quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Em Jesus acontece a justiça do Pai

“Toda planta que não foi plantada por meu Pai celeste será arrancada” Mt 15,13. Para João, que se negava a batizar, Jesus diz: “Deixa agora, pois convém que assim cumpramos toda a justiça” (Mt 3,15). Mas é no sermão da montanha que aparece mais o clamor da justiça: “Felizes os que tem sede e fome de justiça porque serão saciados” (Mt 5,6). “Felizes os perseguidos por causa da justiça porque deles é o reino dos céus” Mt 5,10. “Se a vossa justiça não for maior do que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus” Mt 5,20. “Evitai praticar a justiça diante dos homens para serdes vistos” Mt 6,1. “Buscai , pois, em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça” Mt 6,33. *Devemos olhar o aspecto negativo das formulações: vossa justiça não seja a dos fariseus e escribas. Como é a justiça deles? É a justiça da retribuição. Deus deve me pagar o bem que eu tiver feito pelas 613 leis e preceitos que procuro seguir. É ainda uma justiça excludente porque o povo já por própria natureza (curtidor de couro, pastor, médico são profissões, entre outras, impuras) não consegue ser puro, ou ainda, por ignorância, não segue as leis. Está fadado a ficar fora do reino de Deus. A expressão de desprezo dos fariseus e escribas exprime bem o que pensam do povo: ‘am-há-aretz. Esta justiça é um fermento muito ruim que estraga toda a massa (Mt 16,11-12). Cuidado!  A doutrina dos escribas e fariseus é tentadora! Ela até dá um gostinho de grande auto suficiência: Com muita facilidade se dirá, pela doutrina dos escribas e fariseus, : eu cumpri toda a lei. A gratuidade se foi águas abaixo! Aliás, nossos irmãos espíritas tem como ”sottofondo” de seu aperfeiçoamento a autosuficiência. Com isto dispensam sempre a graça salvadora de Deus. *Outro cuidado muito grande é fazer as coisas para aparecer. Parecer e não ser. Isto é ruim. Isto é de fato, hipocrisia. Hipócrita era o ator de teatro. Ele representa um papel. Mas ele não é o que ele representa. Quem faz as coisas de justiça para aparecer é um bom ator de teatro. Os seminaristas muito bonzinhos são sempre um perigo. O melhor mesmo são os bem malandros... Se a estes se consegue convencer que vale a pena lutar por um ideal como o sacerdócio então se terá ganho um grande padre. Os outros já pensam em se acomodar. A não ser que a graça de Deus os desinstale de sua segurança. *Quando se fala em justiça em Mateus, na maioria das vezes, não se trata da nossa justiça. Nossa justiça é retributiva como dos fariseus. Supõe algum mérito. A justiça de Deus é salvífica. Não exige mérito. A linguagem profética está cheia desta imagem da justiça salvífica. Não é por nada que Jesus é identificado como profeta. A justiça em Mateus está ancorada na natureza do Pai. A coerência dele, pois Ele é um só (não tem duas caras) sempre, é ser lutador da vida para todos. A luta faz parte da gratuidade de Deus. Deus é o doador constante. Tudo provém dele. *Sonhar os sonhos de Deus. Isto faz bem para a saúde!  Ter sede e fome de justiça é sonhar os sonhos de Deus. Ele nunca desistiu do paraíso. Profetas se sucederam para lembrar as diversas alianças e especialmente a aliança feita com o povo no deserto. Veio também o filho. Mas os que tinham sido encarregados da vinha mataram o filho. A vinha é o símbolo do povo de Deus. Quantas vezes o filho é morto por causa da ganância, da injustiça dos homens?  Ainda é admirável que a paciência de Deus com a humanidade seja tão grande. É das muitas coisas que eu não compreendo em Deus. Deus só pode ficar tranqüilo quando todos encontraram sua identidade. É preciso investimento completo em busca da justiça: Procurai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça “” (Mt 6,33). Isto significa : Salvar, salvar, salvar. Para que e para onde vai este “salvar”? Só para depois? Vida eterna em João vai se tornar sinônimo de vida em plenitude. Alguns “rasgos” de plenitude podemos perceber já aqui.  A sétima e última citação da justiça está na parábola dos dois filhos. Ali Jesus toma o exemplo de João e diz: “João veio entre vós para mostrar-vos o caminho da justiça...” (Mt 21,32). Mas como já aconteceu no tempo de Elias, de quem João é a expressão, a humanidade não aprendeu os caminhos da justiça. Nós já aprendemos o caminho da justiça? É significativo que Mateus cite sete vezes a justiça de Deus. Os números simbólicos ocupam lugar importante em Mateus. Sete é da totalidade.  Muitos comentários do evangelho de Mateus mostram a centralidade deste tema.       A superposição de papéis (pastor, rei e juiz) na parábola do juízo aponta um juiz que exerce justiça. Esta acontecerá no confronto para com os excluídos do direito à vida plena. Quando todos gozarem dos seus direitos concedidos pela liberalidade e pelo amor de Deus então a vida eterna está começando...
Pe. José Bonifácio Schmidt

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