quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

domingo, 25 de dezembro de 2011

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O VERDADEIRO SIGNIFICADO DO NATAL

Difícil é, num mundo marcado pelo laicismo, ter bem presentes o autêntico significado do Santo Natal e o benefício incomensurável que representou para os homens a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Desse modo singelo resumiu o Discípulo Amado o maior acontecimento da História. Suas desprPresépio_.jpgetensiosas palavras sintetizam o rico e insondável conteúdo do grandioso mistério comemorado a cada 25 de dezembro: na obscuridade das trevas do paganismo, raiou a aurora de nossa salvação. Fez-Se homem o Esperado das nações, Aquele que tinha sido anunciado pelos profetas.

Cenário tomado pelo sobrenatural

Na noite em que Jesus veio ao mundo, pairava sobre Belém uma atmosfera de paz e alegria. A natureza parecia estar em júbilo enquanto, dentro de uma gruta inóspita, um santo casal contemplava seu Filho recém-nascido.

Ela é a Mãe das mães, concebida sem pecado original, criatura perfeita, na qual o Criador depositou toda a graça. Ao seu lado encontra-se São José, esposo castíssimo, varão justo cujo amor a Deus, integridade e sabedoria o tornam digno de tão augusta Esposa. E a Criança que ambos contemplam é o próprio Deus, que assume nossa natureza para dar a maior prova possível de seu amor à humanidade.

Quão sublime atmosfera envolvia aquele cenário paupérrimo! O ambiente no qual nasceu o Menino Deus devia estar tão tomado pelo sobrenatural que, se alguém tivesse a dita de entrar naquela gruta, ficaria imediatamente arrebatado por toda sorte de graças.

Foi o que ocorreu com os pastores. Após o aviso dos Anjos, correram em direção à gruta e lá encontraram o Rei do Universo deitado sobre palhas. Abismados pela grandeza dessa cena, que contemplavam também com os olhos da Fé, não tiveram outra atitude senão a da adoração. Que extraordinária dádiva receberam, sendo os primeiros a contemplar o Criador do Céu e da Terra feito homem, envolto em faixas, numa manjedoura!

Deus quis apresentar-Se de forma exemplarmente humilde

Considerando as imponentes manifestações da natureza que acompanhavam as intervenções de Deus no Antigo Testamento — o mar se abre, o monte fumega, o fogo cai do céu e reduz cidades a cinzas —, resulta surpreendente constatar a humildade e discrição com que Cristo veio ao mundo.

Não teria sido mais condizente com a grandeza divina que, na noite de Natal, sinais magníficos marcassem o acontecimento no Céu e na Terra? Não poderia, ao menos, ter nascido Jesus num magnífico palácio e convocado os maiores potentados da Terra para prestar-Lhe homenagens? Bastar- Lhe-ia um simples ato de vontade para que isso acontecesse...

Mas, não! O Verbo preferiu a gruta a um palácio; quis ser adorado por pobres pastores, ao invés de grandes senhores; aqueceu-Se com o bafo dos animais e a rudeza das palhas, em lugar de usar ricas vestes e dourados braseiros. Nem mesmo quis dar ordem ao frio para que não O atingisse. Num sublime paradoxo, desejava a Majestade infinita apresentar-Se de forma exemplarmente humilde.

Pois, apesar das pobres aparências, Aquele Menino era a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. NEle dava-se a união hipostática da natureza divina com a humana, conforme explica o renomado padre Boulenger: “União é o estado de duas coisas que se acham juntas. Ela pode realizar-se ora nas naturezas, por exemplo, quando o corpo e a alma unem-se para formar uma só natureza humana; e ora na pessoa, quando se unem duas naturezas na mesma pessoa. Esta última união chama-se hipostática, porque, em grego, os dois termos, hipóstase (suporte) e pessoa, têm igual significação teológica”.

E, depois da união, essas duas naturezas permaneceram perfeitamente íntegras e inconfundíveis na Pessoa de Cristo, que não é humana, mas divina. Por esse motivo é Ele chamado Homem-Deus.

Abismo intransponível

Mas, por que quis a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade encarnar-Se em uma tão inferior natureza? Os nossos primeiros pais foram criados no Paraíso Terrestre em estado de inocência original, portanto em justiça e santidade.

Além dissPresepio.jpgo, na sua infinita bondade, Deus conferiu a Adão dons de três qualidades: naturais, estando todas as propriedades do corpo e da alma perfeitamente ordenadas para alcançar o seu fim natural; sobrenaturais, a graça santificante, ou seja, a participação na própria vida de Deus, e a predestinação à visão de Deus na eterna bem-aventurança; e preternaturais, tais como a ciência infusa, o domínio das paixões e a imortalidade, que constituem o dom de integridade.

Como contrapartida a esses imensos benefícios, foi apresentada ao homem uma prova.

Devia ele cumprir de modo exímio a lei divina, guiando-se pelas exigências da lei natural gravada no seu coração, e respeitar uma única norma concreta que Deus lhe dera: a proibição de comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, plantada no centro do Jardim do Éden (cf. Gn 2, 9-17).

Narra-nos a Sagrada Escritura como a serpente tentou Eva, como caíram nossos primeiros pais e como foram expulsos do Paraíso (cf. Gn 3, 1-23). Em consequência do pecado, boa parte desses privilégios lhes foram retirados.

Mas Deus, em sua infinita misericórdia, manteve-lhes os privilégios naturais, como descreve o douto padre Tanquerey: “Contentou-Se de os despojar dos privilégios especiais que lhes tinha conferido, isto é, do dom de integridade e da graça habitual: conservam pois, a natureza e os seus privilégios naturais. É certo que a vontade ficou enfraquecida, se a compararmos ao que era com o dom de integridade; mas não está provado que seja mais fraca do que teria sido no estado de natureza”.

O Pecado Original abriu entre Deus e os homens um abismo intransponível. As portas do Céu se fecharam e o homem contingente só podia oferecer a Deus uma reparação imperfeita da ofensa cometida. E o Filho ofereceu-Se ao Pai para, “fazendo-Se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 8), restituir ao homem a graça perdida com o pecado. O próprio Criador fazia-Se criatura para, com uma generosidade inefável, saldar nossa dívida.

O caminho da glória passa pela Cruz

Entretanto, por que quis Jesus sofrer o desprezo dos seus coetâneos e os tormentos da Paixão? Estando hipostaticamente unido à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, qualquer gesto da Sua natureza humana poderia ter redimido a humanidade inteira. Um simples ato de vontade de Cristo teria bastado para obter de Deus o perdão de todos os nossos pecados.
Mais uma vez, deparamo-nos com um sublime paradoxo. Com o exemplo de Sua Vida e Paixão, queria Jesus ensinar-nos que, neste vale de lágrimas, a verdadeira glória só vem da dor. E como o Pai desejava para Seu Filho o máximo grau de glória, permitiu que Ele passasse pelo extremo limite do sofrimento.

“O Filho do homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos” (Mt 20, 28). Já na manjedoura em Belém, nosso Salvador estava ciente de ter vindo ao mundo para expiar nossos pecados. É esse o motivo pelo qual em muitos presépios presépio1.jpgo Menino Deus nos é apresentado com os braços abertos em cruz. Durante toda a sua vida, de Belém ao Gólgota, Jesus não fez outra coisa senão avançar ao encontro do Sacrifício Supremo que Lhe acarretaria o fastígio da glória.

A Terra toda foi renovada

Pode haver ser humano mais frágil do que uma criança, habitação mais simples do que uma gruta e berço mais precário do que uma manjedoura? Entretanto, a Criança que contemplamos deitada sobre palhas na gruta de Belém haveria de alterar completamente o rumo dos acontecimentos terrenos.

Afirma o historiador austríaco João Batista Weiss: “Cristo é o centro dos acontecimentos da História. O mundo antigo O esperou; o mundo moderno e todo o porvir descansam sobre Ele. A Redenção da humanidade por Cristo é a maior façanha da História universal; sua Vida, a memória mais alta e bela que possui a humanidade; sua doutrina, a medida com que se há de apreciar todas as coisas”.

Difícil é, num mundo marcado pelo relativismo e pelo laicismo — quando não pelo ateísmo —, ter bem presentes o verdadeiro significado do Santo Natal e o benefício incomensurável que representou para os homens a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Cristo era o varão prometido a Adão logo depois de sua queda, o Messias anunciado durante séculos pelos profetas. Mas a realidade transcendeu qualquer imaginação humana: quem poderia excogitar que Ele seria o próprio Deus encarnado? A vinda de Jesus ao mundo não só abriu-nos as portas do Céu e nos trouxe a Salvação, mas também renovou toda a Terra. Diz São Tomás que Nosso Senhor quis ser batizado, entre outras razões, para santificar as águas.

 E o mesmo aconteceu com todos os outros elementos: a terra foi santificada porque seus divinos pés a pisaram; o ar, porque Ele o respirou; o fogo ardeu com maior vigor e pureza. Podemos sem dúvida dizer que este nosso mundo nunca mais foi o mesmo depois de nele ter vivido, feito homem, o próprio Criador.

Não é por acaso que se contam os anos a partir do nascimento de Cristo, pois Ele, realmente, divide a História em duas vertentes. Antes dEle a humanidade era uma, e depois passou a ser diametralmente outra. São duas histórias. Quase poderíamos afirmar serem dois universos! (Revista Arautos do Evangelho, Dez/2009, n. 96, p. 19 à 21)



Fonte: http://www.arautos.org/especial/21841/O-verdadeiro-significado-do-Natal.html

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Quem visitou Jesus primeiro? Os pastores ou os magos?

Historicamente, não é possível determinar a questão.
 
O fato é que a comunidade de Mateus, que tem como intenção manifestar Jesus aos povos (epifania),  apresenta os magos estrangeiros visitando e acolhendo o Messias na criança de Belém. 
 

A comunidade de Lucas, no entanto, anunciando a boa-nova ao pobres, apresenta os pastores  como primeiros destinatários da notícia do nascimento do menino na manjedoura da gruta de Belém.
 

Lucas será refletido no primeiro domingo de 2012 e Mateus no segundo domingo.
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O PAÍS DOS POÇOS

“Era uma vez o país dos poços. Qualquer visitante estranho que chegasse àquele país só conseguia ver poços: grandes, pequenos, feios, bonitos, ricos, pobres... À volta dos poços, pouca vegetação. A terra estava seca!

Os poços falavam entre si, mas à distância e gabavam-se daquilo que tinham nas suas bocas, mas havia sempre um pedaço de terra entre eles. Na realidade, quem falava era a boca do poço e dava a impressão que ao falar ressoava um eco, porque na verdade a fala provinha de lugares ocos.

Como a boca dos poços estava oca, os poços davam a sensação de vazio, de angústia e cada um procurava encher esse vazio como podia: com coisas, ruídos, sensações raras, livros, sabedorias... Havia poços com a boca tão larga que permitia colocar nela muitas coisas. As coisas, com o tempo, passavam de moda: então, com as mudanças, chegavam continuamente coisas novas aos poços, coisas diferentes... e quem possuía muitas coisas era o mais respeitado, admirado. Mas, no fundo, o poço nunca estava contente com o que possuía. A boca estava sempre ressequida e sedenta.

Diante desta sensação tão rara, uns sentiam medo e procuravam não voltar a senti-la. Outros, encontravam tantas dificuldades por causa das coisas que abarrotavam das suas bocas, que se punham a rir e logo esqueciam aquilo que se "encontrava no fundo"...
Até que houve alguém que começou a olhar mais para o fundo do poço e, entusiasmado com aquela sensação que experimentou no seu interior, procurou ficar quieto, mas, como as coisas que abarrotavam a sua boca o incomodavam, procurou libertar-se delas. E, aos poucos, os ruídos silenciaram, até chegar o silêncio completo. Então, fazendo-se silêncio na boca do poço, pôde escutar-se o barulho da água lá no fundo e sentir-se uma paz profunda, uma paz que vinha do fundo do poço.

No fundo, ele sentia-se ele mesmo. Até então acreditava que a sua razão de ser era ter uma boca larga, rica e embelezada, bem cheia de coisas... E assim, enquanto os outros poços tratavam de alargar a sua boca, para que nela coubessem mais coisas, este poço, olhando para o seu interior, descobriu que aquilo que ele tinha de melhor estava bem no fundo e que, quanto mais profundidade tivesse mais poço seria.

Feliz com a sua descoberta, procurou tirar água do seu interior, e a água, ao sair, refrescava a terra e tornava-a fértil e logo as flores brotavam ao seu redor.

A notícia espalhou-se rapidamente e as reações foram diversas: uns mostravam-se céticos, outros sentiam saudade de algo que, no fundo, percebiam também e outros ainda desprezavam "aquele lirismo" e achavam perda de tempo tirar água do seu interior.

Sem dúvida alguns tentaram fazer a experiência de se libertar das coisas que enchiam a boca e acabavam por encontrar água no seu interior. A partir de então comprovaram que, por mais água que tirassem do interior do poço, este não esvaziava. A seguir, aprofundando mais para o interior, descobriram que todos os poços estavam unidos por aquilo que lhes dava razão de ser: a água.

Assim começou uma comunicação profunda entre eles, as paredes dos poços deixaram de ser barreiras entre eles, já que a comunicação passou a ser feita através da água que os unia.

Mas a descoberta mais sensacional veio depois, quando os poços já viviam em profundidade: chegaram à conclusão que a água que lhes dava vida não nascia em cada poço, mas sim num lugar comum a todos eles. Então, resolveram seguir a corrente da água e descobriram o manancial! O manancial estava bem longe: na montanha do país dos poços, e ninguém sabia da sua presença. Mas estava lá!

A montanha sempre esteve lá. Umas vezes apenas visível entre as nuvens, outras mais radiante... Desde então, os poços que haviam descoberto a razão do seu ser, esforçaram-se por aumentar o seu interior e aumentar a sua profundidade, para que o manancial pudesse chegar mais facilmente até eles. E a água que tiravam de si mesmos tornou fértil a terra ao seu redor.
        
Mas, por muito que uns tivessem encontrado o manancial ainda havia outros que ainda se entretinham a encher as suas bocas com adereços…”

domingo, 18 de dezembro de 2011

sábado, 17 de dezembro de 2011

Animação Missionária Arquidiocesana apostará na formação de leigos em 2012

Apostar na formação dos leigos/as como medida para fortalecer a caminhada missionária da Igreja nas comunidades. - É pensando nessa perspectiva que o Conselho Missionário Arquidiocesano projeta o serviço de animação missionária para o ano de 2012. A medida será destinada aos leigos/as dos movimentos, pastorais e serviços da Arquidiocese de Porto Alegre.

Esse processo formativo fará ligação das diretrizes da Igreja com as ações do cotidiano nas comunidades. Para isso, será utilizado como subsídio o Documento de Aparecida, juntamente com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil 2011-2015. Os encontros de formação acontecerão sempre nos terceiros sábados de cada mês no Centro de Pastoral, em Porto Alegre, das 08h30min às 11h30min.

Segundo o coordenador Arquidiocesano da Animação Missionária, Luís Flávio, mps, a Dimensão Missionária irá preparar leigos para serem formadores e pregadores de encontros e retiros, sendo multiplicadores/as na missão da Igreja.

Para Luís Flávio, esta ação de formação deve ser prioridade em todos os âmbitos da Igreja: “Os coordenadores arquidiocesanos e dos vicariatos dos movimentos, pastorais e serviços devem priorizar em suas iniciativas de formação de seus leigos para este conteúdo”, disse.

Os encontros de formação terão início no mês de março de 2012, precisamente no sábado, dia 17. Nesta oportunidade, será apresentado o programa de formação para os participantes.

O coordenador Arquidiocesano sugere que esta formação já comece a ser debatida nas comunidades ainda neste ano de 2011: “É importante que o assunto-convite seja estudado nas reuniões que serão feitas ainda neste final de ano e nas iniciais do próximo ano.
"Para que a pessoa possa ser bem formada, ela deverá ser assídua no processo formativo, ou seja, investir nestes momentos para poder ter condições de ser um multiplicador e ser alguém com quem a Arquidiocese poderá contar para que toda nossa Igreja tenha consiência de ser discípula missionária. É uma mudança de mentalidade, de que todos são chamados à ganhar este espírito missionário para respondermos às reais necessiades atuais do ser humano".

" Queremos ser uma Igreja em estado permanente de missão ! "

É importante, também, que todos os terceiros sábados de cada mês figurem na programação anual de todos os coordenadores e das lideranças dos Movimentos, Pastorais, Comunidades, Comissões e Serviços de toda a Arquidiocese”, finalizou.

Saiba Mais

Centro de Pastoral
Praça Monsenhor Emílio Lottermann, 96
Floresta, Porto Alegre/RS
Fone: (51) 3222-3988
E-mail:
centrodepastoral@terra.com.br

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Coordenador Nacional de Juventude da CNBB visitou Arquidiocese de Porto Alegre

A preparação para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), será um marco para a evangelização da juventude brasileira nos dois anos que antecedem a realização do evento no Rio de Janeiro, em julho de 2013. Em comunhão com a Igreja no Brasil, a Arquidiocese de Porto Alegre também mobilizará a juventude e a Igreja local. Eventos como a Jornada Arquidiocesana e a Pré-Jornada Mundial mobilizarão os jovens da Arquidiocese.

Encontro do Setor de Juventude do Vicariato de Porto Alegre realizado na terça-feira, dia 06/12 reuniu mais de 40 jovens representando pastorais, grupos e comunidades para a preparação da Jornada Arquidiocesana de Juventude e os demais eventos na Arquidiocese. O encontro contou com a presença do Coordenador Nacional do Setor Juventude da CNBB, padre Carlos Sávio da Costa Ribeiro.
 
Com data definida para o dia 1ª de abril de 2012, a juventude arquidiocesana tem encontro marcado na Jornada Arquidiocesana de Juventude que será sediada no Colégio La Salle Dores, em Porto Alegre. O setor já definiu as equipes que organizarão o evento como divulgação, logística, liturgia, dentre outras. A ideia é oferecer um dia de atividades para os jovens: “No ano passado reunimos mais de 400 jovens e para 2012 queremos ampliar a presença da juventude em um evento mais organizado”, destacou Pe. Márcio Lacoski, coordenador arquidiocesano do setor.

Padre Márcio Lacoski também lembrou a presença dos jovens na Reunião do Clero da Arquidiocese de Porto Alegre. Segundo o presbítero, os Vicariatos já empreendem ações no sentido de mapear e organizar os grupos de jovens nos Vicariatos da Arquidiocese.

Já sobre a Jornada Mundial da Juventude em 2013, o Coordenador Nacional do Setor Juventude da CNBB, padre Carlos Sávio da Costa Ribeiro explanou sobre a projeto da CNBB, para a realização do evento que terá a presença do Papa Bento XVI. Padre Carlos Sávio destacou que a jornada não será um evento isolado: “A Jornada da Juventude não pode ser apenas um evento. Depois da JMJ, o que vai ficar para a juventude? Temos que colocar a jornada em um plano nacional de evangelização e pensar o que será feito antes, durante e depois. Por isso é que está sendo criado uma plano de evangelização” disse.
 

O coordenador Nacional afirmou que a passagem da Cruz missionária e do ícone de Nossa Senhora, símbolos da JMJ, estão promovendo verdadeiros momentos de evangelização. Os símbolos passarão pela Arquidiocese de Porto Alegre entre os dias 03 e 05 de novembro de 2011, e para isso está sendo pensado o evento BOTE FÉ: “O evento 'Bote Fé' é um programa evangelizador que é muito mais do que um show católico. É um evento que trabalha a celebração, formação e a ação social com foco na prevenção às drogas e o trabalho com as novas tecnologias”, disse padre Sávio.

Ainda na Arquidiocese de Porto Alegre, assim como em todo o Brasil, a Pré-Jornada Mundial da Juventude vai contar com a presença de jovens de toda América Latina para trabalho missionário evangelização nas dioceses brasileiras entre os dias 14 a 21 de julho de 2013; “Nós vamos usar todas as forças da Igreja para a pré-Jornada. Imaginem os jovens, padres, religiosos nas casas, nas igrejas, escolas e presídios evangelizando em todo o Brasil. Nós estamos preparando um subsídio para ter uma missão preparada” ressaltou padre Sávio.
 


A reunião foi concluída com o agradecimento e a benção ao padre Sávio. O Setor de Juventude da Arquidiocese de Porto Alegre disponibilizará sua mobilização e agenda de eventos através do blog: http://jovenstriconectados.blogspot.com.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Webrádios são instrumento na evangelização dos jovens

Navegar na internet, estudar e trabalhar ouvindo música católica de qualidade. Rezar o terço ao vivo com pessoas de outras cidades ou mesmo outros estados. Fazer novos amigos que têm os mesmos gostos. Essas são algumas das coisas que as webrádios católicas tornam possíveis. Cada vez mais comuns no Brasil, elas combinam formação com entretenimento e têm crescido contando com o apoio dos ouvintes e dos artistas.

Webrádio é a emissora que transmite programação sonora pela internet, usando a tecnologia de streaming. As primeiras transmissões de áudio na rede aconteceram nos Estados Unidos em 1994 e logo em seguida surgiu a primeira web rádio. A primeira emissora brasileira a transmitir sua programação na internet foi a mineira Itatiaia.

Aos poucos surgiram as primeiras emissoras funcionando exclusivamente via internet – que, em comparação com as rádios comuns, custam menos e podem alcançar mais pessoas. Não demorou muito, começaram a aparecer rádios especializadas, e assim nasceram as primeiras webrádios católicas.

A mais antiga do Brasil é a Famílias Online, do Ministério para as Famílias da RCC. Ela foi criada em 2004 por Wilson e Marli Rossi Gabriel. Em entrevista publicada pelo portal da RCC, eles contaram que o trabalho começou quando resolveram criar um site para evangelizar por meio da internet que permitisse aos internautas ouvir música enquanto navegavam.

A Rádio Beatitudes, sediada em Araraquara (SP), é uma das mais populares no Brasil, com cerca de 300 mil acessos por mês. Comandada pelo casal Silvinho e Carol Zabisky, fundadores da Comunidade Beatitudes do Coração de Jesus, foi criada em 2006. Entusiasta do rádio, Silvinho já tinha trabalhado em uma emissora católica de sua cidade e de lá levou sua experiência.

Na Beatitudes, como em praticamente todas as rádios que transmitem programação só pela internet, o trabalho é voluntário. São os membros da comunidade que se organizam para manter tudo funcionando a partir do estúdio que Silvinho e Carol mantêm em casa. O começo não foi fácil. Carol admite que nem ela acreditava na proposta.

- A inspiração veio no coração do Silvinho, em meados de 2006, quando ele sentiu que devia iniciar uma webrádio para evangelização. Não se tratou de pesquisa de mercado, mas certamente podemos dizer que foi uma inspiração divina, uma vontade de Deus que foi concretizada com o empenho e luta - até solitária - do Silvinho. Na época, só ele acreditou nesta inspiração que veio de Deus... eu não acreditava e até mesmo o desencorajei algumas vezes (principalmente quando ele deu o passo de comprar um novo computador - sem termos o dinheiro necessário pra isso...). Porém, ele tinha a certeza dessa moção de Deus e foi atrás.

O desejo de usar as novas tecnologias na evangelização é algo que une todas as webrádios católicas. A Rádio PJ Maringá, mantida pela Pastoral da Juventude, fez suas primeiras transmissões em 2009 e está direto no ar desde 2010, com programação voltada a todos os que se identificam com as pastorais da juventude.

Geliton Batista explica como surgiu o projeto:
- A Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Maringá (PR) tem buscado marcar presença na internet oferecendo conteúdo, recursos e ferramentas a serviço da evangelização da juventude. O projeto da web rádio está dentro deste propósito e vem sendo construído, gradativamente, com o protagonismo dos próprios jovens. Considerando também que é crescente a expansão do acesso e da qualidade da conexão e o fato de que é expressiva a utilização da internet pela geração atual de jovens, acreditamos que uma web rádio oferece condições para contribuir com nossa ação pastoral.

Interação

A interação descontraída entre locutores e internautas é uma marca das webrádios. As redes sociais têm um papel muito importante nisso, pois é por meio delas que essa interação acontece, encurtando as distâncias, e é dentro delas que ocorre a divulgação das emissoras.

Aline Oliveira, de Santo Antônio do Monte (MG), é assídua ouvinte da Beatitudes. Ela conta que descobriu o link no Orkut e logo se conectou e se encantou. A partir daí, começou a interagir com os locutores e logo já estava participando de um encontro de ouvintes em Araraquara.

- Deus deu à Beatitudes a missão de resgatar pessoas, principalmente jovens, que muitas vezes só têm a primeira experiência com Deus através da rádio! Muitas vezes, assim como foi comigo, jovens conectam a rádio meio que por acaso (digamos que um acaso de Deus!).

Divulgação

Os artistas e gravadoras também costumam ser fãs das webrádios. Eles próprios, tanto os que estão no começo da carreira como os que já são consagrados, enviam suas músicas para serem tocadas. Lize Borba, vocalista da banda Beatrix, considera as web rádios um importante instrumento de divulgação das músicas.

- A rádio, tanto convencional como na internet, é e continuará sendo por muito tempo um dos maiores meios de divulgação da música. Quanto mais pessoas ouvirem, mais a missão da banda estará sendo cumprida – avalia.

E e é assim que essa moçada conectada em Cristo, na juventude e na tecnologia vai trabalhando para levar a palavra de Deus a todos os cantos e atendendo ao chamado do Papa Bento XVI, que convidou “os jovens a fazerem bom uso de sua presença no areópago digital”.


Fonte: http://www.cnbb.org.br/site/comissoes-episcopais/juventude/8306-webradios-sao-instrumento-na-evangelizacao-dos-jovens

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Bispos se reúnem para fazer a 3ª revisão do Missal Romano



Os membros da Comissão Episcopal para os Textos Litúrgicos (CETEL) se reuniram na manhã desta quarta-feira, 14 de dezembro, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para a revisão da 3ª edição típica do Missal Romano.
O presidente da comissão Dom Armando Bucciol, bispo de Livramento de Nossa Senhora (BA), esteve presente, além do Arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira, do Arcebispo de Mariana, Dom Geraldo Lírio Rocha, Dom Manoel João Francisco, bispo de Chapecó (SC) e do Arcebispo de Porto Alegre, Dom Dadeus Grings.

Segundo Dom Geraldo, na liturgia, celebra-se não somente a vida de cada pessoa e de cada comunidade, mas o mistério pascal de Cristo.  “É importante reconhecer a necessidade de formação litúrgica mais intensa e mais profunda para favorecer uma participação mais ativa, mais consciente e mais proveitosa como ensinou o Concílio Vaticano II. E o empenho nessa formação deve atingir o clero, os religiosos e os leigos”, ressaltou Dom Geraldo.

A comissão é responsável por fazer a revisão dos textos litúrgicos. Para auxiliar nas traduções, os membros contaram com a colaboração do Padre Gregório Lutz, do Padre José Carlos Sala, assessor de Música e do Padre Hernaldo Pinto Farias, assessor de Liturgia. O trabalho de revisão continuará amanhã, dia 15.


sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

JESUS NO EVANGELHO DE SÃO MARCOS (3)

JESUS OPTOU PELA TEOLOGIA DA ALIANÇA, COMO OS PROFETAS.
Marcos 1,40-45

Leiamos Mc 1,40-45. Sugerimos que um dos participantes tenha a edição pastoral ou a bíblia de Jerusalém revista e atualizada. A tradução destas edições mostra um Jesus irado, não contra o leproso, mas contra o sistema religioso de exclusão. De acordo com este sistema de exclusão Jesus tocando no leproso se tornou um impuro. O impuro, segundo este sistema de exclusão da teologia da pureza, ao ficar impuro não faz coisas a partir de Deus mas a partir do demônio, o inimigo de Deus. Isto os escribas vindos de Jerusalém andaram espalhando no meio do povo como podemos ler em Marcos 3,22. Jesus fez um bem enorme ao leproso reintegrando-o na comunidade onde poderia ter vida digna e bonita.  Mas a teologia da pureza diz que foi em nome do demônio que Jesus fez isto.
Jesus, indignado com este sistema de exclusão se posicionou contra este mesmo sistema.
Qual é a diferença básica entre a teologia da pureza e da teologia da Aliança? A teologia da pureza ensinava que Deus privilegiava um grupo, normalmente minoria em relação a todo o povo. Já a teologia da aliança diz que Deus faz aliança com todo o povo sem exigir de antemão que seja um povo sem pecados.
Qual é o sistema vigente que exclui, que faz das pessoas apenas objetos descartáveis? Que produz sofrimento e tristeza quando promete felicidade e realização? Nunca vai conseguir realizar esta felicidade e realização! Nunca!

Côn. José Bonifácio Schmidt

continua...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

JESUS NO EVANGELHO DE SÃO MARCOS (2)

JESUS FAZ UMA ESCOLHA NO DESERTO PELO DISCERNIMENTO
Marcos 1,12-15

Tendo sido por um tempo discípulo de João Batista (Mc 1,9), Jesus teve ocasiões para um silêncio muito fértil no deserto. De fato, o silêncio é muitas vezes mais fértil do que o barulho  de qualquer som. Foi no deserto que Jesus esteve muitas vezes em oração. Marcos até diz que foram quarenta dias de oração e jejum no deserto (Mc 1,12s). A prisão de João foi o sinal para Jesus ir à Galiléia e começar a sua pregação: O Reino de Deus está próximo (Mc 1,15). Jesus fez um discernimento da vontade do Pai no deserto e entendeu que com a prisão de João Batista tinha chegado a sua vez de pregar o Reino de Deus.
Ele propõe este reino para seus ouvintes, a grande maioria povo sofrido sob o peso de autoridades que não queriam o bem do povo mas o sugavam até à morte.  Jesus sabe que está andando por um caminho perigoso.  Vai encontrar muita rejeição.  Mas vai ser sinal de Deus para os pobres e infelizes.
Jesus encontrou um sentido para sua vida na doação integral ao povo que vivia uma vida muito sacrificada. Jesus sofreu incompreensões, perseguições e muita cruz na sua vida itinerante. Mas não desistiu. Seguir a vontade do Pai que é uma vontade salvadora foi o objetivo da vida de Jesus dedicada totalmente aos outros. Encontrou sentido ao dedicar a sua vida para os outros ao lhes propor o projeto do Reino de Deus.
Ainda hoje faria a mesma coisa. Se dedicar aos outros totalmente. Muitos encontraram com as palavras e as atitudes de Jesus um novo sentido para sua vida,  um sentido de alegria, de realização, de plenificação.
Nós rezamos com freqüência no Pai nosso “Seja feita a vossa vontade”. Somos sinceros? Reconhecemos, como Jesus, que a vontade de Deus Pai é sempre salvadora? E procuramos realmente fazer, por em prática a vontade do Pai? Aqui, parece há uma boa caminhada a ser feita. Experimentemos e vamos constatar que a vontade de Deus é de fato salvadora.
Côn. José Bonifácio Schmidt
continua...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

JESUS NO EVANGELHO DE SÃO MARCOS (1)

Côn. José Bonifácio Schmidt
OBJETIVO:

Oferecer a todos os grupos e círculos de pastorais, movimentos e serviços  e para grupos a serem criados, um olhar para o Jesus do evangelho de Marcos para que possa acontecer uma maior familiaridade com a bíblia e maior gosto para ler a Sagrada Escritura e, como graça, um maior encantamento por Jesus de Nazaré.

SONHO:

As pessoas, pela informação, reflexão, oração, consigam criar em si mesmas uma adesão mais entusiasta por Jesus, como Marcos o apresentou a seus leitores no primeiro século, e assim fazer acontecer um novo Pentecostes como anunciou Bento XVI na Verbum Domini.

MÉTODO:

Fazendo acontecer mini retiros. Leitura da bíblia, partilha de compreensão do texto, invocação do Espírito Santo, ativar a inteligência e a liberdade, deixar o Espírito sugerir compreensões da Palavra de Deus. Entusiasmar-se por Jesus.

INTRODUÇÃO

O Evangelho de Marcos foi o primeiro evangelho escrito, estima-se, trinta e cinco anos, ou mais, depois da morte de Jesus. Marcos na sua adolescência conheceu Jesus. Colaborou com Paulo e com Pedro. Esteve na comunidade de Roma onde resolveu elaborar o escrito a que ele mesmo deu o nome de evangelho: boa notícia. Através de narrações foi apresentando Jesus que entusiasmou e deu novo sentido à vida para as pessoas perseguidas por Nero em Roma. Este evangelho animou as pessoas no primeiro século. Poderá animar novamente os cristãos do século 21? Sim! É esta a esperança do Papa Bento XVI, manifesta claramente na Verbum Domini, dos Bispos da América Latina que manifestaram isto no Documento de Aparecida e também dos Bispos do Brasil que manifestaram este desejo transformado em projeto nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011-2015.
O evangelho de Marcos é um escrito que pode ser vivido nos modernos tempos de tantos progressos técnicos, científicos, humanos e espirituais. Precisamos valorizar, para conservar a saúde espiritual, a nossa dimensão de fé. O encontro pessoal com Jesus do evangelho de Marcos é uma bela possibilidade para isto!
Uma vez por mês, talvez em reunião especial para este fim, o grupo ou a pastoral, estuda, partilha e medita algum texto dos 12 propostos em nosso livreto. Com este propósito todos os participantes poderão fazer todos os meses um mini retiro para que aconteça no decorrer do ano um entusiasmo e um fascínio, um encantamento, uma paixão pelo Senhor Jesus do modo como Marcos o apresenta para nós hoje.

Côn. José Bonifácio Schmidt
continua...

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

sábado, 3 de dezembro de 2011

Uma voz clama no deserto: Fé na ousadia de Deus! (Mc 1,1-8) II Domingo do Advento

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Esta reflexão é sobre o segundo domingo do Advento. Advento é tempo de reflexão diante do plano de Deus para a humanidade. É tempo de refletir como estamos orientando nossas vidas em relação ao propósito de Deus. Advento também é vinda, chegada. Ele vem. Jesus vem!


É um período especial, pois antecede o Natal, e traz nada menos que três desafios à cristandade. Esse período (1) quer nos lembrar do Advento histórico, passado. (2) Quer nos lembrar do Senhor que quer ser, hoje, nosso hóspede, portanto, o aspecto presente. (3) Finalmente, quer nos remeter ao futuro: o aspecto escatológico do mesmo.

O Advento é época de recuperar os grandes feitos de Deus. Eles são fundamentais para a nossa fé cristã e orientadores para a nossa convivência na comunidade e no mundo, em testemunho e serviço. Recuperar os fatos, no Advento, significa, conforme Isaías, novo fascínio, força e vigor para superar nossos cansaços, desesperanças, desânimo, vontade de desistir e cultivar nossa fé - esperança no Senhor. Advento é esperança na renovação de todas as coisas, na libertação das nossas misérias, pecados, fraquezas. É esperança que nos forma na paciência diante das dificuldades e tribulações da vida, diante de tantas coisas que afligem nossa alma e ferem nosso corpo.

Advento é, por isso, época de não só pensar em doces e presentes, mas, acima de tudo, é convite para olhar em direção ao que realmente importa, ou seja, a oferta da vida com esperança, em Cristo Jesus. É tempo de encontrar o novo.

O "evangelho" de Jesus não vem dos palácios

Os primeiros versos do Evangelho segundo Marcos retomam a profecia do Antigo Testamento e a conduzem ao Novo, ao evento do Espírito. O Espírito perfaz o novo! Marcos ressalta que Jesus Cristo, o Filho de Deus, é a Boa Nova da salvação para a humanidade. Como o mensageiro antigo (Isaías 52,7), João Batista proclama o alegre anúncio, que culmina em Jesus (Marcos 1,14-15) e ressoa nas comunidades cristãs como apelo a anunciar a mensagem de libertação no mundo inteiro (Marcos 13,10; 14,9).

Sabe-se que, para o evangelista, as palavras e ações de Jesus são "evangelho". "Evangelho" é uma palavra que era utilizada pelas autoridades para anunciar as suas ações. Contudo, para o evangelista Marcos, o "evangelho" de Jesus não vem dos palácios, mas da periferia de Nazaré (W. Marxen). O evangelho é alegria, não é imposto, como o evangelho imperial. Aqui nos é apresentado Jesus Cristo como "Filho de Deus", uma expressão que é central para o Evangelho segundo Marcos (cf. Marcos 1,11; 15,39).

Em seguida, Marcos 1,2-8 apresenta o precursor, João Batista. Jesus está na linha da profecia! João Batista é o profeta anunciado em Isaías. Restaura Israel a partir do deserto, como Moisés o fez com o povo que saiu do Egito, como tinha sido a prática de Elias no Horebe. João Batista, o profeta, tem seu foco no deserto. Para a história de Israel, o deserto é símbolo de vida, de resistência, vida restaurada, nova.

A profecia de João Batista apela à conversão, ao arrependimento. Isso é antiga tradição profética. O arrependimento é o eixo da renovação.

Fé na renovada ousadia de Deus e olhos fixos no futuro

O povo de Deus sempre teve os olhos fixos no futuro, com esperança na vinda definitiva do Senhor (Isaías). Marcos nos chama a olhar à nossa volta e enxergar dentro de nossa história a vinda de Deus: João é o novo Elias (1 Reis 1,8), isto é, a profecia que volta a ser proclamada, o povo se reúne e se organiza para recomeçar como nos tempos do "deserto", enquanto os poderosos se abalam por se sentirem desmascarados (Mateus 3,7). Em Jesus de Nazaré, é Deus mesmo quem opera a restauração das pessoas.

Assim como se deu com Elias, João foi perseguido e morto covardemente, mas a palavra ressurge em Jesus (Marcos 1,14-15; 6,16). Também Jesus foi perseguido e assassinado, mas a caminhada da Palavra prossegue com seus discípulos e discípulas.

Ouvir de Elias, de João, de Jesus... é ouvir falar da renovada ousadia de Deus, a ousadia da liberdade, que não aceita calar-se nunca, nem teme os poderosos do mundo. Sempre de novo a Palavra ressurge para anunciar que são possíveis "novos céus e nova terra" (2 Pedro 3,13; Marcos 1,9-13; 9,2-13). A Palavra volta a levantar-se para denunciar os obstáculos que se antepõem ao propósito de Deus e proclamar que só há uma maneira de viver nessa nova realidade: "endireitar" os caminhos, reconhecer os erros pessoais e coletivos, refazer as relações pelo perdão, a igualdade e a partilha (Lucas 3,10-14). Aí, sim, o "deserto" se transforma em larga estrada, em jardim do Senhor.

O deserto era o lugar onde frequentemente se refugiava quem se sentia à margem do sistema e se punha na oposição. Lá estavam os essênios, pessoas que romperam com o templo e se consideravam vanguarda do novo povo. Para lá se dirigia quem se proclamava profeta ou messias e pretendia organizar a resistência popular. Por lá andavam guerrilheiros (sicários, zelotas) e bandidos. O movimento de João é de protesto e resistência, por isso foi preso e morto. Herodes o temia.

Batismos e rituais de purificações eram práticas comuns no ambiente dos fariseus e dos essênios. No movimento de João não são os sacrifícios que purificam do pecado, mas a confissão e o arrependimento, a mudança de vida. O povo não peregrina em direção ao templo, mas sai das cidades, como num êxodo, em direção ao deserto. É como se fosse preciso sair de novo do Egito, "a casa da servidão". E, pelo Jordão, entrar na Terra Prometida. Sob a expressão "remissão dos pecados" está escondida a antiga esperança da "remissão das dívidas" prevista para o Ano do Jubileu (Levítico 25). O novo tempo anunciado por João é a possibilidade, com Jesus, de restauração radical da convivência do povo em sociedade, segundo os ideais da igualdade e da justiça. Para isso é que se prevê a "imersão" (batismo) no Espírito Santo. Será como passar pelo fogo (Mateus 3,11; Malaquias 3,2) que purifica e destrói, para que algo novo possa surgir. Essa novidade era esperada desde o final do exílio na Babilônia e é dela que falavam profetas e profetisas no grupo de discípulos de Isaías (Is 40-66).

Deus sabe o caminho que devemos andar

João Batista, o precursor, propõe a conversão como meio para preparar o caminho do Senhor e acelerar a chegada de um mundo novo de justiça. Deus caminha pelo deserto da história, ensinando-nos a endireitar as veredas através de gestos solidários de amor e paz.

Dietrich Bonhoeffer dizia: "Eu não entendo os Teus caminhos, Senhor. Mas Tu sabes os caminhos que devo andar!" E é verdade! Deus sabe o caminho que devemos andar. Sabe, quanto mais procuro vivenciar e entender as coisas que Deus quer de mim, mais me surpreende o quanto Deus vem ao meu, ao nosso encontro nas áreas mais essenciais e carentes da vida: "significado, pertencimento, saúde, liberdade e comunidade". É que Deus - que é um Deus de amor e, consequentemente, de salvação - vem ao nosso encontro nas áreas mais necessitadas da existência humana e comunitária.

Por isso, "Ficai atentos, preparem-se". Ficai Atentos! A Esperança não pode esmorecer, mas resistir. Esperança Teimosa! Nascida do discernimento. Construída mesmo no tempo de sofrimento e esmorecimento! O tempo que vivemos é tempo de resistir pela solidariedade ao egoísmo e ao individualismo que nos consomem. Ser sensível é ser humano! Olhar o mundo sem indiferença. Com compaixão e afeto que movam à transformação! Vivamos intensamente este Tempo do Advento! Pois o Advento nos ensina: Não canse de esperar, o que esperamos vai chegar!

Odete Liber de Almeida Adriano é da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e colaboradora no CEBI.

Para aprofundar mais sua leitura sobre o Advento, o CEBI sugere as seguintes obras:


Fonte: http://www.cebi.org.br/noticia.php?secaoId=21&noticiaId=2578

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Campanha para a Evangelização - CE 2011: Gesto concreto de quem acolhe Aquele que veio curar nossos males

"Ele veio curar nossos males". Com essa afirmação, a Igreja do Brasil vem conclamar os cristãos a assumir a missão recebida no batismo: seguir fielmente a Jesus Cristo dando continuidade a sua obra evangelizadora. Instituída em 1997, durante a 35ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Campanha para a Evangelização (CE) anseia ser inspiração para a tomada de consciência, a fim de gerar em cada cristão o comprometimento com a ação evangelizadora da igreja nos mais diversos contextos.

Realizada, anualmente, no período do Advento, a CE convida à reflexão sobre o Mistério da Encarnação, propondo na vivência das relações diárias a experiência dos valores evangélicos. De acordo com o padre José Adalberto Vanzela , o Advento é o momento de acolher o ‘Verbo que se fez carne e habitou entre nós', desse modo a CE deve ser compreendida como algo intimamente ligado ao mistério da encarnação que celebramos no Natal. "Este é o momento de vivenciarmos a encarnação do Evangelho na existência de todas as pessoas ", enfatiza.

Imbuída da missão de possibilitar sustentabilidade às obras de evangelização, a campanha surge com a finalidade de, além de relacionar o tempo do Advento com a missão evangelizadora da Igreja, mobilizar os fiéis para a responsabilidade de testemunhar os valores alicerçados em Jesus Cristo. Nesse sentido, o padre Luiz Carlos Dias destaca que os principais objetivos da CE são, sobretudo, mostrar a necessidade da participação de todos os batizados na ação evangelizadora; motivar para que os participantes das comunidades contribuam espiritual e materialmente para a manutenção da ação evangelizadora, dos projetos da CNBB, dos 17 Regionais e das Dioceses existentes em todo o Brasil.

A Campanha para a Evangelização, neste ano, vem trazer uma boa nova: O Filho de Deus que nos serviu encarnando-se entre nós, venceu todos os males e reina em todo o universo. Padre Luiz Carlos enfatiza que o tema precisa ser compreendido e para isso é necessário perceber que existe um esforço de integração entre as campanhas realizadas pela Igreja no Brasil (Campanha da Fraternidade (CF), Campanha para a Evangelização (CE) e Campanha Missionária (CM)). "O tema principal decorre do escolhido para a CF para o ano que se inicia com o Advento, normalmente definido pelos bispos do Conselho Episcopal de Pastoral, com anterioridade de dois anos", explica.

Ainda de acordo com padre Luiz Carlos, neste ano, o lema a nos iluminar, "Ele veio curar nossos males", foi escolhido em sintonia com o tema da CF 2012 - Saúde Pública" e objetiva sensibilizar os fiéis sobre a responsabilidade diante do sofrimento humano como elemento essencial para a realização do trabalho evangelizador, a fim de que, pela palavra, pela ação e pela doação pessoal e material, todos contribuam de maneira mais efetiva para a ação evangelizadora da Igreja.

"O tema do sofrimento, cujas causas podem ser várias, sobretudo o decorrente das enfermidades, é uma realidade fundamental para todos nós. Nosso Papa atual lembra que, ‘a grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre '. E, numa cultura, como a atual, que impulsiona a sociedade na busca do bem estar e do prazer, o sofrimento tende a se tornar cada vez mais incompreensível e de difícil aceitação. A igreja precisa com o testemunho, apontar Aquele que pode curar nossos males. Eis uma boa notícia", declara o secretário.

Durante o tempo da CE, que inicia na solenidade de Cristo Rei e se estende até o terceiro domingo do Advento, as comunidades são convidadas a dialogar e refletir sobre a temática em foco, para que, motivados pela fé recebida e pela gratidão a Deus, este processo culmine na contribuição espontânea de cada cristão. Essa participação pode ser realizada de forma espiritual, ou seja, doando seu tempo para os serviços de evangelização ou financeiramente participando da coleta nacional que será realizada em todas as comunidades do Brasil nos dias 10 e 11 de dezembro de 2011.

O recurso obtido nesta coleta contribui diretamente na ação evangelizadora, sendo que do total arrecadado, 45% é destinado às dioceses com a finalidade de custear a ação evangelizadora local; 20% para os Regionais da CNBB, que são instâncias intermediárias com a missão de promover a articulação entre as dioceses, pastorais e movimentos presentes em suas realidades; e, por fim, 35% para o secretariado nacional de ação evangelizadora, situado em Brasília (DF). Esse recurso constitui o Fundo para a Evangelização que é administrado pela CNBB.

A participação à coleta nacional é um gesto concreto de adesão à CE e relacionada a experiências vivencias de doação pessoal ao serviço de evangelização das comunidades, transforma a construção do Reino em realidade palpável no cotidiano. Padre Luiz Carlos destaca que é preciso que não percamos de vista que este tempo nos anuncia a Encarnação do Verbo e, é propício para o encontro com Jesus Cristo em nossa história. E, lembra ainda, que as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora nos instiga a essa prática quando enfatiza "Nisto se manifesta nosso discipulado missionário: contemplemos Jesus Cristo presente e atuante em meio à realidade ".

Por fim, padre Luiz Carlos deixa a seguinte mensagem: "A participação na CE, com este propósito, é fundamentalmente para que todos os membros da grande comunidade dos discípulos de Jesus Cristo reconheçam-se, a partir do batismo, como participantes da missão da igreja; sintam-se responsáveis pela sua ação evangelizadora; mostrem a importância do Evangelho como critério para a superação dos principais problemas que angustiam a sociedade; colaborem com a missão evangelizadora da igreja: na doação de si e participando ativamente na vida da comunidade em alguma pastoral, movimento ou serviço eclesial e pela doação material". 

Texto publicado na Revista Família Cristã - Edição de Dezembro 2011
 
Daiane Bristot
Assessoria de Imprensa do Regional Sul 3 da CNBB
Integrante do Setor de Comunicação do CEBI
Coordenadora de Comunicação do Valor Humano - Espaço Terapêutico e Desenvolvimento Comportamental
Colaboradora da Revista Família Cristâ

terça-feira, 29 de novembro de 2011

CARTA APOSTÓLICA SOB FORMA DE MOTU PROPRIO PORTA FIDEI DO SUMO PONTÍFICE BENTO XVI COM A QUAL SE PROCLAMA O ANO DA FÉ

1. A PORTA DA FÉ (cf. At 14, 27), que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. É possível cruzar este limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma. Atravessar esta porta implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira. Este caminho tem início no Batismo (cf. Rm 6, 4), pelo qual podemos dirigir-nos a Deus com o nome de Pai, e está concluído com a passagem através da morte para a vida eterna, fruto da ressurreição do Senhor Jesus, que, com o dom do Espírito Santo, quis fazer participantes da sua própria glória quantos creem n’Ele (cf. Jo 17, 22). Professar a fé na Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo – equivale a crer num só Deus que é Amor (cf. 1 Jo 4, 8): o Pai, que na plenitude dos tempos enviou seu Filho para a nossa salvação; Jesus Cristo, que redimiu o mundo no mistério da sua morte e ressurreição; o Espírito Santo, que guia a Igreja através dos séculos enquanto aguarda o regresso glorioso do Senhor.

2. Desde o princípio do meu ministério como Sucessor de Pedro, lembrei a necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo. Durante a homilia da Santa Missa no início do pontificado, disse: «A Igreja no seu conjunto, e os Pastores nela, como Cristo devem pôr-se a caminho para conduzir os homens fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude»[1]. Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora um tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado.[2] Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes sectores da sociedade devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas.

3. Não podemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida (cf. Mt 5, 13-16). Também o homem contemporâneo pode sentir de novo a necessidade de ir como a samaritana ao poço, para ouvir Jesus que convida a crer n’Ele e a beber na sua fonte, donde jorra água viva (cf. Jo 4, 14). Devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus, transmitida fielmente pela Igreja, e do Pão da vida, oferecidos como sustento de quantos são seus discípulos (cf. Jo 6, 51). De fato, em nossos dias ressoa ainda, com a mesma força, este ensinamento de Jesus: «Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna» (Jo 6, 27). E a questão, então posta por aqueles que O escutavam, é a mesma que colocamos nós também hoje: «Que havemos nós de fazer para realizar as obras de Deus?» (Jo 6, 28). Conhecemos a resposta de Jesus: «A obra de Deus é esta: crer n’Aquele que Ele enviou» (Jo 6, 29). Por isso, crer em Jesus Cristo é o caminho para se poder chegar definitivamente à salvação.

4. À luz de tudo isto, decidi proclamar um Ano da Fé. Este terá início a 11 de Outubro de 2012, no cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, e terminará na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, a 24 de Novembro de 2013. Na referida data de 11 de Outubro de 2012, completar-se-ão também vinte anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, texto promulgado pelo meu Predecessor, o Beato Papa João Paulo II,[3] com o objetivo de ilustrar a todos os fiéis a força e a beleza da fé. Esta obra, verdadeiro fruto do Concílio Vaticano II, foi desejada pelo Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985 como instrumento ao serviço da catequese[4] e foi realizado com a colaboração de todo o episcopado da Igreja Católica. E uma Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos foi convocada por mim, precisamente para o mês de Outubro de 2012, tendo por tema A nova evangelização para a transmissão da fé cristã. Será uma ocasião propícia para introduzir o complexo eclesial inteiro num tempo de particular reflexão e redescoberta da fé. Não é a primeira vez que a Igreja é chamada a celebrar um Ano da Fé. O meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, proclamou um ano semelhante, em 1967, para comemorar o martírio dos apóstolos Pedro e Paulo no décimo nono centenário do seu supremo testemunho. Idealizou-o como um momento solene, para que houvesse, em toda a Igreja, «uma autêntica e sincera profissão da mesma fé»; quis ainda que esta fosse confirmada de maneira «individual e coletiva, livre e consciente, interior e exterior, humilde e franca».[5] Pensava que a Igreja poderia assim retomar «exata consciência da sua fé para a reavivar, purificar, confirmar, confessar».[6] As grandes convulsões, que se verificaram naquele Ano, tornaram ainda mais evidente a necessidade duma tal celebração. Esta terminou com a Profissão de Fé do Povo de Deus,[7] para atestar como os conteúdos essenciais, que há séculos constituem o patrimônio de todos os crentes, necessitam de ser confirmados, compreendidos e aprofundados de maneira sempre nova para se dar testemunho coerente deles em condições históricas diversas das do passado.

5. Sob alguns aspectos, o meu venerado Predecessor viu este Ano como uma «consequência e exigência pós-conciliar»[8], bem ciente das graves dificuldades daquele tempo sobretudo no que se referia à profissão da verdadeira fé e da sua reta interpretação. Pareceu-me que fazer coincidir o início do Ano da Fé com o cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II poderia ser uma ocasião propícia para compreender que os textos deixados em herança pelos Padres Conciliares, segundo as palavras do Beato João Paulo II, «não perdem o seu valor nem a sua beleza. É necessário fazê-los ler de forma tal que possam ser conhecidos e assimilados como textos qualificados e normativos do Magistério, no âmbito da Tradição da Igreja. Sinto hoje ainda mais intensamente o dever de indicar o Concílio como a grande graça de que beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa».[9] Quero aqui repetir com veemência as palavras que disse a propósito do Concílio poucos meses depois da minha eleição para Sucessor de Pedro: «Se o lermos e recebermos guiados por uma justa hermenêutica, o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja».[10]

6. A renovação da Igreja realiza-se também através do testemunho prestado pela vida dos crentes: de fato, os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou. O próprio Concílio, na Constituição dogmática Lumen gentium, afirma: «Enquanto Cristo “santo, inocente, imaculado” (Hb 7, 26), não conheceu o pecado (cf. 2Cor 5, 21), mas veio apenas expiar os pecados do povo (cf. Hb 2, 17), a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação. A Igreja “prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus”, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha (cf. 1Cor 11, 26). Mas é robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência e pela caridade, as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas, e a revelar, velada mas fielmente, o seu mistério, até que por fim se manifeste em plena luz».[11]
Nesta perspectiva, o Ano da Fé é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. No mistério da sua morte e ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor que salva e chama os homens à conversão de vida por meio da remissão dos pecados (cf. At 5, 31). Para o apóstolo Paulo, este amor introduz o homem numa vida nova: «Pelo Batismo fomos sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova» (Rm 6, 4). Em virtude da fé, esta vida nova plasma toda a existência humana segundo a novidade radical da ressurreição. Na medida da sua livre disponibilidade, os pensamentos e os afetos, a mentalidade e o comportamento do homem vão sendo pouco a pouco purificados e transformados, ao longo de um itinerário jamais completamente terminado nesta vida. A «fé, que atua pelo amor» (Gl 5, 6), torna-se um novo critério de entendimento e de ação, que muda toda a vida do homem (cf. Rm 12, 2; Cl 3, 9-10; Ef 4, 20-29; 2Cor 5, 17).

7. «Caritas Christi urget nos – o amor de Cristo nos impele» (2Cor 5, 14): é o amor de Cristo que enche os nossos corações e nos impele a evangelizar. Hoje, como outrora, Ele envia-nos pelas estradas do mundo para proclamar o seu Evangelho a todos os povos da terra (cf. Mt 28, 19). Com o seu amor, Jesus Cristo atrai a Si os homens de cada geração: em todo o tempo, Ele convoca a Igreja confiando-lhe o anúncio do Evangelho, com um mandato que é sempre novo. Por isso, também hoje é necessário um empenho eclesial mais convicto a favor duma nova evangelização, para descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé. Na descoberta diária do seu amor, ganha força e vigor o compromisso missionário dos crentes, que jamais pode faltar. Com efeito, a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria. A fé torna-nos fecundos, porque alarga o coração com a esperança e permite oferecer um testemunho que é capaz de gerar: de fato, abre o coração e a mente dos ouvintes para acolherem o convite do Senhor a aderir à sua Palavra a fim de se tornarem seus discípulos. Os crentes – atesta Santo Agostinho – «fortificam-se acreditando».[12] O Santo Bispo de Hipona tinha boas razões para falar assim. Como sabemos, a sua vida foi uma busca contínua da beleza da fé enquanto o seu coração não encontrou descanso em Deus.[13] Os seus numerosos escritos, onde se explica a importância de crer e a verdade da fé, permaneceram até aos nossos dias como um patrimônio de riqueza incomparável e consentem ainda que tantas pessoas à procura de Deus encontrem o justo percurso para chegar à «porta da fé».
Por conseguinte, só acreditando é que a fé cresce e se revigora; não há outra possibilidade de adquirir certeza sobre a própria vida, senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada vez maior porque tem a sua origem em Deus.

8. Nesta feliz ocorrência, pretendo convidar os Irmãos Bispos de todo o mundo para que se unam ao Sucessor de Pedro, no tempo de graça espiritual que o Senhor nos oferece, a fim de comemorar o dom precioso da fé. Queremos celebrar este Ano de forma digna e fecunda. Deverá intensificar-se a reflexão sobre a fé, para ajudar todos os crentes em Cristo a tornarem mais consciente e revigorarem a sua adesão ao Evangelho, sobretudo num momento de profunda mudança como este que a humanidade está a viver. Teremos oportunidade de confessar a fé no Senhor Ressuscitado nas nossas catedrais e nas igrejas do mundo inteiro, nas nossas casas e no meio das nossas famílias, para que cada um sinta fortemente a exigência de conhecer melhor e de transmitir às gerações futuras a fé de sempre. Neste Ano, tanto as comunidades religiosas como as comunidades paroquiais e todas as realidades eclesiais, antigas e novas, encontrarão forma de fazer publicamente profissão do Credo.

9. Desejamos que este Ano suscite, em cada crente, o anseio de confessar a fé plenamente e com renovada convicção, com confiança e esperança. Será uma ocasião propícia também para intensificar a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia, que é «a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força».[14] Simultaneamente esperamos que o testemunho de vida dos crentes cresça na sua credibilidade. Descobrir novamente os conteúdos da fé professada, celebrada, vivida e rezada[15] e refletir sobre o próprio ato com que se crê, é um compromisso que cada crente deve assumir, sobretudo neste Ano.
Não foi sem razão que, nos primeiros séculos, os cristãos eram obrigados a aprender de memória o Credo. É que este servia-lhes de oração diária, para não esquecerem o compromisso assumido com o Batismo. Recorda-o, com palavras densas de significado, Santo Agostinho quando afirma numa homilia sobre a redditio symboli (a entrega do Credo): «O símbolo do santo mistério, que recebestes todos juntos e que hoje proferistes um a um, reúne as palavras sobre as quais está edificada com solidez a fé da Igreja, nossa Mãe, apoiada no alicerce seguro que é Cristo Senhor. E vós recebeste-lo e proferiste-lo, mas deveis tê-lo sempre presente na mente e no coração, deveis repeti-lo nos vossos leitos, pensar nele nas praças e não o esquecer durante as refeições; e, mesmo quando o corpo dorme, o vosso coração continue de vigília por ele».[16]

10. Queria agora delinear um percurso que ajude a compreender de maneira mais profunda os conteúdos da fé e, juntamente com eles, também o ato pelo qual decidimos, com plena liberdade, entregar-nos totalmente a Deus. De fato, existe uma unidade profunda entre o ato com que se crê e os conteúdos a que damos o nosso assentimento. O apóstolo Paulo permite entrar dentro desta realidade quando escreve: «Acredita-se com o coração e, com a boca, faz-se a profissão de fé» (Rm 10, 10). O coração indica que o primeiro ato, pelo qual se chega à fé, é dom de Deus e ação da graça que age e transforma a pessoa até ao mais íntimo dela mesma.
A este respeito é muito eloquente o exemplo de Lídia. Narra São Lucas que o apóstolo Paulo, encontrando-se em Filipos, num sábado foi anunciar o Evangelho a algumas mulheres; entre elas, estava Lídia. «O Senhor abriu-lhe o coração para aderir ao que Paulo dizia» (At 16, 14). O sentido contido na expressão é importante. São Lucas ensina que o conhecimento dos conteúdos que se deve acreditar não é suficiente, se depois o coração – autêntico sacrário da pessoa – não for aberto pela graça, que consente ter olhos para ver em profundidade e compreender que o que foi anunciado é a Palavra de Deus.
Por sua vez, o professar com a boca indica que a fé implica um testemunho e um compromisso públicos. O cristão não pode jamais pensar que o crer seja um fato privado. A fé é decidir estar com o Senhor, para viver com Ele. E este «estar com Ele» introduz na compreensão das razões pelas quais se acredita. A fé, precisamente porque é um ato da liberdade, exige também assumir a responsabilidade social daquilo que se acredita. No dia de Pentecostes, a Igreja manifesta, com toda a clareza, esta dimensão pública do crer e do anunciar sem temor a própria fé a toda a gente. É o dom do Espírito Santo que prepara para a missão e fortalece o nosso testemunho, tornando-o franco e corajoso.
A própria profissão da fé é um ato simultaneamente pessoal e comunitário. De fato, o primeiro sujeito da fé é a Igreja. É na fé da comunidade cristã que cada um recebe o Batismo, sinal eficaz da entrada no povo dos crentes para obter a salvação. Como atesta o Catecismo da Igreja Católica, «“Eu creio”: é a fé da Igreja, professada pessoalmente por cada crente, principalmente por ocasião do Batismo. “Nós cremos”: é a fé da Igreja, confessada pelos bispos reunidos em Concílio ou, de modo mais geral, pela assembleia litúrgica dos crentes. “Eu creio”: é também a Igreja, nossa Mãe, que responde a Deus pela sua fé e nos ensina a dizer: “Eu creio”, “Nós cremos”».[17]
Como se pode notar, o conhecimento dos conteúdos de fé é essencial para se dar o próprio assentimento, isto é, para aderir plenamente com a inteligência e a vontade a quanto é proposto pela Igreja. O conhecimento da fé introduz na totalidade do mistério salvífico revelado por Deus. Por isso, o assentimento prestado implica que, quando se acredita, se aceita livremente todo o mistério da fé, porque o garante da sua verdade é o próprio Deus, que Se revela e permite conhecer o seu mistério de amor.[18]
Por outro lado, não podemos esquecer que, no nosso contexto cultural, há muitas pessoas que, embora não reconhecendo em si mesmas o dom da fé, todavia vivem uma busca sincera do sentido último e da verdade definitiva acerca da sua existência e do mundo. Esta busca é um verdadeiro «preâmbulo» da fé, porque move as pessoas pela estrada que conduz ao mistério de Deus. De fato, a própria razão do homem traz inscrita em si mesma a exigência «daquilo que vale e permanece sempre».[19] Esta exigência constitui um convite permanente, inscrito indelevelmente no coração humano, para caminhar ao encontro d’Aquele que não teríamos procurado se Ele mesmo não tivesse já vindo ao nosso encontro.[20] É precisamente a este encontro que nos convida e abre plenamente a fé.

11. Para chegar a um conhecimento sistemático da fé, todos podem encontrar um subsídio precioso e indispensável no Catecismo da Igreja Católica. Este constitui um dos frutos mais importantes do Concílio Vaticano II. Na Constituição apostólica Fidei depositum – não sem razão assinada na passagem do trigésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II – o Beato João Paulo II escrevia: «Este catecismo dará um contributo muito importante à obra de renovação de toda a vida eclesial (...). Declaro-o norma segura para o ensino da fé e, por isso, instrumento válido e legítimo ao serviço da comunhão eclesial».[21] 
É precisamente nesta linha que o Ano da Fé deverá exprimir um esforço generalizado em prol da redescoberta e do estudo dos conteúdos fundamentais da fé, que têm no Catecismo da Igreja Católica a sua síntese sistemática e orgânica. Nele, de fato, sobressai a riqueza de doutrina que a Igreja acolheu, guardou e ofereceu durante os seus dois mil anos de história. Desde a Sagrada Escritura aos Padres da Igreja, desde os Mestres de teologia aos Santos que atravessaram os séculos, o Catecismo oferece uma memória permanente dos inúmeros modos em que a Igreja meditou sobre a fé e progrediu na doutrina para dar certeza aos crentes na sua vida de fé.
Na sua própria estrutura, o Catecismo da Igreja Católica apresenta o desenvolvimento da fé até chegar aos grandes temas da vida diária. Repassando as páginas, descobre-se que o que ali se apresenta não é uma teoria, mas o encontro com uma Pessoa que vive na Igreja. Na verdade, a seguir à profissão de fé, vem a explicação da vida sacramental, na qual Cristo está presente e operante, continuando a construir a sua Igreja. Sem a liturgia e os sacramentos, a profissão de fé não seria eficaz, porque faltaria a graça que sustenta o testemunho dos cristãos. Na mesma linha, a doutrina do Catecismo sobre a vida moral adquire todo o seu significado, se for colocada em relação com a fé, a liturgia e a oração.

12. Assim, no Ano em questão, o Catecismo da Igreja Católica poderá ser um verdadeiro instrumento de apoio da fé, sobretudo para quantos têm a peito a formação dos cristãos, tão determinante no nosso contexto cultural. Com tal finalidade, convidei a Congregação para a Doutrina da Fé a redigir, de comum acordo com os competentes Organismos da Santa Sé, uma Nota, através da qual se ofereçam à Igreja e aos crentes algumas indicações para viver, nos moldes mais eficazes e apropriados, este Ano da Fé ao serviço do crer e do evangelizar.
De fato, em nossos dias mais do que no passado, a fé vê-se sujeita a uma série de interrogativos, que provêm duma diversa mentalidade que, hoje de uma forma particular, reduz o âmbito das certezas racionais ao das conquistas científicas e tecnológicas. Mas, a Igreja nunca teve medo de mostrar que não é possível haver qualquer conflito entre fé e ciência autêntica, porque ambas, embora por caminhos diferentes, tendem para a verdade.[22]

13. Será decisivo repassar, durante este Ano, a história da nossa fé, que faz ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado. Enquanto a primeira põe em evidência a grande contribuição que homens e mulheres prestaram para o crescimento e o progresso da comunidade com o testemunho da sua vida, o segundo deve provocar em todos uma sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos.
Ao longo deste tempo, manteremos o olhar fixo sobre Jesus Cristo, «autor e consumador da fé» (Hb 12, 2): n’Ele encontra plena realização toda a ânsia e anélito do coração humano. A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão face à ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte, tudo isto encontra plena realização no mistério da sua Encarnação, do seu fazer-Se homem, do partilhar conosco a fragilidade humana para a transformar com a força da sua ressurreição. N’Ele, morto e ressuscitado para a nossa salvação, encontram plena luz os exemplos de fé que marcaram estes dois mil anos da nossa história de salvação.
Pela fé, Maria acolheu a palavra do Anjo e acreditou no anúncio de que seria Mãe de Deus na obediência da sua dedicação (cf. Lc 1, 38). Ao visitar Isabel, elevou o seu cântico de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizava em quantos a Ele se confiavam (cf. Lc 1, 46-55). Com alegria e trepidação, deu à luz o seu Filho unigênito, mantendo intacta a sua virgindade (cf. Lc 2, 6-7). Confiando em José, seu Esposo, levou Jesus para o Egito a fim de O salvar da perseguição de Herodes (cf. Mt 2, 13-15). Com a mesma fé, seguiu o Senhor na sua pregação e permaneceu a seu lado mesmo no Gólgota (cf. Jo 19, 25-27). Com fé, Maria saboreou os frutos da ressurreição de Jesus e, conservando no coração a memória de tudo (cf. Lc 2, 19.51), transmitiu-a aos Doze reunidos com Ela no Cenáculo para receberem o Espírito Santo (cf. At 1, 14; 2, 1-4).
Pela fé, os Apóstolos deixaram tudo para seguir o Mestre (cf. Mc 10, 28). Acreditaram nas palavras com que Ele anunciava o Reino de Deus presente e realizado na sua Pessoa (cf. Lc 11, 20). Viveram em comunhão de vida com Jesus, que os instruía com a sua doutrina, deixando-lhes uma nova regra de vida pela qual haveriam de ser reconhecidos como seus discípulos depois da morte d’Ele (cf. Jo 13, 34-35). Pela fé, foram pelo mundo inteiro, obedecendo ao mandato de levar o Evangelho a toda a criatura (cf. Mc 16, 15) e, sem temor algum, anunciaram a todos a alegria da ressurreição, de que foram fiéis testemunhas.
Pela fé, os discípulos formaram a primeira comunidade reunida à volta do ensino dos Apóstolos, na oração, na celebração da Eucaristia, pondo em comum aquilo que possuíam para acudir às necessidades dos irmãos (cf. At 2, 42-47).
Pela fé, os mártires deram a sua vida para testemunhar a verdade do Evangelho que os transformara, tornando-os capazes de chegar até ao dom maior do amor com o perdão dos seus próprios perseguidores.
Pela fé, homens e mulheres consagraram a sua vida a Cristo, deixando tudo para viver em simplicidade evangélica a obediência, a pobreza e a castidade, sinais concretos de quem aguarda o Senhor, que não tarda a vir. Pela fé, muitos cristãos se fizeram promotores de uma ação em prol da justiça, para tornar palpável a palavra do Senhor, que veio anunciar a libertação da opressão e um ano de graça para todos (cf. Lc 4, 18-19).
Pela fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas as idades, cujo nome está escrito no Livro da vida (cf. Ap 7, 9; 13, 8), confessaram a beleza de seguir o Senhor Jesus nos lugares onde eram chamados a dar testemunho do seu ser cristão: na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos carismas e ministérios a que foram chamados.
Pela fé, vivemos também nós, reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história.

14. O Ano da Fé será uma ocasião propícia também para intensificar o testemunho da caridade. Recorda São Paulo: «Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade» (1Cor 13, 13). Com palavras ainda mais incisivas – que não cessam de empenhar os cristãos –, afirmava o apóstolo Tiago: «De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome”, mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta. Mais ainda! Poderá alguém alegar sensatamente: “Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me então a tua fé sem obras, que eu, pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé”» (Tg 2, 14-18). 
A fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente à outra realizar o seu caminho. De fato, não poucos cristãos dedicam amorosamente a sua vida a quem vive sozinho, marginalizado ou excluído, considerando-o como o primeiro a quem atender e o mais importante a socorrer, porque é precisamente nele que se espelha o próprio rosto de Cristo. Em virtude da fé, podemos reconhecer naqueles que pedem o nosso amor o rosto do Senhor ressuscitado. «Sempre que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40): estas palavras de Jesus são uma advertência que não se deve esquecer e um convite perene a devolvermos aquele amor com que Ele cuida de nós. É a fé que permite reconhecer Cristo, e é o seu próprio amor que impele a socorrê-Lo sempre que Se faz próximo nosso no caminho da vida. Sustentados pela fé, olhamos com esperança o nosso serviço no mundo, aguardando «novos céus e uma nova terra, onde habite a justiça» (2Pd 3, 13; cf. Ap 21, 1).

15. Já no termo da sua vida, o apóstolo Paulo pede ao discípulo Timóteo que «procure a fé» (cf. 2Tm 2, 22) com a mesma constância de quando era novo (cf. 2Tm 3, 15). Sintamos este convite dirigido a cada um de nós, para que ninguém se torne indolente na fé. Esta é companheira de vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós. Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da história, a fé obriga cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo. Aquilo de que o mundo tem hoje particular necessidade é o testemunho credível de quantos, iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o coração e a mente de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira, aquela que não tem fim.

Que «a Palavra do Senhor avance e seja glorificada» (2Ts 3, 1)! Possa este Ano da Fé tornar cada vez mais firme a relação com Cristo Senhor, dado que só n’Ele temos a certeza para olhar o futuro e a garantia dum amor autêntico e duradouro. As seguintes palavras do apóstolo Pedro lançam um último jorro de luz sobre a fé: «É por isso que exultais de alegria, se bem que, por algum tempo, tenhais de andar aflitos por diversas provações; deste modo, a qualidade genuína da vossa fé – muito mais preciosa do que o ouro perecível, por certo também provado pelo fogo – será achada digna de louvor, de glória e de honra, na altura da manifestação de Jesus Cristo. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, credes n’Ele e vos alegrais com uma alegria indescritível e irradiante, alcançando assim a meta da vossa fé: a salvação das almas» (1Pd 1, 6-9). A vida dos cristãos conhece a experiência da alegria e a do sofrimento. Quantos Santos viveram na solidão! Quantos crentes, mesmo em nossos dias, provados pelo silêncio de Deus, cuja voz consoladora queriam ouvir! As provas da vida, ao mesmo tempo que permitem compreender o mistério da Cruz e participar nos sofrimentos de Cristo (cf. Cl 1, 24) , são prelúdio da alegria e da esperança a que a fé conduz: «Quando sou fraco, então é que sou forte» (2Cor 12, 10). Com firme certeza, acreditamos que o Senhor Jesus derrotou o mal e a morte. Com esta confiança segura, confiamo-nos a Ele: Ele, presente no meio de nós, vence o poder do maligno (cf. Lc 11, 20); e a Igreja, comunidade visível da sua misericórdia, permanece n’Ele como sinal da reconciliação definitiva com o Pai.

À Mãe de Deus, proclamada «feliz porque acreditou» (cf. Lc 1, 45), confiamos este tempo de graça.

Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 11 de Outubro do ano 2011, sétimo de Pontificado.

BENEDICTUS PP. XVI



[1] Homilia no início do ministério petrino do Bispo de Roma (24 de Abril de 2005): AAS 97 (2005), 710.
[2] Cf. Bento XVI, Homilia da Santa Missa no Terreiro do Paço (Lisboa – 11 de Maio de 2010): L’Osservatore Romano (ed. port. de 15/V/2010), 3.
[3] Cf. João Paulo II, Const. ap. Fidei depositum (11 de Outubro de 1992): AAS 86 (1994), 113-118.
[4] Cf. Relação final do Sínodo Extraordinário dos Bispos (7 de Dezembro de 1985), II, B, a, 4: L’Osservatore Romano (ed. port. de 22/XII/1985), 650.
[5] Paulo VI, Exort. ap. Petrum et Paulum Apostolos, no XIX centenário do martírio dos Apóstolos São Pedro e São Paulo (22 de Fevereiro de 1967): AAS 59 (1967), 196.
[6] Ibid.: o.c., 198.
[7] Paulo VI, Profissão Solene de Fé, Homilia durante a Concelebração por ocasião do XIX centenário do martírio dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, no encerramento do «Ano da Fé» (30 de Junho de 1968): AAS 60 (1968), 433-445.
[8] Paulo VI, Audiência Geral (14 de Junho de 1967): Insegnamenti, V (1967), 801.
[9] João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 57: AAS 93 (2001), 308.
[10] Discurso à Cúria Romana (22 de Dezembro de 2005): AAS 98 (2006), 52.
[11] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 8.
[12] De utilitate credendi, 1, 2.
[13] Cf. Confissões, 1, 1.
[14] Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, 10.
[15] Cf. João Paulo II, Const. ap. Fidei depositum (11 de Outubro de 1992): AAS 86 (1994), 116.
[16] Santo Agostinho, Sermo 215, 1.
[17] Catecismo da Igreja Católica, 167.
[18] Cf. Conc. Ecum. Vat. I, Const. dogm. sobre a fé católica Dei Filius, cap. III: DS 3008-3009; Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Revelação divina Dei Verbum, 5.
[19] Bento XVI, Discurso no «Collège des Bernardins» (Paris, 12 de Setembro de 2008): AAS 100 (2008), 722.
[20] Cf. Santo Agostinho, Confissões, 13, 1.
[21] Const. ap. Fidei depositum (11 de Outubro de 1992): AAS 86 (1994), 115 e 117.
[22] Cf. João Paulo II, Carta enc. Fides et ratio (14 de Setembro de 1998), 34.106: AAS 91 (1999), 31-32.86-87.
Motu proprio é uma normativa da Igreja Católica, expedido diretamente pelo Papa. A expressão motu proprio poderia ser traduzida como "de sua iniciativa própria". Significa ainda que trata-se de matéria decidida pessoalmente pelo papa e não por um cardeal ou outro conselheiro. Tem normalmente a forma de decreto. Lembram, pela sua forma, um bula papal (outra espécie normativa) mas sem se revestir da solenidade própria destes documentos.

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