sábado, 27 de agosto de 2011

A MISSÃO NO EVANGELHO DE MATEUS – 4ª parte

COMENTÁRIO AO EVANGELHO DE MATEUS 10,34 – 11,1
Ervino Martinuz

O Discurso da Missão do capítulo 10 do Evangelho de são Mateus, oferece muitos tópicos para poder realizar a missão dos discípulos e missionários de Jesus Cristo. Este evangelho nos apresenta a parte final deste Discurso da Missão.
• Mateus 10,34-36:
Não vim trazer a paz, mas a espada. Jesus fala sempre de paz (Mt 5,9; Mc 9,50; Lc 1,79; 10,5; 19,38; 24,36; Jo 14,27; 16,33; 20,21.26).
Então, como entender a frase do evangelho de hoje que parece afirmar o contrário: “Não penseis que vim trazer paz à terra;não vim trazer a paz, mas, sim, a espada”. Não! Jesus não quer nem a espada (Jo 18,11), nem a divisão. Quem a união de todos na verdade (cfr. Jo 17,17-23). Naquele tempo, o anúncio da verdade que ele, Jesus de Nazaré, era o Messias tornou-se motivo de muita divisão entre os judeus. Na mesma família ou comunidade, alguns eram a favor e outros radicalmente contra. Neste sentido a Boa Nova de Jesus era realmente origem de divisão, um “sinal de contradição” (Lc 2,34) ou, como dizia Jesus, ele trazia a espada. Assim entende-se a advertência: “De fato, vim separar o ficho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora de sua sogra. E os inimigos do homem serão os seus próprios familiares”. Era o que estava acontecendo, de fato, nas famílias e na comunidade: muita divisão, muita discussão, conseqüências do anúncio da Boa Nova entre os judeus daquele tempo, porque alguns aceitavam, outros negavam. Hoje acontece a mesma coisa. Muitas vezes, aí onde a Igreja se renova, o apelo da Boa Nova torna-se ‘sinal de contradição e divisão. Pessoas que durante muitos anos viveram comodamente na rotina de sua vida cristã, não querem ser incomodadas pelas ‘inovações’ do Vaticano II. Insatisfeitas com as mudanças, usam toda sua inteligência para encontrar argumentos em defesa de suas opiniões e para condenar as mudanças, considerando-as contrárias a tudo o que elas pensas ser a verdadeira fé.
• Mateus 10,37:
Quem ama seu pai e sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Lucas cita esta mesma frase, mas muito mais exigente. Afirma literalmente: “Se alguém vier a mim, e não odeia seu pai e sua mãe, seus filhos, seus irmãos, as suas irmãs, e até mesmo a própria vida, este não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26). Como entender esta afirmação de Jesus com outra em que manda observar o quarto mandamento: amar e honrar o pai e a mãe? (Mc 7,10-12; Mt 19,19). Duas observações: (a) O critério fundamental sobre o qual Jesus insiste sempre é este: a Boa Nova de Dio deve ser o valor supremo da nossa vida. Não pode existir na vida um valor maior. (b) A situação econômica e social na época de Jesus era tal que as famílias viam-se obrigadas a se fechar em si mesmas. Não tinham mais as condições de respeitar as obrigações da convivência humana comunitária, com por exemplo: a partilha, a hospitalidade, a convite à mesa e a acolhida dos excluídos. Este fechamento individualista, causada pela situação nacional e internacional, trazia distorções: (*) Tornava impossível a vida em comunidade; (**) Limitava o mandamento "honra o pai e a mãe" exclusivamente no pequeno núcleo familiar e não mais na grande família da comunidade; (***) Impedia a manifestação plena da Boa Nova de Deus, porque se Deus é Pai/Mãe nós somos irmãos e irmãs uns os outros. E esta verdade deve encontrar sua expressão na vida em comunidade. Uma comunidade viva e fraterna é o espelho do rosto de Deus. A convivência humana sem comunidade é um espelho rachado que desfigura o rosto de Deus. Neste contexto, o pedido de Jesus: “odiar pai e mãe significava que os discípulos e as discípulas deviam superar o fechamento individualista da pequena família sobre si mesma, e ampliá-la à dimensão da comunidade. O próprio Jesus colou em prática o que ensinou aos outros. Sua família queria que ele se fechasse sobre si mesmo. Quando lhe dissera: “Olha, tua mãe e teus irmãos estão aí fora e estão à tua procura!”, ele respondeu: “Quem é minha mãe e quem sã meus irmãos?” e olhando ao redor de si, disse: “Eis minha mãe e eis meus irmãos! Quem realiza a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mc 3,32-35). Alarga a família! Esta era e continua a ser até hoje para a pequena família o único caminho para poder conservar e transmitir os valores nos quais acredita.
• Mateus 10,38-39:
As exigências da missão dos discípulos. Nestes dois versículos Jesus dá conselhos importantes e exigentes:
(a) Carregar a cruz e seguir Jesus: Quem não carrega sua cruz e não me segue não é digno de mim. Para perceber toda a dimensão deste primeiro conselho é bom ter presente o testemunho de São Paulo: “Quanto a mim, que eu me glorie somente na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo! Por ele, o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo” (Gl 6,14). Carregar a cruz supõe, até hoje, um corte radical com o sistema iníquo em vigor no mundo.
(b) Ter a coragem de dar a vida: “Quem tiver encontrado sua vida, vai perde-la, e quem a tiver perdida por minha causa, a encontrará”. Sente-se realizado na vida só quem é capaz de doá-la completamente aos outros. Quem, no entanto, que conservá-la, a perde. Este segundo conselho confirma a experiência humana mais profunda: a fonte da vida está no dom da vida. Dando é que se recebe. Se a semente de trigo não morrer... (Jo 12,24).
• Mateus 10,40:
A identificação do discípulo com Jesus e com o próprio Deus. Esta experiência assim tão humana de doação e de entrega recebe aqui um esclarecimento, um aprofundamento: “Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou”. No dom total de si, o discípulo se identifica com Jesus. Aí acontece o encontro com Deus, e Deus se deixa encontram com quem o busca.
• Mateus 10,41-42:
A recompensa do profeta, do justo e do discípulo. O Discurso da Missão termina com uma frase sobre a recompensa: “Quem acolhe um profeta como profeta, terá a recompensa do profeta, e quem acolhe um justo como justo, terá a recompensa como justo. E quem tiver dado também só um copo de água fresca a um destes pequenos, porque é meu discípulo, em verdade vos digo, não perderá a sua recompensa”. Nesta frase a sequência é muito significativa: o profeta é reconhecido pela sua missão como enviado por Deus. O justo é reconhecido pelo seu comportamento, pela sua maneira perfeita de observar a lei de Deus. O discípulo é reconhecido por nenhum qualidade ou missão especial, mas simplesmente pela sua condição social de humildade e pequenez. O Reino não é feito de coisas grandes. É como uma casa muito grande que se constrói com tijolos pequenos. Quem despreza um tijolo dificilmente construirá a casa. Também um copo de água serve como tijolo na construção do Reino.
• Mateus 11,1:
O final do Discurso da Missão. Quando Jesus terminou de dar estas instruções a seus discípulos, partiu daí a fim de ensinar e pregar nas cidades deles. Agora Jesus parte para colocar em prática o que ensinou. É que veremos nos próximos capítulos 11 e 12 do evangelho de Mateus.

PARA UMA AVALIAÇÃO PESSOAL

• Perder a vida para ganhar a vida. Tiveste alguma experiência de te sentires recompensado/a por um gesto de doação ou de gratuidade aos outros?
• Quem vos recebe a mim recebe, e quem me recebe aquele que enviou. Para e pensa o que Jesus afirma aqui: Ele e próprio Deus se identificam contigo.

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