em diálogo com os outros e com o
próprio Deus”.
“A capacidade de reflexão, o raciocínio, a criatividade,
a interpretação, a elaboração artística e outras capacidades originais
manifestam uma singularidade que transcende o âmbito físico e biológico. A
novidade qualitativa, implicada no aparecimento de um ser pessoal dentro do
universo material, pressupõe uma ação direta de Deus, uma chamada peculiar à
vida e à relação de um Tu com outro tu. A partir dos textos bíblicos,
consideramos o ser humano como sujeito, que nunca pode ser reduzido à categoria
de objeto”.
“O fato de insistir na afirmação de que o ser humano é
imagem de Deus não deveria fazer-nos esquecer que cada criatura tem uma função
e nenhuma é supérflua. Todo o universo material é uma linguagem do amor de
Deus, do seu carinho sem medida por nós. O solo, a água, as montanhas: tudo é
carícia de Deus”, afirma.
Querer a criação, explica o Pontífice, “não significa
igualar todos os seres vivos e tirar ao ser humano aquele seu valor peculiar
que, simultaneamente, implica uma tremenda responsabilidade. Também não requer
uma divinização da terra, que nos privaria da nossa vocação de colaborar com
ela e proteger a sua fragilidade”.
Para o Santo Padre “é evidente a incoerência de quem luta
contra o tráfico de animais em risco de extinção, mas fica completamente
indiferente perante o tráfico de pessoas, desinteressa-se dos pobres ou procura
destruir outro ser humano de que não gosta. Isto compromete o sentido da luta
pelo meio ambiente”.
O Papa sublinha que “é necessário ter apreço pelo próprio
corpo na sua feminilidade ou masculinidade, para se poder reconhecer a si mesmo
no encontro com o outro que é diferente. Assim, é possível aceitar com alegria
o dom específico do outro ou da outra, obra de Deus criador, e enriquecer-se
mutuamente. Portanto, não é salutar um comportamento que pretenda ‘cancelar a
diferença sexual, porque já não sabe confrontar-se com ela’”.
“Recordemos o modelo de São Francisco de Assis, para
propor uma sã relação com a criação como dimensão da conversão integral da
pessoa. Isto exige também reconhecer os próprios erros, pecados, vícios ou
negligências, e arrepender-se de coração, mudar a partir de dentro”.
O Pontífice exorta também os fiéis a “agradecer a Deus
antes e depois das refeições. Proponho aos crentes que retomem este hábito
importante e o vivam profundamente. Este momento da bênção da mesa, embora
muito breve, recorda-nos que a nossa vida depende de Deus, fortalece o nosso
sentido de gratidão pelos dons da criação, dá graças por aqueles que com o seu
trabalho fornecem estes bens, e reforça a solidariedade com os mais
necessitados”.
Os Sacramentos e Maria
Sobre este tema o Pontífice afirma: “Os sacramentos
constituem um modo privilegiado em que a natureza é assumida por Deus e
transformada em mediação da vida sobrenatural. Através do culto, somos
convidados a abraçar o mundo num plano diferente. A água, o azeite, o fogo e as
cores são assumidas com toda a sua força simbólica e incorporam-se no louvor”.
“A mão que abençoa é instrumento do amor de Deus e
reflexo da proximidade de Cristo, que veio para Se fazer nosso companheiro no
caminho da vida. A água derramada sobre o corpo da criança batizada, é sinal de
vida nova. Não fugimos do mundo, nem negamos a natureza, quando queremos
encontrar-nos com Deus”, disse o Papa Francisco.
“A criação encontra a sua maior elevação na Eucaristia. A
graça, que tende a manifestar-se de modo sensível, atinge uma expressão
maravilhosa quando o próprio Deus, feito homem, chega ao ponto de fazer-Se
comer pela sua criatura”, expressou o Santo Padre.
Desta maneira sublinhou: “A participação na Eucaristia é
especialmente importante ao domingo. Este dia, à semelhança do sábado judaico,
é-nos oferecido como dia de cura das relações do ser humano com Deus, consigo
mesmo, com os outros e com o mundo”.
Em seguida, o Pontífice afirma: “Maria, a mãe que cuidou
de Jesus, agora cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido.
Assim como chorou com o coração trespassado a morte de Jesus, assim também
agora Se compadece do sofrimento dos pobres crucificados e das criaturas deste
mundo exterminadas pelo poder humano”.
“Caminhemos cantando; que as nossas lutas e a nossa
preocupação por este planeta não nos tirem a alegria da esperança”, encoraja o
Papa.
“Deus, que nos chama a uma generosa entrega e a
oferecer-Lhe tudo, também nos dá as forças e a luz de que necessitamos para
prosseguir”, conclui Francisco no final da sua encíclica.
fonte: http://www.acidigital.com/
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